quarta-feira, 30 de outubro de 2024

A história da Larrousse (Final)


Desde segunda-feira que publico por aqui a história da Larrousse, uma das equipas francesas que existiram entre o final dos anos 80 e inicio dos anos 90 do século passado, que, não tendo tido grandes resultados, polvilharam o meio do pelotão da Formula 1. Projeto do ex-piloto Gerard Larrousse, pediu a fabricantes como a Lola para construir chassis, antes de, em 1993, começasse a montar os seus próprios, sem grande sucesso.

Agora, nesta última parte, irá falar-se dos momentos finais e da luta - inútil - para tentar correr em 1995, desde procurar novos sócios até pedir ajuda ao estado francês, que por causa de uma lei, o deixou apeado e, provavelmente, precipitou a sua queda.



ESTRETOR E AGONIA


Para a temporada de 1994, a Larrousse voltava a construir o seu chassis, o LH94. Mudando de motor, para os Ford de oito cilindros, depois de ter tentado convencer a Peugeot, sem sucesso – que se estreava na Formula 1 - a fornecer os seus motores de 10 cilindros, conseguiu manter Eric Comas como seu piloto, tendo a seu lado o monegasco Olivier Beretta. Havia também novos sócios: um grupo suíço, a Fast Group, era seu parceiro, tendo entre eles o ex-piloto Patrick Tambay. Um sexto lugar por Comas em Aida até foi um bom começo, mas a meio do ano, a equipa estava com problemas de tesouraria. Um sexto lugar em Hockenheim, sobrevivendo ao caso desse Grande Prémio, foi outro bom resultado, mas foi mais oásis que outra coisa.

A partir do GP da Hungria, os pilotos apareceram rapidamente. Philippe Alliot – que era piloto de reserva da McLaren - reapareceu para o GP da Bélgica, enquanto Yannick Dalmas apareceu para as corridas de Itália e Portugal. Em Espanha, o japonês Hideki Noda tornou-se piloto até ao final da temporada, com o suíço Jean-Louis Deletraz a aparecer na corrida final do campeonato, na Austrália. No final da temporada, os dois pontos que Comas conseguiu foram suficientes para ficar na 11ª posição dos Construtores.

Apesar da Larrousse ter feito a inscrição para a temporada de 1995, eles tinham problemas: um chassis, que seria batizado de LH95, tinha sido feito, mas não ora testado por falta de fundos. E surgiu a chance de uma fusão com outra equipa francesa que queria ter a sua chance de correr na Formula 1 e que tinha sucesso na Formula 3000: a DAMS. 

O seu diretor, Jean-Paul Driot, queria a equipa, e tinha um projeto de chassis, feito pela Reynard, mas com a ideia de ser mais o seu projeto que o de Larrousse. Sem acordo quanto à parte que cabia, decidiu não participar na Formula 1 nessa temporada, e foi à procura de outros associados. Encontrou nos seus compatriotas Laurent Barlesi e Jean Messaoudi, que tinham dinheiro, mas tinham tentado montar a sua equipa, sem sucesso. 


Havia também outra coisa que impedia Larrousse (e outras equipas) de terem sucesso nos patrocínios. Desde 1993 que existia a “Lei Evin”, que impedia a publicidade ao tabaco e álcool em eventos desportivos. E com a Formula 1 pesadamente dependente do tabaco – especialmente em França, com a Ligier ter desde há muito tempo a publicidade da Gitanes e Gauloises, propriedade da SEITA, o conglomerado estatal de tabacos – para a Larrousse, sem tabaco, era uma sentença de morte para a sua aventura na Formula 1. E duas semanas antes do primeiro Grande Prémio, o estado francês anunciou que não teria dinheiro vindo das suas empresas. 

Apesar de tudo, procuravam pilotos para a aventura: Eric Comas tinha sido escolhido, e outros como Emmanuel Collard, Elton Julian, Éric Hélary, Christophe Bouchut e Éric Bernard, estavam a ser considerados. Contudo, Larrousse estava com imensos problemas: os seus ex-associados estavam a processá-lo por dividas por pagar, a Ford recusava a fornecer-lhe motores por causa de dividas por pagar, e a FIA costumava multar as equipas que faltavam nas primeiras rondas do campeonato. Com tudo isto a acumular-se, antes do GP de San Marino, Gerard Larrousse anunciou que a sua equipa não iria participar na temporada, culpando outros pelo final do projeto.

No final, foram 127 corridas – em vários chassis – um pódio e 23 pontos, tudo em oito temporadas. 


O final de cena de Larrousse coincide, de uma certa forma, com a venda da Ligier para Flávio Briatore e Tom Walkinshaw. Três anos antes, em 1991, a AGS, outra equipa francesa, fechou as portas devido ao aumento de custos e uma crise financeira que atravessava o mundo. Isso, aliado ao final do apoio do estado francês às equipas de Formula 1, também mostrou o final de uma era onde a França via no automobilismo uma maneira de mostrar o seu poder tecnológico ao mundo, algo que tinha começado em meados dos anos 60, primeiro com a Matra, depois com a Renault, e em certa medida, a Peugeot. 

Depois de 1995, a única equipa francesa que apareceu foi a Prost, que comprou a Ligier em 1996 das mãos de Walkinshaw. Ela ficou até ao final de 2001, quando se retirou, terminando de forma definitiva a presença francesa em termos de equipas.    


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