Ele fez ontem anos, mas como ainda estamos em tempo de rescaldo da Formula 1 e tenho compromissos profissionais para fazer, não tenho muito tempo para me dedicar às biografias. Mas ainda vou a tempo, acreditem!
Sendo assim, vou começar. Hoje quero falar de um paradoxo: um homem que esteve de passagem pela Formula 1, foi grande em outras categorias, e tornou-se num exemplo para todos, pela sua coragem e vontade de viver. E depois de ver passar a vida à sua frente e de perder uma parte de si, nunca desistiu de lutar e voltar a fazer o que mais gosta: correr. Ele chama-se Alessandro Zanardi.
Alessandro Zanardi nasceu a 23 de Outubro de 1966, (faz agora 41 anos) na cidade de Bolonha, no centro de Itália. Zanardi teve uma irmã, nadadora profissional, que morreu em meados da década de 80 num acidente de viação. Devido a isso, as suas aspirações de competir no automobilismo foram inicialmente opostas para sua familia. Somente aos 13 anos é que começou a competir, nos karts. Em 1988, passou para os monolugares, sendo vice-campeão italiano em 1990.
No ano seguinte, para para o Europeu de Formula 3000, a bordo de uma equipa nova: a Il Barone Rampante. Ganhou na sua prova de estreia, mostrando tudo e todos que era um piloto rápido e vencedor. Ganhou mais uma prova e terminou a época como vice-campeão, atrás do brasileiro Christian Fittipaldi. Isso atraiu a atenção das equipas de Formula 1. No final dessa temporada, Eddie Jordan procurava um segundo piloto, depois das complicações passadas por Bertrand Gachot, e do fenómeno Michael Schumacher. Sendo assim, escolheu Zanardi para a três provas finais do campeonato, não conseguindo melhor do que dois nonos lugares.
Em 1992, torna-se pilotos de testes da Benetton, mas corre durante três corridas pela Minardi, substituindo um acidentado Christian Fittipaldi. Não conseguiu qualificar-se em duas corridas, e na que entrou, acabou por não terminar a corrida. Mas no final dessa época, foi para a Lotus, substituindo o finlandês Mika Hakkinen.
Sendo segundo piloto da marca, não teve muitas oportunidades para brilhar, mas o seu melhor momento foi o sexto lugar no Brasil, que lhe deu o seu primeiro e unico ponto na Formula 1. Ainda foi sétimo no Mónaco, mas durante os treinos de sexta-feira, no circuito de Spa-Francochamps, sofre um grave acidente na saída do Radillon, que causou algumas lesões, que o colocaram fora da equipa até o final da época. O seu substituto foi o português Pedro Lamy.
Em 1994, estava de fora da Formula 1, mas teve que voltar de novo à Lotus, substituindo outro piloto gravemente magoado: Pedro Lamy! O seu desempenho não foi brilhante, e no final da época ficou sem lugar na categoria máxima do automobilismo, devido ao fecho definitivo da Lotus. No ano seguinte, Zanardi esteve em competições de Sport, na sua Itália natal, e parecia que ia ficar por aqui. Mas um convite para correr nos Estados Unidos iria dar um rumo gigante na sua carreira, e na sua vida.
No inicio de 1996, Alex Zanardi assinou pela equipa Chip Ganassi, uma das mais populares da CART, ao lado do americano Jimmy Vasser, que iria ser campeão naquele ano. Rapidamente tornou-se num dos pilotos mais populares do pelotão, ao fazer a "pole-position" na sua segunda corrida da competição, e ganhou a sua primeira corrida no meio do ano. As suas performances fizeram-no acabar na segunda posição do campeonato, empatado com o americano Michael Andretti, e ganhar o título de "Rookie do Ano". No ano seguinte, ganha o primeiro dos seus dois títulos na CART, e repete a façanha em 1998, ganhando ao todo doze corridas nas séries.
Uma dessas vitórias foi memorável por uma razão: uma ultrapassagem de génio, numa das curvas mais difíceis do automobilismo: a curva Saca-Rolhas em Laguna Seca. Na prova de 1996, Zanardi lutava pela liderança com o americano Bryan Herta, e muito perto do fim, o italiano fez a ousada manobra, para espanto dos especialistas e o entusiasmo dos fãs. No final, Zanardi comemorou a vitória com vários piões (ou "donuts"), inaugurando uma maneira de comemorar que se mantêm nos dias de hoje.
