Mas para falar desta história, tenho de recuar a outubro de 1969, durante o GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen. Na altura, Graham Hill, então com 40 anos, guiada o seu Lotus oficial quando sofreu um furo lento no seu carro. Saiu do carro, empurrou-o por ele mesmo, desapertando os cintos, e tratou de ir até às boxes para resolver o problema. Contudo, não conseguiu, porque o pneu explodiu e ele, desapertado, foi projetado para fora do seu carro, magoando-se seriamente nas pernas e nos joelhos.
Mesmo assim, Hill, conhecido pelo seu bom humor, sempre teve uma frase pronta para cada situação, disse, no regresso a Londres no avião da BOAC - de maca - afirmou: "já disse à minha mulher que não dançarei nos próximos tempos".
A partir dali, foram semanas de cirurgia e sobretudo, reabilitação. Com ambos os joelhos particularmente afetados pelo acidente, parecia não recuperar a tempo da primeira corrida do ano, na Árica do Sul, no segundo fim de semana de março. Mas por incrível que pareça, iria alinhar.
O seu estado não era o melhor. Andava, mas não muito, e para entrar e sair do seu Lotus, tinha de ser içado para dentro. Ele sentia dores sempre que andava no carro, mas a sua vontade de correr, mostrar que não estava acabado para a Formula 1 era maior. Afinal, tinha quase 41 anos e tinha amor ao que fazia.
Apesar de ter ficado a 2,3 segundos do "poleman" Jackie Stewart, no seu March, isso só lhe deu a 19ª posição em 23 carros inscritos. E as perspetivas de corrida não eram boas: 80 voltas, com calor e o sol do verão austral em cima deles. Seria um milagre, se acabasse a corrida. E nos pontos, seria um feito digno de aplauso.
Aliás, receando que ele nem pudesse estar apto para correr, Rob Walker tinha consigo Brian Redman, pronto para entrar no carro. E chegou até a dar algumas voltas, para se habituar e estar preparado. Acabou por não acontecer.
Mas Graham era uma velha raposa. Afinal de contas, dois anos antes, em 1968, tinha evitado o fim da Lotus, depois da morte de Jim Clark, quando ganhou as corridas de Jarama, em Espanha, e Mónaco, conseguindo o impulso para ganhar o título desse ano, o segundo da sua carreira, e ainda ganhou mais uma corrida quando estava à beira dos 40 anos. Com um carro que conhecia, o Lotus 49, embora estivesse inscrito pela Rob Walker Racing, Calma e paulatinamente, subiu posições e resistiu aos elementos, contra um corpo frágil que rapidamente, começou a sentir as dores nas partes afetadas por um acidente sofrido cinco meses antes.
Mas no final das 80 voltas, ganhas por Jack Brabham, no seu carro, batendo o McLaren de Dennis Hulme e o March de Jackie Stewart, apenas quatro pilotos chegaram ao fim na mesma volta. No sexto lugar, a uma volta do vencedor, estava... Graham Hill. E era mais aplaudido que Brabham, especialmente quando os mecânicos o decidiram tirar do carro, porque ele não se conseguia mexer-te, exausto de duas horas de corrida. Testemunhas afirmam que viram mecânicos em lágrimas com aquilo que ele tinha acabado de realizar.
Até ao final dos seus dias, considerou esta corrida como sendo das melhores da sua carreira. Tão importante como vitórias em lugares importantes quanto Mónaco, Le Mans ou Indianápolis. E justifica-se: não só calou os críticos, que o davam como acabado, como aumentou o seu amor pelo automobilismo. E não perdeu o humor.





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