Hoje em dia, faz a sua vida entre Londres e as suas fazendas de café nos arredores de São Paulo, logo, aparece cada vez menos no paddock. Mas quando aparece, parece ter a estamina de um homem de 75 anos do que a sua idade real...
O homem que foi "manager" de Jochen Rindt, que depois foi o dono da Brabham de 1972 a 1987, e depois, da Formula 1, até vender à Liberty Media, em 2017, de uma certa maneira, revolucionou a Formula 1, especialmente porque viu o poder da televisão, o meio mais poderoso da altura, algures nos anos 70. Depois desta ter dado um pulo tecnológico, com a introdução da TV a cores, e da transmissão por via satélite, faltava algo que fizesse o espectador agarrar-se ao sofá, mesmo estando a milhares de quilómetros de distancia. Unificar juma transmissão ao longo de 14, 16 ou 17 cadeias de televisão diferentes, e nem todas com câmaras suficientemente modernas para transmitir ao vivo e a cores - e até em países onde sequer havia um serviço de televisão, como a África do Sul, que só teve em 1976 - foi um trabalho de paciência e labor intensivo.
Bernie conseguiu o que queria, e depois exigiu o suficiente para poder distribuir pelas equipas. Quando em 1978 quis ser o presidente da FOCA, a associação de equipas de Formula 1, prometendo que iria distribuir um milhão de dólares por cada equipa, sabia do que estava a falar porque tinha jeito para isso. Ele falava pelos outros, numa altura em que quem mandava nas pistas eram os seus donos, não os pilotos ou os construtores. E sequer a FISA, que - por coincidência - viu chegar um francês, Jean-Marie Balestre, que também queria que a palavra da FISA fosse lei. Com duas personagens fortes, a rota de colisão entre ambos foi inevitável, em 1980-81, quando a Formula 1 esteve muito perto da cisão (mais sobre isso daqui a uns dias).
A sua maior ambição era a América. Tentou muitas vezes, mas fracassou quase sempre. De uma certa forma, o facto de ter vendido à Liberty deve ter sido uma forma de pensar que, com eles, iria conseguir aquilo que sempre sonhou, mas não conseguiu à sua maneira. Não sei o que terá dito quando viu o que acabaram por fazer (Drive to Survive, redes sociais, "F1"), mas o que posso afirmar é que, sabendo da sua idade e das suas limitações, eles fariam um trabalho melhor que ele. Afinal de contas, falamos de alguém que disse, certo dia, o que preferia trabalhar com o espectador de 70 anos com um Rolex no pulso...
Apesar de por vezes ter tido alguns incidentes - a história dos direitos televisivos, o mais grave dos quais levou-o a tribunal, em 2014, o "Acordo dos Cem Anos" com a FIA, em 2002, onde praticamente ele ficou com tudo, em troca de pagamentos superiores a dez milhões de dólares por cerca de uma década - , da sua relação algo estranha com a imprensa - o que mais admiro nele é o seu humor negro. Afinal de contas, quando foi agredido na rua, em Londres, no final de 2010, teve o suficiente bom humor e a perspicácia para, uns dias depois, pedir à Hublot que fizesse este anuncio publicitário (sim isto é real, não é nenhuma piada!)


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