terça-feira, 3 de março de 2009

Situações excepcionais requerem pilotos excepcionais

Andei a ler hoje os vários blogs comentando a eventual permanência de Rubens Barrichello na ex-Honda, agora Brawn Racing. Como a maior parte deles vêm do Brasil, li muitos que afirmavam estar contra a escolha do veterano brasileiro em favor de Bruno Senna, o sobrinho de Ayrton. A maior parte dessas opiniões contra afirmava que o seu tempo passou e que devia encarar a ideia de que não vai ser um campeão, apesar de ter vencido corridas e ter estado na Ferrari.

De todos esses blogs que li, retenho duas opiniões fortes. E vou usar essas mesmas duas opiniões para corroborar a minha opinião pessoal, que é a de defesa da permanência do Rubens Barrichello por mais uma temporada na Formula 1. O primeiro dos quais, é o Luiz Fernando Ramos, o Ico. Sendo um homem que acompanha a Formula 1 por dentro como poucos (e como eu, vive fora do Brasil), pode testemunhar aquilo que ele é. E não é um veterano acomodado, como foi David Coulthard no seu último ano na Red Bull. No post de hoje sobre ele, descreve um piloto que não perdeu a sua determinação em melhorar o carro: "Foram incontáveis os dias em que fiquei horas com meus colegas no motorhome da Honda esperando que o brasileiro saísse de uma reunião com os engenheiros para que nos atendesse. Passava Jenson Button e sua entourage voltando para o hotel e nada do Barrichello. Finalmente ele vinha, cansado de um dia intenso de trabalho em cima de um carro que não andava nada, mas nos atendendo com disposição para responder à qualquer tipo de pergunta.

Lembro também no GP do Canadá, o brasileiro sofrendo com febres altíssimas, com a expressão facial de quem deveria estar debaixo das cobertas em repouso absoluto. Mesmo assim, foi para a pista e fez uma prova muito forte, terminando na sétima colocação. Ali Brawn entendeu que Barrichello não era acomodado como outros veteranos que tinham no paddock. E viu que poderia confiar naquele piloto em momentos delicados. Como o que deve enfrentar agora, comandando uma equipe em pedaços e com um carro muito mal preparado." Para alguém que é está por dentro, é o melhor testemunho do Rubens Barrichello em pista: determinado, sem querer desistir.


A segunda opinião é a de Becken Lima, no excelente blog F1 Around. Ontem à noite, no seu post "O que justificaria a volta de Rubens", ele tem algumas afirmações do qual destaco este excerto:


"Alexandre Carvalho já avisava em seu blog, mas não custa relembrar que o mundo da Formula 1 é regido pelo mais essencial pragmatismo, e quem acompanhou a carreira de Ross Brawn na Ferrari sabe da frieza e natureza calculista do ex diretor técnico de Michael Schumacher.


A equação que Brawn fez, ou fará, é simples. Bruno Senna, apesar do bom potencial, é relativamente cru em termos de monopostos e ainda mais em termos de F1. Teve alguns bons momentos na GP2, como a vitória em Mônaco, mas na F1 é preciso ter bons momentos todo o tempo, aliando velocidade natural, consistência e “feeling” — a capacidade de explorar o potencial de um carro ao máximo.


2009 é um dos piores anos para um estreante iniciar na Formula 1, com regras restritivas impedindo que se teste e adquira milhagem, fazendo com que até pilotos experientes como Pedro de La Rosa reclame de como será difícil e perigoso para os pilotos reservas substituírem os titulares. As equipes estão enfrentando grandes dificuldades logísticas nesse momento para desenvolver novos e complexos sistemas, como o KERS, os novos pneus slicks e componentes aerodinâmicos móveis. A ex Honda, especialmente, tem motores novos que precisam ser integrados com eficiência a uma aerodinâmica que foi inicialmente desenhada para funcionar com um motor Honda. Experiência então é a mais essencial das armas em 2009. (...)"


