quinta-feira, 17 de maio de 2007

O piloto do dia: Clay Regazzoni

Hoje quero fazer a minha homenagem a um veterano corajoso, mais um que pertenceu à aquela geração de pilotos polivalentes que ajudou a crescer a competição para aquilo que conhecemos hoje. A sua carreira foi longa, e teve um fim abrupto. Apesar de tudo, não deixou de competir e fazer o que gostava mais. O seu fim pareceu tão irónico, sabendo que escapou à morte por muitas vezes… Falo de Gianclaudio (ou se perferirem, Clay) Regazzoni.

Ao contrário do que se pensa, ele não era italiano de nascimento, mas sim suíço. Nasceu na cidade de Lugano, a 5 de Setembro de 1939. Começou a correr em 1963 e foi campeão europeu de Formula 2 em 1970. No mesmo ano estreou-se na Formula 1, no Grande Premio da Holanda, ao volante de um Ferrari. Na Áustria, acabou em segundo lugar, e na corrida seguinte, o Grande Premio de Itália, obteve a sua primeira vitoria, num fim de semana marcado pela trágica morte de Jochen Rindt, que viria a ser nesse ano o único campeão do mundo a titulo póstumo. No final dessa temporada alcançou 33 pontos e foi terceiro classificado, com uma vitória, quatro pódios, três voltas mais rápidas e uma pole-position, no México.



Em 1971, Clay consegue três terceiros lugares e uma pole, em Inglaterra,. No final da temporada, os 13 pontos deram-lhe o sétimo lugar da geral. Em 1972, a Ferrari estava mal, e só conseguiu dois pódios, em Espanha e Alemanha. No final da temporada, manteve o sétimo posto do ano anterior, mas desta vez com 15 pontos.

Em 1973, decide ir para a BRM, onde conheceu um jovem austríaco, chamado Niki Lauda. Os dois tornam-se grandes amigos, e na Africa do Sul, Regazzoni esteve prestes a morrer queimado, quando o inglês Mike Hailwood (1940-1981) o salvou. Devido a esse feito, Hailwood, antigo campeão mundial de motos, foi condecorado com a George Medal, a mais alta condecoração por bravura. Mas aparte disso, Regazzoni constatou que o carro não era competitivo, e conseguiu apenas dois pontos, apesar de uma pole-position na Argentina.

Em 1974, volta à Ferrari, e recomenda ao "Commendatore" a contratação de Lauda. Este acedeu e formaram uma das melhores duplas dos anos 70. Durante essa temporada, Reggazoni é presença regular no pódio, apesar de só ter ganho uma corrida, em Nurburgring. Quase ganhou o campeonato, mas um 11º lugar em Watkins Glen, devido a problemas de dirigibilidade, viu fugir o sonho do título para Emerson Fittipaldi. No final, consolou-se com o vice-campeonato, com 52 pontos, uma vitória, uma pole-position, três voltas mais rápidas e sete pódios.


Para 1975, “Regga” tinha boas esperanças para a conquista do campeonato, mas Lauda estava em melhor forma. Só ganhou em Monza, e teve mais dois pódios, para além de quatro voltas mais rápidas. Acabou a temporada em quinto na classificação geral, com 25 pontos. Continuou a correr pela marca do Cavalino Rampante em 1976, mas apesar de um bom inicio de temporada, ganhando em Long Beach, partindo da pole-position, no final da temporada, foi substituído pelo argentino Carlos Reutmann. Terminou em quinto no campeonato, com 31 pontos, uma vitória, uma pole-position, duas voltas mais rápidas e quatro pódios.

Para 1977, arranjou lugar na Ensign, de Morris (Mo) Nunn onde o melhor que conseguiu fora dois quintos lugares e um sexto. Esses cinco pontos deram-lhe o 17º lugar na geral. Para 1978, mudou-se de armas de bagagens para a Shadow, onde não conseguiu melhor do que dois quintos lugares. Quatro pontos que lhe deram o 17º lugar da geral.



Em 1979, nova mudança, para a Williams. Contratado para o lugar de segundo piloto, aliou a sua veterania (tinha quase 40 anos) com rapidez, e no Mónaco foi segundo, muito perto do vencedor, o Ferrari de Jody Scheckter. E em Silverstone, vai ser ele a fazer história, quando dá a Frank Williams a primeira vitória da equipa, numa corrida onde tudo estava feito para o seu companheiro Alan Jones. Contudo, essa vitória foi comemorada com sumo de laranja, por deferência aos seus patrocinadores sauditas…

No resto da temporada, Regazzoni consegue mais três pódios e duas voltas mais rápidas, terminando a temporada em quinto lugar, com 29 pontos. Apesar desta boa temporada, ele não fica na Williams, que contrata… Carlos Reutmann.

Sem um carro competitivo, Regazzoni volta para a Ensign em 1980, aos 40 anos. Na quarta prova do campeonato, o Grande Premio de Long Beach, Regazzoni sofreu um acidente grave, que provocou a paralisia dos seus membros inferiores. O acidente deveu-se a uma falha de travões, e bateu no carro de Ricardo Zunino, que estava parado, devido a uma falha dos organizadores, que o deviam ter retirado do local. Depois do acidente, Regazzoni processou os organizadores do Grande Prémio, devido às suas evidentes falhas de segurança. Os organizadores ganharam o processo.

