domingo, 16 de março de 2025

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O quarto lugar de Andrea Kimi Antonelli, de 18 anos, é um feito digno de registo, mesmo depois da penalização de cinco segundos por causa do "unsafe release" o ter perdido um lugar para Alex Albon, da Williams. Contudo, o recurso da Mercedes, onde mostrou, por uma outra câmara, que a largada foi legal, fez com que recuperassem essa posição. E foi um feito: afinal de contas, ele largou de 16º na grelha - ou seja, falhou a entrada na Q2 - e acabou num lugar tão alto na pontuação que merece ser referenciado.

Em termos históricos, é o segundo melhor de sempre em termos de pilotos da Mercedes. Apenas Karl Kling, no GP de França de 1954, quando foi segundo, fez melhor. E até foi melhor que Kimi Raikkonen, o ídolo do seu pai, que na sua estreia em 2001, largou de 13º e acabou em sexto, conseguindo um ponto - na altura, só pontuavam os seis primeiros.

Mas em termos de pilotos italianos, há outra referência. Retirando Giuseppe "Nino" Farina, que ganhou o GP da Grã-Bretanha de 1950, ou Giancarlo Baghetti, que ganhou o GP de França de 1961, mas o seu Ferrari fora inscrito por uma equipa privada, a corrida inicial da Formula 1, há um outro piloto italiano que teve o mesmo resultado que ele. E é a história de um promissor piloto, que correu pela Ferrari, tinha grande talento, mas infelizmente, o destino não o permitiu ir mais longe. Logo, para imensa gente, está esquecido.

Ao contrário de Antonelli, Ignazio Giunti tinha 28 anos quando conseguiu a sua estreia na Formula 1. Nascido em Roma, a 30 de agosto de 1941, e de origem nobre - seu pai era barão e a sua mãe condessa - começou a correr aos 20 anos, às escondidas da família. Começou a correr em Alfa Romeos e com o tempo, e o domínio do Autódromo de Vallelunga, nos arredores da Cidade Eterna, contra gente como Nanni Galli, Andrea de Adamich, Roberto Bussinello, Enrico Pinto, entre outros, foi apelidado de "O rei de Vallelunga".

A partir de 1967, tornou-se num dos pilotos oficiais da Alfa Romeo, especialmente na Endurance, e ao lado de Galli, conseguiu alguns excelentes resultados, como o segundo lugar na Targa Florio de 1969 e o quarto lugar nas 24 Horas de Le Mans. E foi o suficiente para que Enzo Ferrari prestasse atenção a ele. 

Em 1970, Ferrari decidiu contratar alguns jovens para o seu programa de Endurance. Giunti andou com o modelo 512, e ganhou as 12 Horas de Sebring, ao lado de Mário Andretti e Nino Vacarella. Mais alguns bons resultados na Endurance deram-lhe uma chance para participar na Formula 1, onde Ferrari queria alguém ao lado do belga Jacky Ickx. E havia outro piloto em mente, para além dele: Clay Regazzoni, que ao contrário de Giunti, era suíço - nascera em Lugano.

A primeira corrida de Giunti foi em Spa-Francochamps. Apenas 18 carros participaram, e no enorme circuito belga - foi a última corrida no traçado de 14,1 quilómetros - e o italiano conseguiu o oitavo melhor tempo, a quatro segundos do "poleman" Jackie Stewart. Giunti não andou entre os da frente, numa corrida marcada pelo duelo entre Stewart, Chris Amon, Jacky Ickx e Pedro Rodriguez, o vencedor do Grande Prémio. Conseguiu acabar ainda na mesma volta do vencedor, o que é de louvar. 

Contudo, na corrida seguinte, nos Países Baixos, Regazzoni estreou-se e a sua temporada foi espantosa, ao ponto de na sexta corrida da sua carreira, em Monza, ganhou a sua primeira corrida na Formula 1. Quanto a Giunti, ainda correu em algumas provas, no terceiro carro da Scuderia. No final, participou em quatro corridas, e aqueles três pontos foram os únicos da temporada, mas a Scuderia o manteve para 1971, quer para a Formula 1, quer para a Endurance.

O mais interessante é que ele tinha o capacete mais incomum da altura. Com muitos a limitarem-se a capacetes brancos, algumas linhas e o seu nome, Giunti tinha decidido pintar uma águia azteca sob um fundo verde, causando algum impacto. 

Infelizmente, tudo teve um final abrupto a 10 de janeiro de 1971, em Buenos Aires. Giunti participava na corrida dos 1000 Km, a bordo de um Ferrari 312PB, quando colidiu com o Matra de Jean-Pierre Beltoise, que, sem gasolina, tentava empurrar o seu carro para as boxes. A certa altura decidiu atrawessar a pista, e estava num angulo morto, que evitou que ele o visse. O choque oi brutal, o carro pegou fogo, e apesar das tentativas do seu companheiro de equipa, Arturo Merzario, de o salvar, tinha ficado com queimaduras por todo o corpo e acabou por morrer algumas horas depois, no hospital. Tinha 29 anos.

Giunti está enterrado no jazigo de família, no Cimiterio dal Verano, em Roma, e em Buenos Aires e Vallelunga, há bustos em sua memória.      

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