No calendário daquela temporada de 1970, o GP da Alemanha iria acontecer, como sempre, no Nurburgring Nordschleife, conhecido pelos pilotos por "O Inferno Verde", um nome batizado por Jackie Stewart. Contudo, em 1970, as coisas andavam complicadas. Em junho, as mortes de Bruce McLaren, e depois, de Piers Courage, fizeram com que os pilotos começassem a se agitar e a querer tomar uma decisão.
Stewart era o principal paladino da segurança, mas existiam pilotos reticentes. Um deles era Jack Brabham, um dos veteranos do pelotão, porque tinha 44 anos em 1970 - e tinha ganho antes, em Kyalami. Contudo, numa reunião após a missa em memória de McLaren, no inicio de julho, e dias depois da morte de Courage, decidiram tomar uma decisão: boicotar o GP da Alemanha.
Os organizadores entraram em pânico: estavam a quatro semanas da corrida e nada poderia ser feito em tão pouco tempo. Contudo, lembraram-se de uma alternativa: Hockenheim, que tinha passado por profundas reformas na sua pista depois do acidente mortal de Jim Clark, em 1968. Tinha guard-rails e postos para abrigar os comissários de pista numa pista igualmente rápida, mas mais pequena: sete quilómetros, contra os 23 do Nordschleife.
A decisão foi rápida, e os - mais de 200 mil espectadores - foram recebidos no local tão em cima da hora que houve engarrafamentos que duraram o dia todo. Os pilotos ficaram agradados e a corrida não foi cancelada.
Quando o pelotão lá chega, a temporada estava em pleno domínio de um piloto: o austríaco Jochen Rindt, que guiava o Lotus 72. Mas havia a reação da Ferrari, através do belga Jacky Ickx.
Aos 28 anos, Rindt - que na realidade, tinha nascido na Alemanha, mas corria com licença austríaca - começara uma sequência de vitórias em junho em Zandvoort, onde morreu o seu amigo Courage, e continuou os seus triunfos em Clermont-Ferrand, palco do GP de França, e em Brands Hatch, a 18 de julho, depois de uma batalha, primeiro com Ickx, depois com Brabham. Com 36 pontos, era o líder incontestado do campeonato.
Na qualificação, Ickx foi o melhor que Rindt, com Regazzoni e o suíço Jo Siffert, da March, a ficar com a segunda fila. Quatro pilotos não se qualificariam: o De Tomaso de Brian Redman, o McLaren de Andrea de Adamich, o March de Hubert Hahne e o Bellasi de Silvio Moser.
O dia da corrida iria ser um duelo entre Ferrari e Lotus, e parecia que o vencido iria vender cara a sua derrota.
Ickx largou bem e ficou com a liderança, mas Rindt não o largou. As longas retas faziam com que, se pudessem, poderiam andar lado a lado. E as chances de passar eram grandes. E foi o que aconteceu na sexta volta, quando Rindt passou para a liderança. Mas claro, Ickx não iria desistir, e passou-o na volta dez.
E foi assim ao longo do tempo: um duelo entre, se calhar, os dois melhores pilotos do momento. Excepto entre as voltas 18 e 19, onde Clay Regazzoni ficou com o comando, foi um duelo entre os dois. E com os motores em alta rotação, estes não aguentariam muito. Jackie Stewart, por exemplo, perdeu o motor na volta 20, acabando por desistir.
Ickx e Rindt estavam tão concentrados no seu duelo que na parte final da corrida, tinham aberto uma vantagem de mais de um minuto e 20 segundos sobre o terceiro classificado, o McLaren de Denny Hulme. Mas o duelo não acabou senão na linha de meta: Ickx ficou com o comando na volta 46, para Rindt reagir e ficar com a liderança na 47. Ickx reagiu e o passou na 48, e o piloto da Lotus ficou com ele na 49 e defendeu-se, unhas e dentes para no final, ganhar com 0,7 segundos de vantagem.
No pódio, Rindt cumprimentou Ickx, num gesto de fair-play, e ele comemorava a sua quarta vitória seguida, quinta na temporada. Tinha 45 pontos, todos resultado de vitórias, e parecia ser "o" favorito ao triunfo no campeonato.
Mas havia duas coisas: a Ferrari, que tinha começado mal o ano, tinha afinado a máquina e poderia ganhar corridas, se lhe dessem a chance. Porque tinha pilotos para isso: o belga Ickx e o estreante suíço, Clay Regazzoni.
No quarto posto, tinha chegado outro Lotus, o de Emerson Fittipaldi, que se tinha estrado na corrida anterior, em Brands Hatch. Pilotando o velho 49, tinha conseguido os primeiros três pontos da sua carreira, e os primeiros pontos de um piloto brasileiro desde 1956, quando Chico Landi foi quarto no GP da Argentina, num, num Maserati, e numa condução partilhada com Gerino Gerini.
Contudo, o que ninguém sabia era que, dali a 33 dias e dois Grandes Prémios, em Monza, Jochen Rindt estaria morto.







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