Houve partidas. Os fãs sentem a falta de Fernando Alonso que, desde 2002, não irá entrar num carro de Formula 1 - exceptuando aquele GP do Mónaco de 2017 que trocou por uma aventura no "Brickyard" de Indianápolis. Alonso foi ser feliz noutras paragens, querendo ganhar de novo em Le Mans e ser campeão da Endurance, enquanto tenta outra vez vencer em paragens americanas. Depois disso, deverá faltar Bathurst, umas temporadas a andar em carros elétricos, subir o Pikes Peak... quem sabe? Ser o mais completo possivel, ter uma entrada única nos livros de História do automobilismo.
Mas também houve regressos. Ver de novo o letreiro de Robert Kubica na parede das boxes é um triunfo da força de vontade, depois daquele acidente em que quase perdeu o seu braço, num rali italiano, há oito anos. Muita gente aplaude este regresso, mesmo que seja numa Williams que parece ter batido no fundo do pelotão.
Depois de ver os testes de pré-temporada, todos ficaram com dúvidas sobre se iria ser mais do mesmo ou iria ser uma luta entre três equipas pelo ceptro máximo. Todos esperavam pelo segundo, pois assim iria ser uma temporada bem mais interessante que as últimas, e que iria excitar os fãs e incendiar as redes sociais.
Era esse o espírito que todos tinham quando chegaram a Melbourne, como de alunos que se preparavam para o primeiro dia de aulas. Mas de repente, numa quinta-feira de manhã, souberam que
Charlie Whitting tinha morrido. De repente, sem avisar. Foi como o continuo favorito, a pessoa que zelava pelo funcionamento da escola e era simpático para todos, não estivesse mais. Um dos "Bernie boys" dos tempos da Brabham, tinha 66 anos e todos sentiram a sua ausência, pois ocupava o mesmo lugar há 22 anos. Uma coisa é saber que o Bernie Ecclestone não está mais a mandar, mas goza a reforma, outra é alguém que não iria reformar tão cedo, mas que passou à história, durante a noite, e sem avisar. De uma certa maneira, é uma era que desaparecia, e todos sentiam a sua falta.
Foi um pouco com esse aperto no coração que rumaram para a primeira qualificação do ano, em pleno dia no sul da Austrália, final do dia na Califórnia, meio da noite na Europa. Logo nos primeiros metros, pudemos ver que os piores receios se confirmaram. Para a Williams. Não só ficou com os dois últimos lugares da grelha, como ficou muito para trás até e relação a 2018. Robert Kubica ficou, no final de tudo, seis segundos mais lento que o poleman, no final dessa qualificação. Tinha ouvido da parte do
George Russell, seu companheiro de equipa, que esperavam ficar dentro dos 107 por cento, mas julgava que era uma piada. Afinal... ia sendo real. Que péssimo começo, e pelos vistos, vai ser uma temporada muito difícil para a equipa de Grove.
Na frente, os Ferrari meterem os seus carros em primeiro lugar, fazendo bons tempos com os pneus médios. A primeira volta de
Sebastian Vettel foi de 1.23,891, antes de
Charles Leclerc melhorar, fazendo 1.23,326. Contudo, o Toro Rosso de
Daniil Kvyat tentou marcar uma volta com pneus macios... e foi melhor, por meros 13 centésimos.
Depois, vieram os Mercedes, e primeiro Hamilton, depois Bottas, chegaram ao topo da tabela de tempos e começaram a mostrar ao que vinha: ficar na frente de toda a gente. O tempo baixou do 1.22,681 da primeira tentativa de Hamilton para o 1.22,387 do finlandês, na sua segunda tentativa, com pneus macios. E pelo meio, o Racing Point de
Sergio Perez, que foi terceiro, a dois décimos do carro da Mercedes.
No final da Q1, para acompanhar os pobres das Williams, três surpresas: o Red Bull de
Pierre Gasly, o Racing Point de
Lance Stroll e o McLaren de
Carlos Sainz. O que demonstra a existência de um meio do pelotão muito, mas muito equilibrado. E sem um dos Red Bull, mais chances para os do meio de fazer um brilharete na Q3.
Na Q2, esse equilíbrio no meio do pelotão começou a ser visto na parte final da sessão, depois de Hamilton ter feito 1.21,014 e descido o recorde de pista. Na confusão, viu-se que os Haas se saíram melhor, e surpreendentemente,
Lando Norris colocou o seu McLaren no "top ten", bem como
Kimi Raikkonen, no seu Sauber Alfa Romeo. De fora ficaram ambos os Renault, os dois Toro Rosso e o Sauber Alfa de
Antonio Giovinazzi.
Se o equilíbrio até poderia ser a norma nas duas primeiras partes, qualquer ilusão sobre a última estilhaçou-se quando se viram as prestações da Mercedes. Primeiro, Hamilton faz 1.21,055 e marcava novo recorde da pista, acompanhado por Valtteri Bottas... que baixou do 1.21, fazendo 1.20,598 e ficou no topo da tabela de tempos. A hierarquia ameaçava inverter-se...
Mas houve reação. Hamilton calçou os moles e baixou para 1.20,486, baixando o recorde da pista, e no meio disto tudo, a Ferrari não foi capaz de os acompanhar. Pior: Charles Leclerc perdeu tempo na sua volta rápida e apenas conseguiu o quinto melhor tempo, superado por Max Verstappen... e o último a ficar a menos de um segundo da pole-position.
No final, mais que as Mercedes a monopolizar a primeira linha, foi a distância entre eles e a concorrência: 704 centésimos para Sebastian Vettel. Parece que vêm aí uma temporada de domínio dos Flechas de Prata e os outros ficam com os restos? Se sim, será uma longa e agonizante temporada...
Veremos como será mais logo, em mais uma longa madrugada como esta que passou.