terça-feira, 27 de maio de 2025

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Faz agora 30 anos que aconteceu um dos episódios mais bizarros do automobilismo. E no Mónaco, ainda por cima. Podemos falar agora que houve um final feliz, mas podia ter acabado muito mal. 

Em 1995, as coisas nessa temporada estavam semelhantes ao ano anterior. Michael Schumacher tentava revalidar o título, mas na Williams, Damon Hill dava luta. A Simtek lutava para tentar encontrar dinheiro, caso contrário, encerrava as portas - tinha uma dívida a rondar os 10 milhões de dólares, e não pretendia ficar mais tempo sem que arranjasse um financiador. No inicio do ano, já se tinham perdido duas equipas, Lotus e Larrousse, e a chegada da Forti não era compensadora. 

A Footwork/Arrows não tinha muito dinheiro na altura. Tinha Gianni Morbidelli, piloto com talento, que tinha andado na Ferrari, por exemplo, mas o outro lugar ficou nas mãos de um piloto pagante sem muito talento, o japonês Taki Inoue. Ele tinha andado uma corrida em a Simtek, em 1994, em Suzuka, e tinha para o resto da temporada seguinte, com um palmarés onde ele nunca ganhou qualquer corrida nas categorias inferiores. Siml eram bem: nunca ganhou nem na Formula 3, nem na Formula 3000!

O dia 27 de maio de 1995 era sábado, segundo dia da qualificação no Mónaco. Inoue ficava normalmente na segunda parte da grelha - tinha sido o 19º em Imola, 18º em Barcelona - e metia o carro entre os dois Minardis ou o Sauber de Karl Wendlinger, por exemplo, sempre quatro segundos mais lento que os pilotos da frente. Os Forti e os Pacific eram mesmo os últimos, acreditem.

Inoue tinha batido na sessão de quinta-feira, que foi disputada entre seco e molhado, por causa de uma chuva súbita que apanhou os pilotos desprevenidos e tinha conseguido apenas o 24ª melhor tempo. Tinha de melhorar no sábado, e esperava que assim acontecesse, porque o tempo indicava isso: sol primaveril sobre o Mediterrâneo. Contudo, a sessão da manhã para Inoue acabou bem cedo, porque ele se despistara e deixara o motor ir abaixo. Rebocado para as boxes, o piloto japonês queria ver se tinha uma chance de marcar um tempo na sessão da tarde. E com a interrupção, entra em cena o Safety Car, para ajudar nas operações de socorro.

Em 1995, quem detinha esses carros eram os circuitos, e poderiam ser qualquer um. O Automobile Club de Mónaco (ACM) tinha como Safety Car um Renault Clio de 2 litros, derivado do Clio Williams, guiado por Jean Ragnotti, uma lenda dos ralis, conhecido por dar espetáculo na estrada. E era isso que andava a fazer: dar espetáculo nas ruas do Mónaco. Como passageiro, tinha o delegado de imprensa da FIA - certamente a passar por um grande susto. Eles iam no complexo da Piscina quando viram o Foortwork/Arrows a ser rebocado... e bateram forte. O carro virou e ficou capotado, destruindo a entrada de ar e danificando seriamente a caixa de velocidades e o motor Hart de 8 cilindros. E pior: Inoue ainda estava dentro!

A sorte no meio da má fortuna era que ele tinha o capacete posto, senão teria sido bem pior. Mas não tinha os cintos de segurança. Levado para o hospital, levara um trauma craniano leve, mas o médico da FIA disse que ele não poderia participar. 

Quem ficou lixado da vida foi Jackie Oliver, o patrão da Footwork/Arrows. Reclamou ao ACM - o Safety Car era deles, lembrem-se - e disse que, se não fosse o capacete, Inoue estaria morto. E a reclamação era forte: 

"Porque é que Ragnotti estava ali? É apenas falta de disciplina. Pelo que percebi, ele já tinha completado algumas voltas antes 'a um milhão de quilómetros por hora', fazendo curvas com o travão de mão no gancho de Loews. Qual era o propósito dele fazer isso? Era para dar emoção aos fiscais de pista?" O ACM reconheceu a sua responsabilidade, e permitiu que Inoue usasse o carro de reserva, mas ele já estava fora de cena por causa das ordens do médico. Assim sendo, era último, com nove segundos de desvantagem para Damon Hill, o poleman.

Apesar de tudo, Inoue iria participar na corrida, mas não foi longe: a caixa de velocidades quebrou-se na volta 27, terminando por ali a sua corrida. E não seria a última vez que não deixaríamos de ouvir falar dele.     

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