(continuação do capitulo anterior)
AS CORRIDAS AMERICANAS: VANDERBILT CUP
Se as coisas na Europa pareciam que estavam a degradar-se em termos económicos, no outro lado do Atlântico, conhecia-se uma expansão e um aumento de interesse nas corridas automobilísticas. Contudo, ao contrário do que se passava em França, Alemanha ou Itália, nos Estados Unidos haviam duas entidades organizadoras das provas automobilisticas: a ACA (Automóvel Clube da América) mais antiga e que seguia o modelo europeu das corridas. Esta, no inicio da década, tinha sido superada em termos de organização e de popularidade pela AAA (Associação Automobilística Americana), que era apoiada por pessoas como William K. Vanderbilt, e que por isso organizava a Vanderbilt Cup desde 1905, com sucesso.
Contudo, apesar da Vanderbilt Cup ser um sucesso de corrida e de público, havia problemas: a organização não conseguia controlar os espectadores que invadiam a pista após as corridas. O problema era tão consistente que estes decidiram cancelar a edição de 1907, pensando em maneiras melhores em controlar os espectadores. Em 1908 decidiram reativar a Vanderbilt Cup, mas a AAA decidiu não obedecer ao novo regulamento, mantendo o anterior, apesar dos protestos dos clubes e das marcas europeias.
Isso foi aproveitado pela ACA para fazer algo totalmente novo: o Grande Prémio da América, que iria ser corrido na cidade de Savannah, na Georgia, num circuito desenhado para o efeito, e com um policiamento mais eficaz do que acontecia em Nova Iorque. Assim sendo, os europeus decidiram boicotar a Vanderbilt Cup e aderir com entusiasmo à corrida da ACA, que iria acontecer no dia de Ação de Graças, um mês depois da Vanderbilt Cup.
Assim sendo, a primeira corrida, marcada para o dia 24 de outubro, estava cheia de pilotos americanos, nem sempre em carros americanos: a Mercedes tinha três carros, com Foxhall Keane, Karl Klaus Lutgen e Emil Stricker; a Isotta levava um carro, para Herb Lyttle, um Renault para Lewis Strang. Em carros americanos, estavam os Thomas de George Salzmann, Joe Seymour e Paul Gill; o Acme de Cyrus Patchke; os Knox de Al Dennison e William A. Bourque, os Matheson de Louis Chevrolet e Ryall, e os Locomobile de Joe Robertson e Joe Florida.
A corrida, feita em Long Island, mas com um novo traçado, foi dominada por Joe Robertson, que conseguiu vencer com dois minutos de vantagem sobre Herb Lyttle. Robertson, então com 23 anos, tornou-se no primeiro herói automobilístico americano, pois tinha sido o primeiro a vencer nos Estados Unidos, com um carro americano. E claro, isso aumentou as vendas da marca, graças a esse feito.
AS CORRIDAS AMERICANAS: GP DA AMÉRICA
Um mês depois, a corrida da ACA estava pronta para receber os melhores pilotos americanos, e a fina-flor do automobilismo europeu. O circuito, com 40 quilómetros de extensão, tinha sido preparada para receber os carros, com a superficie melhorada, as bermas limpas e no dia da corrida, os cruzamentos estavam fechados e patrulhados por soldados e policias, que tinham ordens precisas para manter a multidão sob controlo. A corrida teria um total de 16 voltas, com os pilotos a precorrerem ao todo cerca de 650 quilómetros.
Os italianos traziam seis carros, três Fiat, guiados por Felice Nazzaro, o francês Louis Wagner e o americano Ralph de Palma; e três Itala, guiados por Alessandro Cagno, Giovanni Piacenza e o francês Henri Fournier. Já do lado francês, havia dois Renault, guiados por Ferenc Szisz e o americano Lewis Strang, dois Clement-Bayard, guiados por Lucien Hautvast e Victor Rigal e um De Dietrich, guiado pelo belga Arthur Duray. Do lado alemão havia três Benz, guiados pelo alemão Fritz Erle, e os franceses Victor Hémery e René Hanriot.
Havia seis pilotos americanos inscritos, a guiar carros americanos: Ralph Mulford guiava um Lozier, Joe Seymour um Simplex, Hugh Harding um National, Bob Burman um Buick, Len Zengle um Acme e Willie Haupt, num Chadwick.
A corrida começou com Ralph de Palma a comandar, para alegria dos locais. Ele esteve na frente nas duas primeiras voltas, até começar a sentir problemas mecânicos no seu carro e a ser superado pelo Benz de Hanriot. e no final da terceira volta, os cinco primeiros andavam juntos, com o Benz de Hanriot na frente, seguido pelo Renault de Szisz, o Fiat de Wagner, o segundo Benz de Hémery e o segundo fiat de Nazzaro.
A partir dali, a liderança passou muitas vezes de mãos, até que à entrada da 16ª e última volta, Nazzaro liderava, mas o seu companheiro Wagner e Hemery não estavam muito atrás. Contudo, a 25 quilómetros da meta, um dos pneus do carro de Nazarro rebentou e atrasou-se, dando a vitória a Wagner, com um avanço de 56,4 segundos sobre Hémery. Felice Nazzaro ficou com o lugar mais baixo do pódio, onde o melhor carro francês foi o Clement-Bayard de Lucien Hautvast, no quinto lugar, e o melhor americano foi o Simplex de Joe Seymour, a uma volta do vencedor.
Apesar da corrida ter sido um sucesso de público e ter sido popular para os pilotos, a demonstração de superioridade por parte das máquinas europeias preocupou os americanos, pois os seus carros não tinham hipóteses de competir contra os europeus. Mas isso não os impediu de continuarem a apostar no automobilismo, pois a popularidade aumentava e continuava a ser uma montra para a demonstração da sua tecnologia.
(continua no capitulo seguinte)