No final de 1998, a sua rapidez e popularidade como piloto fez despertar de novo o interesse das equipas de Formula 1. Frank Williams queria um substituto para Jacques Villeneuve, que tinha abandonado a equipa para abraçar o projecto da BAR, e escolheu Zanardi, que assinou por três épocas, tendo como companheiro o alemão Ralf Schumacher. Apesar de boas indicações nos testes de pré-época, a temporada foi má para o italiano. Pouca fiabilidade, aliado a erros de palmatória por parte do piloto italiano (só brilhou em Monza), fez com que ele no final da época acabasse sem pontos. no final de 1999, a Williams decidiu dispensar os seus serviços. Voltava a sair da Formula 1 pela porta pequena.
Depois de tirar um tempo para si em 2000, em 2001 decide voltar para onde ele tinha sido feliz: a CART. Assinando pela Mo Nunn (que fundou a equipa Ensign nos anos 70), não foi um regresso auspicioso. Pouca fiabilidade e mais alguns erros faziam com que este regresso não fosse muito bom. E a 15 de Setembro de 2001, quatro dias depois dos atentados de Nova Iorque e Washington, Zanardi passa pela pior experiência da sua vida.
Na oval alemã de Eurospeedway, em Lauritzring, Zanardi corria o Memeorial 500, e estava a liderar a corrida pela primeira vez naquele ano. Após uma saída das boxes, perdeu o controle do carro e entrou na pista, onde encontrou o carro do canadiano Alex Tagliani, à velocidade máxima. Ambos os carros se desintegraram, mas Tagliani escapou com ferimentos menores.
Em circunstâncias normais, eu estaria a descrever um acidente mortal. Mas não foi. Contudo, as sequelas foram marcantes: perda das duas pernas e mais de quatro litros de sangue. "Mais dez minutos e estaria morto", declarou mais tarde. Depois de uma prolongada recuperação, estabeleceu um plano para... voltar a correr ao mais alto nivel. Desenhou as suas próprias próteses, e no ano seguinte, voltou ao local do seu acidente quase mortal, para fazer as voltas que lhe faltavam naquela corrida, no mesmo modelo. A sua média foi tão alta que, se fosse numa competição a sério, teria dado para fazer o quinto tempo da corrida.
Com estes sinais, voltou-se para os Turismos italianos, começando a competir a sério, a bordo do BMW da equipa de Roberto Ravaglia. Em 2005, vai para o WTCC e torna-se campeão italiano e vence uma corrida do Mundial, em Oberschleben. Correntemente, ainda está na BMW, no WTCC, onde ainda dá espectáculo, e consegue ser um exemplo para todos. E esse exemplo foi demonstrado pela Fundação Laureus, que lhe atribuiu o prémio para o "Regresso do Ano", em 2005.
No final de 2006, voltou a correr num Formula 1, desta vez a bordo de um BMW Sauber, na pista de Valência, onde tirou tempos muito aceitáveis, e após mais uma temporada ao mais alto nível em 2007, a bordo de um BMW do WTCC, vai fazer a Maratona de Nova Iorque, pedalando numa máquina desenhada por si. Um grande exemplo de vida!
Já agora, eis o site oficial: www.alex-zanardi.com
Nossa, eu tamben estava preparando un texto dele, mais o seu esta excelente :)
ResponderEliminarUm dos meus ídolos. Assisti a corrida do acidente do Zanardi ao vivo (inclusive, mantando aula na faculdade...) e foi um dos resgates mais impressionantes que eu já vi. Se antes do acidente, Zanardi era meu ídolo apenas no automobilismo, após 2001 ele também é meu ídolo na vida!
ResponderEliminarSou fã do Zanardi desde as proezas dele na extinta Fórmula CART. Vi a corrida do acidente pela televisão e cá dentro eu sabia que ele tinha sobrevivido, mas pensei que ele acabasse com a carreira, em 2004 recebi uma das maiores alegrias que este deporto me deu, que foi o regresso do Alex Zanardi há alta competição, no WTCC. Após 2001 passou a ser um grande exemplo de vida para mim.
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