Foi-se embora um grande senhor do cinema mundial. O realizador sueco Ingmar Bergman morreu hoje, pouco depois de ter completado 89 anos, informou hoje a sua filha à agência sueca TT. "A morte veio-lhe calma e docemente", disse Eva Bergman, sem precisar a causa e a hora exacta da morte do cineasta. A cerimónia fúnebre será recatada, apenas na presença de amigos e família, mas ainda não foi avançada a data e o local.
Bergman nasceu a 14 de Julho de 1918, em Uppsala, a norte de Estocolmo. O seu pai, um pastor luterano, tratava com desdém e austeridade o jovem Bergman, uma criança frágil e doente. O realizador começou a sua carreira como argumentista e chegou a realizar anúncios publicitários, para contornar o desemprego. A sua estreia no mundo cinematográfico aconteceu em 1955, com "Sorrisos de Uma Noite de Verão", uma comédia de costumes sofisticada que tinha como cenário a Suécia da viragem do século. O filme acabou por vencer o prémio de melhor comédia no Festival de Cannes em 1956.
O reconhecimento internacional chegou com a película "O Sétimo Selo", passada na Idade Média, que venceu o prémio do júri de Cannes em 1957. Filmes como "Cenas de um Casamento" e "Fanny e Alexandre", nomeados para os Óscares, deram a Bergman o estatuto de grande mestre do cinema moderno europeu.
Em 1963, Bergman foi nomeado director do Teatro Nacional sueco e em 1985 recebeu a distinção de Comendador da Legião de Honra francesa. Dois anos mais tarde, publicou a sua autobiografia, "A Lanterna Mágica". Um ano depois, fundou, com outros dois cineastas, a Academia Europeia de Cinema. Em 1997 recebeu a Palma de Ouro de carreira no Festival de Cannes.
Fora das luzes do cinema e do teatro, Bergman era, sobretudo, conhecido como um amante de mulheres. Casou-se por cinco vezes e as suas aventuras com as actrizes principais dos seus filmes eram sobejamente conhecidas. O actor teve nove filhos, das suas várias relações, a maioria deles seguiu uma carreira artística. Em 2004 decide retirar-se do cinema e do teatro, aos 86 anos.
Os tributos ao cineasta sueco não tardaram a chegar. Para o realizador português João Mário Grilo, Ingmar Bergman descreveu "uma relação sensualista entre as personagens e o mundo. A humanidade, a partir da segunda metade do século XX, é devedora desta descoberta das relações humanas", referiu, em declarações ao versão online do jornal "Público".
Para outro realizador, Joaquim Sapinho, a filmografia de Bergman é "é um hino à vida, à juventude, à velhice", referiu. "Bergman é a vida, a verdadeira vida, e não a vida do cinema. E o primeiro realizador a filmar a juventude. Fico assim comovido", afirmou.
"É absolutamente único", elogia o encenador, actor e realizador Jorge Silva Melo. "E todos os que o tentaram imitar não se saíram bem", disse o encenador, em declarações ao PUBLICO.PT, referindo como exemplo Woody Allen. Fundador do grupo de teatro Artistas Unidos, considera que Ingmar Bergman "foi dos mais extraordinários realizadores" e "um homem que compreendeu o cinema como uma companhia de teatro".
E para nós, foi-se mais um testemunho daquilo que foi o nosso século XX. Os seus filmes ficam-nos como legado. Ars lunga, vita brevis.
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