Uma semana depois dos eventos em Monza, a Formula 1 continuava com o seu "The Grand Tour" em terras italianas. E desta vez, numa pista totalmente nova para todos, com a prova de Mugello, o GP da Toscania. Uma prova especial, em muitos aspectos. Oficialmente, era a corrida numero mil para a Ferrari, e tinha uma decoração especial para a ocasião, e o Safety Car da Mercedes tinha sido pintado de vermelho, para homenagear o seu rival na categoria máxima do automobilismo. Claro, mas más línguas trataram logo de dizer que, caso alguém batesse, iria ser a única vez que veriamos um carro vermelho na frente da prova...
Debaixo de sol e calor, nas montanhas dos Apeninos, havia uma novidade: três mil espectadores foram autorizados a assistir à corrida, fazendo dela a primeira prova do ano com espectadores. Demorou nove provas, mas com Sochi e Portimão também a autorizar a presença de público nas bancadas, é de uma certa forma, um regresso á normalidade, mesmo com o aumento de casos por estes dias um pouco por todo o mundo.
Contudo, a pista era estreita e tinha gravilha nas escapatórias, logo, as chances de erro dos pilotos eram muito curtas, quase mínimas. E de uma certa forma, era quase uma profecia para o que viria aí, e o que irão ler nas linhas seguintes: uma corrida com três largadas, carambolas, o típico vencedor e a desgraça dos carros vermelhos, num "Gran Premio Vergogna Due" debaixo do sol de uma das mais belas regiões de Itália.
E para começar, Lewis Hamilton não esqueceu que está em luta pela justiça, quando vestiu uma t-shirt apelando à detenção dos policias que abateram Breonna Taylor, uma das razões pelo "Black Lives Matter" deste ano, cujo homicídio aconteceu há seis meses.
Na partida, Bottas passou Hamilton, com Leclerc também a começar muito bem, subindo para terceiro, enquanto ao mesmo tempo, Max Verstappen era engolido pelo pelotão, e isso acabou por ser fatal. Quatro curvas depois da largada, o holandês era pressionado por Pierre Gasly e Antonio Giovinazzi, ao mesmo tempo que o McLaren de Carlos Sainz Jr. entrou em pião depois de tocar no Racing Point de Lance Stroll e apesar de ter ficado intacto, Sebastian Vettel tocou nele, danificando a asa dianteira.
Resultado final: Safety Car em pista, logo na primeira volta. Vettel e Raikkonen foram trocar de narizes, enquanto para Verstappen e Gasly, o vencedor de Monza, as suas corridas acabaram ali.
Nos minutos que se passaram, os carros foram preparados enquanto se via que a estreiteza da pista tinha feito os estragos que todos temiam. De uma certa forma, era o regresso aos anos 80 do século passado, o que também mostrava que os pilotos pouco ou nada têm sangue frio nestas primeiras curvas, mal habituados a este tipo de pista, de uma certa forma. Claro, para o espectador, que na realidade gosta é de ver o circo a arder, isto dava um motivo de satisfação. O que não fazia ideia é que mais iria acontecer a seguir. Tão a seguir que até ficaria chocado.
É que a segunda partida durou... segundos. Os pilotos andavam lentos em plena reta, especialmente os Mercedes, pois Bottas não queria ser surpreendido por Hamilton. Só que atrás, no meio do pelotão, víamos caos: Antonio Giovinazzi e Carlos Sainz Jr aceleravam antes da linha para surpreender e acabaram surpreendidos, pois o italiano apanhou em cheio os carros de Nicholas Lattifi e de Kevin Magnussen. O espanhol também abrandou e acabou por ser mais uma vítima, acabando ali a sua corrida. A confusão foi enorme, e à frente de tudo e todos, e claro, havia novo Safety Car. Mas com todos aqueles destroços, a bandeira vermelha tinha de ser mostrada, inevitavelmente. A estreiteza da pista fazia lembrar os eventos do GP da Áustria de 1987.
O bom e velho caos. E claro, dos que foram ao pódio em Monza, só sobrava nesta altura Lance Stroll.
Em pouco mais de quatro curvas de corrida a sério - na realidade, estávamos na volta oito - só havia catorze carros na pista, e ficou pior porque durante os procedimentos para nova largada, os travões de Esteban Ocon tinham falhado e ele ficou definitivamente nas boxes. Ou seja, apenas treze carros iriam alinhar na segunda largada, 45 minutos depois da inicial é que haveria nova partida. E quando aconteceu, todos partiriam de moles, excepto os Mercedes, Raikkonen e George Russell, que iam de médios.
Na segunda partida, Hamilton ficou de fora da curva para ficar com a liderança, enquanto Leclerc aguentava os Racing Points e Alex Albon, que caia algumas posições, para sétimo. Duas voltas nesta nova patida, e ele já tinham um avanço de cinco segundos sobre Leclerc, que era pressionado por Stroll. Na volta 15, Ricciardo passou Perez e agora era quinto, e três voltas depois, era Stroll que passava Lelcerc e ficava com o terceiro lugar.
Aliás, o monegasco estava a ser engolido pelo pelotão, pois Ricciardo tinha ficado com o seu quarto posto, e depois, Alex Albon era quinto, depois de passar o carro numero 16. O carro vermelho, que comemorava os mil GP's, não tinha velocidade em reta. Aniversário triste... Na volta 22, o monegasco foi às boxes, trocou para duros, tentando ver se ele ia atá ao fim.
Por esta altura, a diferença entre os Mercedes e Lance Stroll era de 13 segundos, um calendário em termos de Formula 1 atual, enquanto George Russell era nono, com Sebastian Vettel... a ir para trás. Mas por esta altura, os pilotos trocavam de pneus, a partir de volta 28. E na volta 31, Bottas trocaa para duros, uma volta antes de Hamilton, mas nada mudou. Quem aproveitava bem era Ricciardo, que era terceiro, na frente de Stroll. Abiteboul, prepare as suas costas...
Contudo, depois de passar algumas voltas, o piloto da Renault começou a ser pressionado por Stroll e Albon. O canadiano ia ao seu limite, mas na volta 45, ele perdeu o controlo do seu carro e bateu forte na barreira de pneus. Ele estava bem, mas ele tinha de ser retirado dali, logo, o Safety Car foi chamado, antes da bandeira vermelha ser mostrada pela segunda vez nesta prova. Para terem ideia, era algo no qual não se via desde o GP do Brasil de 2016.
Na terceira largada, Bottas perdeu tempo e o segundo posto para Ricciardo, mas depois recuperou o lugar na volta seguinte. Albon passou a atacar o piloto da Renault, e conseguiu passá-lo na volta 51, e as costas de Abiteboul foram salvas, mais uma vez.
No final, foi uma dobradinha. Digamos que foi o resultado expectável, um pouco como aquela frase do Tomaso de Lampedusa, onde se muda tudo para que as coisas fiquem na mesma, mas claro, houve novidades. Comemoremos o pódio do Albon, aplaudamos os primeiros pontos do ano do Raikkonen, emputecemos com os resultados abismais da Ferrari e fiquemos tristes pelo resultado do Russell. Foi assim esta corrida em Mugello, espero voltar a ver no calendário, mas não creio.
Agora, descansemos duas semanas, porque a seguir temos Sochi.