A temporada de 1975 não estava a ser brilhante para Emerson Fittipaldi na defesa do título pela McLaren. Até ali, a sua vitória na Argentina e os seus dois segundos lugares, no Brasil e no Mónaco, eram claramente poucos para a temporada que o seu maior rival, Niki Lauda, estava a fazer até então. Ao chegarem a Silverstone, o austríaco tinha 47 pontos, mais... 23 que o brasileiro, terceiro, com menos um ponto que o Brabham de Carlos Reutemann.
Parecia que, como em 1973, Fittipaldi estava a ter uma má defesa de título, embora poucos pudessem imaginar que a Ferrari tinha conseguido o carro e o piloto ideal para poderem alcançar o seu primeiro título em onze anos - os favoritos, segundo os especialistas, era a Brabham, a par da Ferrari, e um pouco mais distante, a Tyrrell.
E quando chegaram a Silverstone, para a décima prova da temporada, já não faltava muito para o campeonato acabar. Se ele não tivesse nenhum problema sério, o campeonato era dele. E na qualificação, onde Tom Pryce largava da pole-position, no seu Shadow, as coisas correram melhor para Lauda, terceiro, contra o oitavo posto de Emerson.
Ao longo da corrida, foi um duelo entre Pryce e o Brabham de José Carlos Pace, outro brasileiro, onde um outro fator estava à espreita: o imprevisível tempo britânico. Atrás, Emerson começou a fazer uma corrida de recuperação, passando Andretti e Hunt, para ficar nos pontos à décima volta, enquanto Pryce atacava os Ferrari de Lauda e do suíço Clay Regazzoni, para ver se ficava com o comando da corrida, que ainda era de Pace.
Mas por essa altura, a chuva apareceu. E os pilotos corriam para as boxes, no sentido de colocar pneumáticos de chuva. E em 1975, trocar quatro pneus demorava muito mais tempo que agora. E isto, se não havia mais coisas para trocar... como aconteceu a Regazzoni, no final da volta 18, quando ase despistou e danificou a asa traseira. E quase a seguir, outra vitima, com o Shadow de Tom Pryce, que perdeu o controlo do seu Shadow por causa do asfalto húmido.
Contudo, não chovia totalmente, e quando parou, os pilotos que trocaram para chuva, e começaram a ver o trilho seco a aparecer, tiveram de lidar com aqueles que aguentaram o seco e viram que podiam recuperar o tempo perdido, como James Hunt, que na volta 35, era segundo e ia apanhar Jean-Pierre Jarier, noutro Shadow. E Emerson? Tentava navegar entre os pingos de chuva, em terceiro, e a aproximar dos dois primeiros. Fittipaldi apanhou-os na volta 43 e ficava na liderança, numa altura em que o tempo estava prestes a fazer das suas, mais uma tempestade a caminho.
Em 1975, as precauções de segurança eram uma vasta quantidade de redes de segurança, colocadas em todas as curvas, no sentido de abrandar os carros desgovernados em situações de despiste. Faziam o seu trabalho, mas o risco, diminuído, não era total, porque os pilotos corriam o risco de serem atingidos por algum cabo, que basicamente eram projeteis contra os seus capacetes. Naquela situação, o potencial de perigo existia, mas ainda se esperava que talvez não aconteceria.
Mas não foi assim: na volta 56, Emerson parou nas boxes para colocar pneus para piso molhado, enquanto na curva Copse, acontecia a catástrofe, com um carro a despistar, um atrás do outro, apanhados pela súbita queda de água, porque não tinham tido tempo para ir às boxes e colocar pneus para chuva. No final, com a bandeira vermelha mostrada pelos comissários, Emerson sorriu, porque foi um de... seis, que cruzaram a meta de uma corrida que acabou interrompida por causa da chuva e da pilha de sucata fumegante que restou daqueles carros. Emerson ganhou, é verdade, mas na realidade foi o sobrevivente de uma corrida atribulada, onde estava no lugar certo à hora certa, e a fazer os gestos certos.
O que não se sabia é que aquele iria ser a 14ª e última vitória de Fittipaldi na Formula 1, e a próxima vez que iriam ver um brasileiro no lugar mais alto do pódio, só será dentro de cinco anos. E para verem novamente um brasileiro a ganhar pela McLaren, demorariam mais 13.




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