Não sei se o Becken é jornalista, mas se não for, posso dizer que tem uma clarivisão que vai para além do simples torcedor que pega na corneta. Pode-se dizer mal de Rubinho, devido ás expectativas que tinha sobre ele, há quinze anos atrás, quando uma nação se viu inesperadamente orfão de um herói. Pode se dizer mal do seu carácter, pelo facto se sempre se queixar de tudo e de todos, de ter dito no ano passado que o segredo do seu sucesso é um livro de auto-ajuda (tipico de quem tem problemas de auto-estima, por exemplo), mas tem um trunfo imbatível: experiência. Dezasseis anos na elite é muito, e numa equipa que viveu em permanente conturbação este Inverno, e com um carro que foi projectado para ter um motor, e vai receber outro, toda a sabedoria é bem vinda, algo que nem os dólares do Senna poderiam dar.


E depois... caso Brawn tivesse escolhido Bruno, teria dado ao sobrinho de Ayrton um presente envenenado. Não lhe foi concedido um programa de testes de Inverno, como teve o Sebastien Buemi, onde ao volante da sua Toro Rosso, percorreu milhares de quilómetros, em pistas táo variadas como Portimão, Jerez, Barcelona e outros, com o objectivo de conhecer o carro e ficar com a menor diferença possivel em relação aos 19 outros concorrentes, quando partir para a sua primeira corrida, em Melbourne, dentro de um mês. Sem esse treino, Bruno Senna tinha largas hipóteses de passar vergonha no pelotão, e para queimar nome... já basta o Nelsinho. E a Brawn Racing (ou Brawn Sport) de 2009 não é a Toleman de 1984.


Portanto, o Rubinho deve estar neste momento a parafrasear a famosa frase de Mário Zagallo: (e recuperada hoje pela Ingryd Lamas) "vocês vão ter que me engolir!" Mas acho que vai ser só por este ano...

5 comentários:

Felipe Playmobil disse...

- Brawn sabe o que faz, com certeza Barrichello é o que se pode ter de melhor pra se enfrentar uma situação como essa, experiencia e vontade de correr, espero que a "Brawn Racing" teste seu carro logo, pos ja perderam muito tempo com todas as negociações e rumores. Bem que tio Bernie podia liberar alguma verba pra equipe, mas como é avarento não sei se ira faze-lo.

Desejo Sorte a equipe e seus pilotos.

Anónimo disse...

Parabens pela exelente reportagem FOI A MELHOR QUE LI DE TODAS.....GOSTEI MUITO QUANDO FALAVA DA COMPETENCIA DO RUBINHO dirigindo com febre.....ficando nas reunioes para acertar o carro...etc....PARABENS MESMO....um abraço Lionel

Anónimo disse...

Pra mim o Brawn fez a melhor escolha possível.Eu acredito que o Rubinho seja um dos únicos pilotos do circo da Formula 1 que não fica acomodado,mesmo com febre(como no caso citado) ele foi pra pista correr,e uma observação forte que se tem de fazer,ele naquela vez que ele chegou em 3º lugar,ele que determinou quando tinha que parar,porque se eles tivessem parado uma volta antes que ele pediu aposto que eles não tinham conseguido essa posição.E se a Brawn Racing sobreviver até o próximo ano,eu acredito que o Rubinho vai querer continuar,e com toda a certeza vai tentar ao máximo melhorar o carro,é claro que o monoposto deles não vai se tornar campeão,mas conquistar umas posições melhores.
E o Bruno Senna agora tem que aceitar a proposta da Mercedes-Benz pra competir na DTM,e mostrar que pode se dar bem e quem sabe conseguir uma vaga na Force India(já que ela é quase que mandada pela a Mercedes),eria ser bom para as duas equipes,a Mercedes que quer colocar um Alemão na Mclaren,coloca o Adrian Sutil e a Force India que quer ganhar um pouco mais de fama coloca o Bruno Senna,que tem um nome muito forte,e o carro dela também tá mostrando nos testes de Jerez que deu uma melhorada.

Anónimo disse...

Muito bom mesmo o texto, poucos se lembram (ou fazem questão de ignorar) que o Rubens não eh acomodado. No mais, acho que estar na ex-Honda em 2009 seria um presente de grego para Senna. Pena que ele confiou tanto que teria essa vaga, mas foi melhor assim.

Ingryd disse...

sensacional!!!
concordo com cada vírgula!!
parabens, mais uma vez!