sábado, 5 de outubro de 2024

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Quando Andrea de Cesaris pendurou o capacete na Formula 1, em 1994, nem olhou para trás. Não quis saber de automobilismo, foi viver para o Mónaco, onde se dedicou à finança durante metade do ano, e noutra metade, ia para lugares como as Canárias e o Hawaii para fazer "windsurf". A grande excepção foi em 2005, quando surgiu o Grand Prix Masters, uma competição que durou pouco tempo, dedicado a veteranos da Formula 1. Falou-se da sua excelente forma física, ao ponto de, mas poucas corridas que aconteceram, ele mostrou-se: em Kyalami, foi quarto, depois de ter perdido a batalha pelo pódio com Derek Warwick.

Não falava com a imprensa. Pouco ou nada queria saber da Formula 1. Mas tinha amigos no meio, e era bem vindo, sempre que aparecia. E então, um dia, creio que em 2011, decidiu falar com alguém. E li a entrevista com a Motorsport, onde explicou tudo. Estava em forma - continuara em forma, graças à sua paixão pelo windsurf - e ali explicou muita da sua razão pela sua reclusão: sentia-se magoado pelo tratamento que a imprensa britânica lhe deu sobre a sua rapidez. 

Para ele, o "Andrea de Crasheris" foi anátema. Os tais 22 chassis destruídos ao longo de 1981, no seu ano na McLaren, foram uma maldição, ainda por cima, o incidente do GP dos Países Baixos, onde a equipa o impediu de correr - ele disse que a razão tinha a ver com a escassez de chassis - e depois disso, apesar da sua longa carreira, nunca mais teve a chance de correr numa equipa vencedora. Com uma exceção: a Alfa Romeo. E foi verdade, especialmente em 1983, onde conseguiu a sua melhor classificação de sempre, com dois pódios e uma volta mais rápida, com grandes corridas em sítios como Spa-Francochamps. 

Anos depois, queixou-se dessa "reputação", que isso lhe tirou a chance de ter um chassis vencedor. E quando estava em equipas como a Ligier ou Brabham, a altura era má, porque os carros eram maus, ou os motores eram maus. Por exemplo, em 1987, as duas vezes que cruzou a meta nessa temporada pela Brabham, o carro não estava em condições. Mas ele mesmo também tinha culpa no cartório, especialmente quando capotou o seu carro no GP da Áustria de 1985, suficiente para que Guy Ligier o despedir. 

E para piorar: James Hunt. O ex-piloto, agora comentarista da BBC, ao lado de Murray Walker, sempre que via ele a ser uma "chicane móvel", chamava-o de "idiota", um dos que ele detestava, ao lado de René Arnoux, que também achava ser uma ameaça. Sem querer, ou de propósito, da parte do piloto, e o ressentimento do britânico era ouvido por milhões, e claro, ficava magoado com o que ouvia. 

Apenas ficou parcialmente recuperado no inicio da década de 90, quando esteve na Jordan e Tyrrell. Ali, tornou-se regular, com pontuações frequentes e ocasiões onde quase... ganhou. Especialmente no GP da Bélgica (foto em cima, tirado por Paul-Henri Cahier). Ali, onde teve um novo companheiro de equipa - um tal de... Michael Schumacher - foi superado por ele na qualificação, mas na corrida, as coisas correram tão bem que a cinco voltas do final, era segundo, atrás de Senna... e o brasileiro tinha problemas com a sua caixa de velocidades! Mas depois, o motor Ford HB de oito cilindros cedeu - soube-se depois que tinham colocado novos pistões, mas esqueceram-se de trocar o lubrificante, que era insuficiente para aguentar as novas vibrações. 

Apesar de no final ter recuperado parcialmente a sua reputação, os estragos estavam feitos. E é um pouco como o "bullying": a ofensa pode se esquecer, mas para o ofendido, as marcas ficaram para sempre. E foi sempre isso que senti, das poucas vezes que ele falou para a imprensa desportiva, na última década da sua vida: ressentimento e mágoa. 

Entende-se. Quem quer ficar na história como sendo o piloto com mais corridas sem ganhar? Ou com a reputação de 22 chassis destruídos numa temporada? Andrea de Cesaris passou a vida a tentar corrigir o erro. Sem grande sucesso. 

Andrea de Cesaris morreu há precisamente 10 anos, num acidente de moto, em Roma. 

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