Claro, Alain Prost fez a manobra para resolver a situação a seu favor. Nisso, é responsável até ao tutano e o Jean-Marie Balestre ajudou. Mas há pormenores que poucos sabem até aos dias de hoje. Um bom exemplo? Ambos os carros tinham "Gurney flaps", para ajudar no "downforce" do carro. E Prost pediu para tirar o dele para ter mais velocidade de ponta, sem que Senna soubesse. Ou seja, Senna esforçou-se mais para o apanhar, depois de ele ter sido superado pelo francês na partida.
E uma das lições é esta: de nada vale seres o mais rápido em segundo e meio na qualificação se depois "patinas" na partida e deixas que o teu oponente te passe.
Mas como disse antes, Senna perdeu o campeonato muito antes. Eu direi que começou a perder em Phoenix, nos Estados Unidos, numa corrida de sobrevivência, onde a sua mecânica sucumbiu ao calor e Prost aproveitou bem. Se Senna era rápido e espetacular, especialmente na qualificação, Prost queria sobreviver, chegar ao fim, poupando a máquina e ser inteligente. Afinal de contas, aprendeu com gente como Niki Lauda, por exemplo.
Se forem ver na classificação, até Suzuka, Prost deitou pontos fora na classificação. Cinco, mais precisamente. Desistiu em apenas uma ocasião, no Canadá. Senna desistiu em quatro corridas seguidas, de Phoenix até Silverstone. A desistência no Canadá, a três voltas do final, foi de partir o coração. E quando quis recuperar, as desistências em Itália e em Portugal - ali, com a interferência de Mansell - praticamente reduziram as suas chances para uma fina linha, uma hipótese em cem. E não foi por sabotagem, foi uma mistura de problemas mecânicos e pouca paciência.
Nisso, Senna era um pouco Gilles Villeneuve: queria dar espetáculo, especialmente nos treinos. Largar do primeiro lugar pode ser ótimo, excelente par alguém que queria correr para vencer, ser o primeiro. Mas nesses tempos em que para ganhar, tinhas de cortar a meta em primeiro, Prost deverá ter lembrado do exemplo de Lauda, que em 1984, era discreto nos treinos, mas depois agigantava-se na corrida, acabando muitas vezes no pódio, e por cinco ocasiões, no lugar mais alto. Prost era alguém que tinha perdido muito antes de começar a ganhar, e quando se tornou cerebral, bastou esperar pelos erros dos outros para estar no lugar certo, na hora certa.
Não é a maneira ideal de ganhar? Pois, mas ganhou.
A única censura que faço é a manobra. Até poderia ter deixado passar, e prolongar a angustia por mais uma corrida. Bastava que ele não acabasse e o título seria seu. Mas compreendo os seus receios: afinal de contas, Senna era excelente na chuva, ele não.
Mas volto a afirmar: Senna perdeu aquele campeonato muito antes de Suzuka. Não foi Prost, nem Balestre. Foi o carro, e em algumas ocasiões - Paul Ricard e Estoril, por exemplo - o piloto.
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