sexta-feira, 18 de maio de 2007

GP Memória: Estados Unidos 1970

O Grande Prémio dos Estados Unidos desse ano, decorrido no circuito de Watkins Glen, foi marcante em muitos aspectos. Foi o primeiro Grande Prémio onde o vencedor falou português, e foi aqui que se construiu a estratégia para fazer de Jochen Rindt Campeão do Mundo... depois de morto.

Tinham passado 30 dias desde que Rindt teve o seu acidente fatal em Monza. Após isto, a Ferrari viu aí uma oportunidade de ouro para ser Campeã do Mundo, com o belga Jacky Icxx nos comandos. A Lotus, com o seu modelo 72, estava em convulsão. Sem Rindt e John Miles, que se tinha ido embora, abalado com os acontecimentos de Monza, confiava no seu terceiro piloto: um jovem brasileiro de 23 anos chamado Emerson Fittipaldi. Na sua primeira temporada incompleta na categoria máxima do automobilismo, as circunstâncias tinham atirado para o lugar de primeiro piloto. Para coadjuvá-lo, e para ajudar na estratégia de Chapman para fazer de Rindt o novo campeão do Mundo, contratou o sueco Reine Wissel, que vinha da Formula 2.

Nas outras equipas, haviam algumas novidades: John Surtees tinha construido e inscrito um segundo chassis para o seu compatriota Derek Bell, enquanto que na BRM, havia um quarto carro para o britânico Peter Westbury. Quem voltava a correr era o americano Pete Lovely, no seu Lotus 49, depois de algumas corridas de ausência.

Para que o belga Icxx pudesse ser campeão do Mundo, teria que ganhar as três provas a seguir a Monza. Já tinha feito isso, ganhando em Mosport, com o seu companheiro, o suiço Clay Regazzoni, a ajudar na dobradinha. E agora, em Watkins Glen, tinha tudo para conseguir repetir a façanha. Nos treinos, alcançou a pole-position, seguido pelo Tyrrell de Jackie Stewart. Na segunda fila estavam o Lotus de Emreson Fittipaldi e o BRM do mexicano Pedro Rodriguez, enquanto que na terceira estava o March de Chris Amon, à frente do segundo Ferrari de Regazzoni. O BRM de Jackie Oliver era o sétimo na grelha, imediatamente andtes do carro de Surtees. Wissel adaptava-se bem, ao ser o nono, à frente do veteranissimo Graham Hill, no seu Lotus 72 da Rob Walker Racing.

Numa grelha de 24 carros, havia 27 pilotos inscritos. Logo, três deles teriam de ficar de fora. E os infelizes contemplados foram o aniversariante Andrea de Adamich, no seu McLaren-Alfa Romeo, o Lotus de Pete Lovely e o BRM de Peter Westbury.

No Domingo, 4 de Outubro de 1970, estavam mais de 100 mil pessoas para assistir à última vez em que o Autódromo de Watkins Glen era usado na versão das 2,35 milhas. Uma breve tempestade, 20 minutos antes do início da corrida, veio apimentar as coisas, mas o asfalto estava seco no momento da partida. Aí, Stewart e Rodriguez partiram na frente, deixando Icxx em terceiro e Fittipaldi caia para oitavo, superado por Regazzoni, Icxx, Amon, Surtees e Oliver. Na volta 17, os Ferrari estavam na peugada de Stewart, enquanto que Fittipaldi conseguira subir para quinto, superando Surtees e ficando atrás de Rodriguez.

A meio da corrida, Stewart mantinha-se imperial na liderança, apenas na segunda corrida em que a Tyrrell participava com carro próprio. Seguiam-se Icxx, Rodriguez e Fittipaldi, que tinha superado Amon na luta pela na quarta posição, quase a uma volta do escocês. Tudo corre sobre rodas quando subitamente, as coisas alteram-se: na volta 57, Icxx tem que ir às boxes devido a um problema no tubo de combustível, e cai para a 12ª posição. A partir daí faz uma corrida de recuperação, mas seria muito dificil o belga chegar à liderança, pois só os nove pontos serviam para que ele ainda pudesse pensar em ficar com o título.

Na frente, tudo indicava que Stewart estava a caminho dar ao “tio” Ken a sua primeira vitória com chassis próprio. Mas na volta 83, uma fuga de óleo iria fazer com que encostasse à berma. Nesse momento, o BRM de Rodriguez passava para a frente, com Fittipaldi em segundo e o estreante Wissel conseguia subir para o terceiro posto. Rodriguez estava a controlar as coisas, mas o motor V12 BRM era um monstro de combustível, e a oito voltas do fim, viu que arriscava a ficar parado na pista sem pinga de gasolina e teve que fazer um rápido reabastecimento.

Assim sendo, Fittipaldi passava para a frente... na sua quarta corrida da carreira! Pouco depois, recebeu a bandeira de xadrez e os 50 mil dólares do prémio para o primeiro classificado. Anos depois, Fittipaldi descreveu esse momento: “Quando cruzei a linha, vi Colin Chapman a pular de alegria e a atirar o seu chapéu ao ar. Tinha-o visto a fazer por Jim Clark, Graham Hill e ao Jochen Rindt, e dizia para mim próprio: ’Está a fazê-lo por mim. Ganhei a corrida. Ganhei o Grande Prémio dos Estados Unidos e é inacreditável’”.

Pedro Rodriguez e o sueco Reine Wissel acompanharam-no no pódio, e nos restantes lugares pontuáveis ficavam o Ferrari de Ickx, o March de Amon e o Surtees de Derek Bell. Com esta vitória, Jochen Rindt era campeão do Mundo, o único a consegui-lo depois de morto, e a Lotus conquistava mais um título mundial. Rei Morto, rei posto: tinha nascido um piloto que iria ser um dos maiores da década que aí vinha.

Fontes:

6 comentários:

  1. Foi um campeonato justo para Rindt, tinha feito uma prova espectácular, e curiosamente a primeira vitória de Rindt foi em Watkins Glen

    http://16valvulas.wordpress.com

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  2. E assim nasceu um campeão. Também poderia ter tido sucesso no pugulismo (como pode confirmar o Eliseo Salazar....)

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  3. jocasipe, lamento corrigir-te, mas isso foi com o Nelson Piquet...

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  4. não sei porque, mas, tenho uma antipatia incrivel por watkins glen... parece que aquela pista tem um "ar obscuro", ao meu ver...

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  5. ainda bem que não ficou com o Ickx. Um piloto que sempre pregou a segurança, mas que na hora do vamos ver, jogava duro como qualquer outro. Bellof que o diga...

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  6. Emerson, um dos maiores da F1 sem dúvida...

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...