sábado, 10 de março de 2007

GP Memória - Canadá 1981

Quinze dias depois de Monza, máquinas e pilotos tinham atravessado o Atlântico para correrem o Grande Prémio do Canadá, disputado no circuito de Notre-Dame, em Montreal. Sendo a penúltima prova do campeonato daquele ano, a luta pelo título estava ao rubro, com cinco candidatos: o argentino Carlos Reutmann, o australiano Alan Jones, o brasileiro Nelson Piquet e os franceses Jacques Laffite e Alain Prost. O argentino liderava com três pontos de avanço sobre Piquet, mas Laffite, Jones e até Prost, o vencedor da corrida italiana, tinham hipóteses de alcançar o campeonato.

O "paddock" canadiano fervilhava de especulações e decisões. Na Arrows, o italiano Siedfried Stohr decidiu colocar um ponto final na sua carreira, ainda a batalhar os efeitos do seu acidente na partida do GP da Belgica, onde atropelara o mecânico da sua equipa. No seu lugar, a equipa contratou... Jacques Villeneuve, irmão de Gilles.

Mas outra bomba cairia naquele paddock no final de semana canadiano: Alan Jones, o campeão de 1980, decidira anunciar a sua retirada, com efeito no final da época. Esperava vencer as corridas que seguiam para revalidar o título e sair por cima da situação. Era possivel, mas não era fácil. mas havia outros rumores nesse paddock, um deles falava de um teste feito na McLaren a Niki Lauda em Silverstone, e parecia que o austriaco tinha voltado a ganhar vontade em correr...

As duas sessões de qualificação decorreram em clima seco, onde apesar de Laffite ter dominado, a "pole-position" acabou nas mãos do Brabham de Nelson Piquet, com o Williams de Alan Jones a seu lado. Na segunda fila estava o segundo Williams de Carlos Reutemann, seguido pelo Renault de Alain Prost. O Lotus de Nigel Mansell era quinto, seguido pelo segundo Brabham do mexicano Hector Rebaque. Elio de Angelis, no segundo Brabham, era o sétimo, e René Arnoux era o oitavo. O "top ten" fechava com o McLaren de John Watson e o Ligier de Jacques Laffite.

Logo a seguir, no 11º posto, estava o piloto da casa, Gilles Villeneuve, no seu Ferrari. E teve muito melhor sorte do que o seu irmão Jacques, que foi um dos seis pilotos não qualificados nessa corrida. Os restantes cinco azarados foram os Fittipaldi de Chico Serra e Keke Rosberg, os Toleman de Brian Henton e Derek Warwick e o Osella de Beppe Gabbani.

O dia de corrida começou com chuva miudinha, mas à medida que a hora da largada se aproiximava, as condições meteorológicas agravavam-se, alagando a pista e tornando a condução mais difícil. Após quase hora e meia de atraso, os organizadores decidiram não esperar mais e dar a largada, mesmo com a chuva a cair. Quando apareceu a luz verde, Piquet teve uma má largada e foi superado pelos Williams. Reutemann queria aproveitar, mas Jones estava mais rápido do que ele e o superou numa manobra tão ousada que o argentino teve de levantar o pé, ocasião aproveitada por Piquet e Prost para o ultrapassar. Atrás, Arnoux estava entalado entre os Ferrari de Pironi e Villeneuve e acaba por tocar na traseira do carro numero 28, fazendo-o despistar.

À medida que a corrida continuava, sob condições pouco recomendáveis, os incidentes continuavam. Na volta sete, Jones faz um pião e cede o comando a Prost. Ao mesmo tempo Laffite começa a fazer uma corrida de recuperação. Aos poucos, ultrapassa Watson, Reutmann e Piquet, e aproxima-se da frente. entretanto, Jones desiste na volta 24, devido a problemas de direção do seu carro, e assim deitava fora as suas hipóteses de título. Enquanto isso acontecia, Laffite aproxima-se de Prost, com Villeneuve logo atrás, na terceira posição. e fica com a liderança, distanciando-se do seu compatriota.

Entretanto, Gilles Villeneuve luta com o Lotus de Nigel Mansell pelo terceiro lugar e no gancho do Casino, um toque entre os dois faz com que a asa dianteira do Ferrari ficasse danificada. É aí que começa a dar espectáculo, pois o seu o bico da frente desfaz-se aos poucos, bloqueando-lhe a visão. Ele tenta removê-lo por todos os meios possíveis, mas enquanto faz isso, no meio da chuva, a multidão entra em delírio! Os comissários, bem pelo contrário, não estão felizes e querem penalizar Villeneuve com a bandeira preta, mas quando isso estava para acontecer, a parte da frente consegue sair dali e podia continuar a sua corrida. Mais uma exibição para atiçar o mito…

Na volta 45, Prost, que tinha caído para quarto, começava a ser ameaçado pelo Lotus de Mansell, e este decide passar pelo francês. contudo, a manobra foi mal calculada e os dois tocam-se. Mansell abandona logo, enquanto que Prost aguenta ainda mais três voltas, até ser vítima de acidente. E para o jovem francês, era o fim da sua candidatura ao título…

No final, a bandeira de xadrez é mostrada na volta 63, sete menos do que as 70 previstas, devido ao fato de se ter alcançado o limite das duas horas. Laffite corta a meta totalmente feliz: para além de ganhar, a sua candidatura ao título estava relançada, e tinha de apenas repetir a façanha dali a quinze dias, no parque de estacionamento do Ceasar’s Palace, em Las Vegas. John Watson era segundo, no seu McLaren, e Gilles Villeneuve ficava com o lugar mais baixo do pódio, mas com mais uma exibição para os anais da história do automobilismo. Nos restantes lugares pontuáveis ficavam o Alfa Romeo de Bruno Giacomelli, o Brabham de Nelson Piquet e o Lotus de Elio de Angelis.

No final dessa corrida, outro piloto feliz da vida era Nelson Piquet. Apesar de ter acabado em quinto, os seus rivais da Williams não tinham pontuado: Jones desistira, e Reutmann tinha acabado num pálido décimo posto, a três voltas do vencedor. Reutemann ainda liderava, mas bastava a Piquet ficar à frente dele e o título era seu. E esperava fazer isso em Las Vegas...

Fontes:

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...