De quando em quando, surge em Portugal a ideia do regresso da Formula 1, e de quanto é que custa investir nesse projeto, agora que existe um autódromo de topo de gama como Portimão. E quem faz muito "lobby" nese sentido é o presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP), Carlos Barbosa, que na última eleição da FIA, se tornou num dos vice-presidentes de Jean Todt na área do WRC, provavelmente para recompensar o trabalho que anda a fazer no Rali de Portugal.
Em declarações captadas pela Autosport portuguesa, defendeu que o Estado deveria apoiar o seu regresso, investindo entre os 15 e os 25 milhões de euros por ano, pois o retorno seria dez vezes maior: “O Estado devia pensar seriamente em investir na Formula 1 porque a Formula 1 é uma plataforma enorme de divulgação de um país e investir entre 15 e 25 milhões garantir-lhe-ia, à vontade, ter um retorno de 200/300 milhões. Aliás, o estado gasta tanto dinheiro mal gasto em despesismo que, se calhar, 25 milhões são trocos no Orçamento Geral do Estado e que podiam trazer 200 milhões para Portugal”, começou por comentar.
Barbosa dá o exemplo do Rali de Portugal que “este ano deu mais de 100 milhões de retorno para um investimento do Estado de 1,5 milhões”, tendo ficado todo o restante investimento a cargo de patrocinadores privados, sendo a Vodafone o investidor principal. E ele afirma que “a Formula 1 pode voltar a Portugal quando quisermos. É apenas uma questão de dinheiro”.
Contudo, apesar desta prespectiva, é realista em relação a alguns factores, nomeadamente a crise económica que o pais atravessa e a fama de o Estado ser um mau pagador. E isso são grandes obstáculos para o regresso da Formula 1: “Há pouco tempo tive uma conversa com o Bernnie Ecclestone em que ele me disse que gostava de vir a Portugal negociar a Formula 1. Depois disso já falei com as entidades de direito e percebi que, neste momento, não há dinheiro mas, quer da parte do Ecclestone, quer da parte da FIA, há vontade. Aliás, o Luiz de Freitas [presidente da FPAK morto em abril deste ano] chegou a fazer um excelente trabalho nesse sentido e podíamos ter tido hipóteses mas depois veio cá a GP2 e não pagámos o acordado e está tudo embrulhado em tribunal. Portanto, nesta altura, não me vou comprometer com Ecclestone a pagar 15 ou 20 milhões de euros para depois o Estado falhar o pagamento”, concluiu.
Primeiro que tudo: o Carlos Barbosa é conhecido por ser uma pessoa sem papas na língua. Sabe o que o Estado é capaz de fazer, mas o tacto politico dele é o equivalente a um rinoceronte numa loja de porcelana. A ideia do Estado estar a investir 15 ou vinte milhões de euros por ano, numa altura em que há cortes de pensões e salários, para além de despedimentos e "downsizing" no funcionalismo público, é quase obsceno, especialmente nos partidos de esquerda.
O segundo grande motivo foi dito pelo próprio Carlos Barbosa: o estado não cumpre com as suas promessas. Apesar deste colocar todos os anos cerca de 1,5 milhões de euros, através do Turismo de Portugal, para investir no Rali de Portugal, os pagamentos estão sempre atrasados, chegando por vezes a passar mais de um ano e a organização do ACP reclama que têm pagamentos em atraso. E o grande culpado? O Estado.
Toda a gente sabe que Ecclestone, quando negoceia a chegada de algum Grande Prémio, negoceia com os Estados e não com as entidades privadas. A razão? É a melhor garantia do que as entidades privadas, por exemplo. E quando falo de "estados", não é só os nacionais, são os regionais. O GP da Europa em Valência foi um projeto da Generalitat local, que graças a isso, está em situação de pré-falência e o circuito encontra-se abandonado à sua própria sorte, como é sabido. E a mesma coisa acontece na Coreia do Sul, naquele autódromo que está "no meio de nenhures" e do qual o pagamento foi garantido pela região de Jeolla, onde ele está sediado.
Assim sendo, se Portugal fosse uma entidade federal, provavelmente um "governo regional do Algarve" iria assumir as despesas de uma coisa dessas, sabendo do retorno, pois se situa numa região eminentemente turística. Mas como é um estado centralista e tudo têm de ser discutido em Lisboa, essa hipótese não se coloca. Não até ao regresso das vacas gordas... que provavelmente não terão mais a companhia de Berie Ecclestone neste Planeta Terra.