(...) em 1914, a [Peugeot] era rei e senhor nas pistas mundiais. No ano anterior, tinham dominado a competição, tendo sido o primeiro construtor estrangeiro a ganhar as 500 Milhas de Indianápolis, através do francês Jules Goux. Para além dele, a equipa tinha outro francês: Georges Boillot. Os carros eram desenhados por uma equipa que incluía um emigrado italiano, Ettore Bugatti, que iniciava a sua carreira como engenheiro e construtor. Em maio de 1914, a Peugeot tinha voltado a Indianápolis, no sentido de tentar repetir a proeza, e conseguiram, batendo a concorrência americana. Mas carro vencedor não foi um carro oficial, mas sim a inscrição privada de outro francês, René Thomas (...)
(...) Por essa altura, o Automobile Club de France fazia a sua seleção para o lugar onde iria realizar o seu Grande Prémio. Tirando as edições de 1907 e 08, que repetiu em Dieppe, e a edição de 1909, que foi cancelada, devido à falta de inscrições, a corrida sempre andou de terra em terra, fixando-se na melhor oferta, devido à movimentação que o automobilismo trazia às cidades em questão. Para 1914, a escolha final, das dezenas de cidades candidatas, acabou por ser a de Lyon, pois estes concederam mais de 10 mil libras de subsídios, uma fortuna na época. Assim sendo, a data da corrida ficou marcada para o dia 4 de Julho. (...)
(...) A Alemanha representava-se pela Opel, que tinha Franz Breckheimer, Carl Jörns e Emile Erndtmann, mas o maior perigo vinha da Mercedes. Decidiram investir tudo nesta corrida, no sentido de repetir o feito de seis anos antes. Inscreveram cinco carros, quatro oficiais, para os alemães Max Sailer, Christian Lautenschlager e Otto Salzer, o francês Louis Wagner e o belga Theodore Pilette, que era o representante da marca no seu país. Durante a Primavera visitaram em detalhe o circuito, montaram o seu quartel-general na cidade e usaram profusamente os dois dias de treinos para afinar a melhor estratégia possível. Tinham até uma arma secreta: os novos pneus Continental, que eram bem mais resistentes do que os da concorrência, especialmente os Peugeot, que tinham pneus Dunlop. Chegou-se até a noticiar que a Mercedes colocou este aviso na ordem do dia: “Por razões de propaganda, a Mercedes decidiu ganhar este ano o Grande Prémio” (...)
(...) o “Grand Prix de France” estava marcado para o dia 4 de Julho. Contudo, poucos dias antes, a 28 de Junho, a politica entra em cena: o Arquiduque herdeiro da Áustria, Francisco Fernando, é morto na cidade de Sarajevo pelo anarquista sérvio Gavrilo Princip. A partir de então, a crise instala-se na Europa e todos sabiam que caso o sistema de alianças então vigente entrasse em vigor, milhões de pessoas pegariam em armas numa questão de dias… Agora, já não era mais uma corrida, mas sim a primeira batalha de uma futura guerra europeia. (...)
Faz hoje precisamente cem anos. Nos arredores de Lyon, mais de trezentas mil pessoas esperavam por uma vitória francesa no seu Grande Prémio, contra a ameaça da armada Mercedes, que queria vencer "na casa do inimigo". A equipa de Estugarda tinha uma tática de "lebre", lançando um dos seus carros na frente no sentido de que os carros franceses o tentassem alcançar, destruindo-se pelo caminho. E foi o que aconteceu, quando Otto Salzer foi para a frente, com a armada Peugeot, liderada por Jules Goux e Georges Boillot a ir atrás deles, dando o seu melhor para o apanhar.
Contudo, nessa perseguição, os Peugeot destruiram-se e apesar dos esforços de Boillot, no final, a Mercedes monopolizou o pódio, com Christian Lautenschlager na frente, perante uma multidão em silêncio, não querendo acreditar na humilhação que tinham assistido. Mas também tinham assistido ao final de uma era: quatro semanas depois, a Europa estava a ferro e fogo.
Toda esta fascinante história pode ser lida agora no site "Nobres do Grid".
Contudo, nessa perseguição, os Peugeot destruiram-se e apesar dos esforços de Boillot, no final, a Mercedes monopolizou o pódio, com Christian Lautenschlager na frente, perante uma multidão em silêncio, não querendo acreditar na humilhação que tinham assistido. Mas também tinham assistido ao final de uma era: quatro semanas depois, a Europa estava a ferro e fogo.
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