A sua carreira ficou assim: 139 Grandes Prémios, em 11 temporadas, cinco vitórias, cinco pole-positions, 15 voltas mais rápidas, 28 pódios, 209 pontos válidos em 212 obtidos.



Mesmo assim, após o fim da sua carreira não deixou de estar activo. Readquiriu a licença de condução, participou em varias corridas, como o Paris-Dakar, em carros e camiões, nas 24 Horas de Le Mans, entre outras actividades, sempre relacionadas com a deficiência física, como uma escola de condução especial, bem como várias campanhas de sensibilização rodoviária.

Acerca da sua paralisia, afirmava filosoficamente: "Vês crianças com cancro, e ficas com vergonha — vais ter muitos bons anos de vida pela frente, coisa que eles não vão ter. Não posso andar, mas posso guiar o meu Ferrari, tenho a minha escola de condução para deficientes, posso correr. Já não estou mais desesperado." Foi também comentador de Formula 1 em canais de TV suíços e italianos, e em 1982 escreveu a sua autobiografia: "E questione di cuore".

Morreu a 15 de Dezembro de 2006, num acidente nos arredores de Parma, quando voltava do Salão de Bolonha. Suspeitou-se de um ataque cardíaco, mas a autópsia excluiu tal hipótese. Tinha 67 anos.

Para finalizar: quando Nigel Roebruck, lendário jornalista do Autosport inglês, perguntou no final de 1979, a razão pelo qual ainda corria aos 40 anos, ele respondeu: “Adoro a Formula 1 e adoro guiar carros de competição. Se é assim então para quê parar?”. Era mesmo uma questão de paixão…

5 comentários:

  1. O Mike Hailwood era muito parecido com o Robin Williams (atror) e o Phill Collins. Grande história, Speeder. O Clay Regazzoni é o maior exemplo de como devemos levar nossas vidas: numa boa, sem stress. Sem contar a lição de vida, ao participar em le mans e de Dakar, mesmo depois de paraplégico. E ele era um grande conquistador também...

    Eu tenho um relato interessante um repórter brasileiro a respeito dele. Daqui a pouco eu coloco aqui pra vc, Speeder...

    Abração

    ResponderEliminar
  2. Lá vai, Speeder...

    um fragmento de uma coluna do Marcus Zamponi, intitulada "Jantar com Regazzoni"...

    "(...)Logo após aquele primeiro GP de 1973, eu já estava na Inglaterra, duro, mas orgulhoso de minha recém conquistada função de "aspone" na March, uma indústria de carros de competição. Eu via os pilotos meio de longe e era louco para participar de algum papo, ouvi-los na intimidade. Mas não tinha chance. Belo dia, meu guru da época, o italiano Sandro Angeleri telefonou com o convite: "O que está fazendo? Estou indo jantar com o Rega em Swiss Cottage. Vai cruzar a gente". Saí babando. Logo com o Clay Regazzoni? Lancei um desodorante meio vagabundo, escolhi a roupa menos amassada e em meia hora estava lá, um restaurante metido a besta, ao ar livre.

    Eles já estavam instalados. A estrela me recebeu com educação, sempre o maior sorriso no meio do bigode. Eu queria ouvir tudo, saber dos bastidores, captar um pouco daquele arquivão de emoções. O cara falava, falava ... mas, só de mulher. Tudo bem, afinal - aleluia! - , era o Clay Regazzoni, eu estava ali de frente para ele e o Sandro meio enviesado. Lá pelas tanta, sinto uma alisada na batata da perna. Não liguei. Logo depois outra, e mais outra mansinha, ardilosa. Olhei para o Regazzoni e ele me olhava bem nos olhos, fisionomia séria. Fiquei na minha. Outra alisada e imaginei a maior decepção. Poxa, só faltava meu herói ser veado. Mais outra e o bicho me encarando. Aí, quando pintou de novo aquele encosto safado não tive dúvida, mandei o maior bico. No que eu tentava me recompor, ouvi um miado murcho e um gato saiu do meio de nós, correndo pelo jardim. Olhei com cara de bunda para o Regazzoni, que ria com gosto. Aí, ele virou-se para o Sandro e falou em italiano: "Nossa, pensei que o teu amigo estava me alisando...". (...)

    ResponderEliminar
  3. Clay corria por amor aos carros, ao desporto e à velocidade...
    coisas que me pergunto se neste momento na F1 existe.

    Http://16valvulas.wordpress.com

    ResponderEliminar
  4. Sempre gostei do Clay. Tiv o prazer de o cumprimentar em évora, no ano de 2003 nas 24H de karting. Senti-me emocionado.

    ResponderEliminar
  5. Cara, Clay era um dos pilotos que eu dizia que dirigia nas minhas corridas de miniatura quando era criança. Fiquei triste para caramba quando soube que ele morreu.
    Bellíssima lembrança...
    E vá ver como você se saiu na formula bus,lá no meu blig.
    Ron Groo

    ResponderEliminar

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...