quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A imagem do dia

Esta imagem vai acabar a 5 de novembro. O museu que alberga uma das mais fabulosas coleções de automóveis de competição do mundo vai fechar. Não está no Brasil. Nem em Portugal ou num país qualquer do terceiro mundo. Está no centro da Grã-Bretanha, ao lado da pista de Donington Park.

O Museu de Donington Park vai fechar, e a noticia chocou os amantes de automóveis um pouco por todo o mundo. O anuncio foi feito por Kevin Wheatcroft, o filho do fundador, que refere "motivos familiares" para não continuar a manter o museu. 

E este é um bom motivo para falar do pai de Kevin, Tom. De como um sonho de infância fez salvar um circuito da sua ruína e de como ajudou um piloto como se fosse seu filho, acreditando que seria campeão, mas acabaria numa bola de chamas apenas na sua segunda corrida de Formula 1.

Em 1937 e 38, Donington foi palco do GP da Grã-Bretanha, e viu por ali os carros de Grand Prix, pilotados por gente como Richard Seaman ou Tazio Nuvolari, que durante os treinos da edição de 1938, atropelou um veado, do qual pegou na cabeça e fez dele troféu de caça! Quando rebentou a II Guerra Mundial, virou depósito de material militar e ficou assim... até muito depois da guerra.

Tom Wheatcroft nasceu em 1922, e fez fortuna na construção civil. Morava nos Midlands britânicos e viu as corridas em garoto e apaixonou-se. Guardou o circuito no seu coração, e quando soube da sua degradação, em meados dos anos 60, jurou que iria fazer de tudo para o recuperar. Quando viu que os terrenos iriam ser vendidos, não hesitou e comprou, procedendo à sua lenta recuperação. 

Quase ao mesmo tempo, batia à sua porta um jovem talentoso piloto chamado Roger Williamson. Queria apoios para a sua carreira na Formula 3, e Wheatcroft gostou do seu estilo de condução. Cedo se estabeleceu uma forte amizade, quase de pai para filho, e ele venceu três (!) títulos na Formula 3 britânica, em 1971 e 72. Em 1973, surgiu a oportunidade de ir para a Formula 1, pela BRM, mas ele disse para recusar. Os planos eram ambiciosos: comprar um McLaren M23 para 1974, correndo a sua própria equipa. Mas antes, teria de ganhar experiência, e a March deu a sua chance a partir do GP da Gra-Bretanha, no lugar de Jean-Pierre Jarier, que cumpria a sua temporada de Formula 2.

Infelizmente, tudo acabou a 29 de julho de 1973, na oitava volta do GP da Holanda, quando um pneu furou, bateu no guard-rail e o carro explodiu numa bola de fogo. As imagens do seu carro em chamas correram mundo, apesar das tentativas desesperadas de David Purley de o salvar. 

Wheatcroft prosseguiu a sua vida e em 1979, conseguiu inaugurar o seu circuito, Donington Park. Em 1993, levou a Formula 1 pela única vez na sua vida, e dez anos depois, inaugurou um memorial a Williamson, cinco anos antes de morrer. E no meio disso tudo, ajudou o museu a ser um dos mais importantes do mundo, com muitos dos carros a serem emprestados pelas equipas, para prestigiar ainda mais a sua coleção. E nesse museu, havia sempre um canto, uma estante só com os objetos e os troféus do seu piloto favorito, Roger Williamson. 

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