quarta-feira, 2 de julho de 2025

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Na primavera de 1914, alguém que conhecia o automobilismo sabia que a certa altura do ano, alguém iria tentar bater o recorde do mundo de velocidade. E nessa altura, no meio de preparações para o GP de França, previsto para o inicio de julho, tínhamos alguém que iria tentar a sua sorte. E o piloto era alguém que, como pessoa, foi uma personagem digna de nome. E a história do seu recorde do mundo foi a maneira como os recordes acabariam por ser medidos dali em diante.

Lydston Hornsted, então com 31 anos, era o filho do então cônsul britânico em Moscovo, na Rússia imperial. Começara a correr relativamente cedo, tendo sido piloto de marcas como a Calthorpe, participando no Grande Prémio de França de 1912, em Dieppe, onde não acabou a corrida devido a um problema na sua caixa de velocidades. 

Para 1914, decidiu tentar a sua sorte na corrida para o recorde de velocidade em terra, usando um velho conhecido: o Blitzen Benz. Para além de ser uma máquina já com cinco anos de idade, também já tinha tido, por algum tempo, o recorde do mundo. Aliás, com os seus 200 cavalos de potência, era um carro habituado a recordes. 

O primeiro dos quais tinha sido a 9 de novembro de 1909, em Brooklands, quando Victor Hemery entrou nele e conseguiu 202,7 quilómetros por hora, num percurso de uma milha. O carro era potente: com um motor de 21,5 litros (!), tinha uma caixa manual de quatro velocidades e tração traseira, conseguiu aquilo que iria ser o seu primeiro recorde do mundo de velocidade. Menos de dois anos depois, o carro estava no outro lado do Atlântico, em Daytona, onde Bob Burman colocou num patamar ainda mais alto, conseguindo 228,3 quilómetros por hora, num percurso de uma milha lançada, num recorde que durou até 1919. Isso acontecera a 23 de abril de 1911. 

Em 1914, havia novos regulamentos. A AIACR, antecessora da FIA, decidiu que o percurso de uma milha se mantinha, mas havia algumas alterações: o percurso seria feito nos dois sentidos, e o piloto ew a equipa teria uma hora para fazer, sob pena da tentativa ser invalidada. Hornstead decidiu que ele tentaria o recorde em Brooklands, que para ele era o melhor lugar para o fazer, em vez de, por exemplo, numa praia onde a areia fosse mais lisa que o cimento ou o empedrado - a tecnologia de asfalto ainda estava na sua infância. 

A 24 de junho de 1914, tudo estava pronto para a tentativa de recorde. A Benz - a fusão com a Mercedes só aconteceria dali a década e meia - era uma máquina potente e claro, continuava capaz de bater recordes. E naquele dia de verão... cumpriu. Usando o chassis número três, de seis construídos, e apesar da velocidade ter sido mais pequena - 200,7 km/hora de média - por causa dos novos regulamentos, Hornstead tornou-se no novo detentor do recorde. E o mais interessante, foi numa máquina alemã. E bem a tempo: se tentasse isso a 24 de agosto, por exemplo, não seria muito patriótico...

Para Hornstead, foi o auge da sua carreira automobilística. Depois disto e com a entrada da Grã-Bretanha na guerra, ele alistou no exército e sobreviveu, acabando como capitão. O recorde aguentou até 1922, altura em que foi batido por outro britânico, Kenelm Lee Guinness, num Sunbeam. O Blitzen Benz continuou a competir até 1923, altura em que teve uma versão aerodinâmica. Acabou por ser foi desmontado - aliás, dos seis, apenas dois sobreviveram, um deles está no museu da marca, agora Mercedes-Benz.

Quanto a Hornstead, casou-se por quatro vezes e acabaria por morrer em 1957, aos 74 anos.   

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