É raro, mas hoje dedico uma biografia a um dos pilotos dos primórdios da Formula 1. Hoje em dia, é um dos raros pilotos do seu tempo ainda vivos, e este ano comemorou o seu 85º aniversário de vida. Foi o homem que deu a Enzo Ferrari a sua primeira vitória na Formula 1, e os ingleses o apelidaram de "Touro das Pampas". No passado dia cinco de Outubro, comemorou mais um aniversário natalício. Falo de José Froilan Gonzalez.
Nasceu a 5 de Outubro de 1922 na cidade de Arrecifes, na Argentina. O seu pai era dono de um concessionário da Chevrolet. O seu físico, bem roliço, fazia enganar as pessoas, pois ele não era gordo, era forte. Mesmo forte em termos de desporto! Depressa os seus amigos o chamavam de "El Cabezon", mas era mais em sinal de respeito do que por outra coisa.
Em meados dos anos 40 , começou a correr nas grandes "Carreteras" que existiam um pouco por toda a América do Sul. Os seus maiores rivais eram os seus compatriotas Oscar Galvez e Juan Manuel Fangio, e apesar de ser mais novo do que os outros dois, muitas das vezes conseguia batê-los, ganhando-lhes o respeito. Entre as corridas, ajudava o pai no negócio da camionagem na sua terra natal.
Em 1949, o Governo Argentino, de Juan Perón, deu-lhe a oportunidade da sua vida: decidiu pagar uma temporada inteira na Europa aos melhores pilotos de então. Juan Manuel Fangio foi um deles, enquanto que o outro foi Gonzalez, então com 27 anos. Ambos os pilotos guiavam um Maserati 4CLT, e o melhor que Gonzalez conseguiu foi um segundo lugar no GP de Albi, atrás do Talbot de Louis Rosier.
Chegados a 1950, e a AIACR (um dos antepassados da actual FIA) organizou o primeiro campeonato oficial de Formula 1. Não participou na primeira prova, em Silverstone, mas participou na prova seguinte, no Mónaco. Com o mesmo Maserati 4CLT, não foi muito longe, pois envolveu-se na primreira carambola da história da competição, que resultou na eliminação de dez carros. Participou em mais uma corrida, no circuito de Reims, onde não terminou.
Em 1951, os seus talentos não passaram despercebidos a Enzo Ferrari, que procurava um substituto para Piero Taruffi, que estava em dois frentes (cuidava de uma equipa no Mundial de motociclismo). Para o Commendatore, Gonzalez era o perfeito rival para Juan Manuel Fangio, que era o primeiro piloto da Alfa Romeo, com o modelo 158... de antes da Guerra! Apesar do dominio dos Alfas, o novo Ferrari 166 tinha um motor de 4,5 litros que consumia menos combustível que os Alfas, que estavam equipados com um motor sobrealimentado de 1.5 litros.
Uma ideia de como as coisas estariam a mudar aconteceu em Reims, no Grande Prémio de França: Gonzalez liderou boa parte da corrida, mas teve que ceder o seu carro para Alberto Ascari, o homem da casa e indiscutível primeiro piloto da marca. Quem acabou por ganhar a corrida foi a alfa Romeo, através de Juan Manuel Fangio, que corrida num carro... cedido pelo italiano Luigi Fagioli.
Mas na corrida seguinte, em Silverstone, tudo mudou. Nos treinos, o Ferrari de Gonzalez conseguiu superar os Alfa Romeo, conseguindo a "pole-position" a uma média de 163 km/hora, bem mais alto que os 157,4 km/hora alcançados no ano anterior por Nino Farina. Na corrida, foi um duelo argentino, entre Fangio e Gonzalez: primeiro juntos, com Nino Farina a vigiá-los de perto, e depois, a partir da volta 49, altura em que Fangio teve que reabastecer o Alfa, Gonzalez, cujo Ferrari era capaz de ficar mais tempo sem reabastecer, passou logo para a frente.
À volta 61, é a vez de Gonzalez parar nas boxes. Ele tinha um avanço de 1.13 minutos sobre o seu compatriota, e via nas boxes o seu companheiro Alberto Ascari, que tinha desistido umas voltas antes, com o câmbio partido. Sabendo que ele era o primeiro piloto, perguntou se queria que cedesse o seu lugar a ele, mas o italiano disse-lhe que continuasse, pois não queria estragar-lhe a hipótese de ganhar a corrida. Depois de 23 segundos de paragem, Gonzalez voltou à pista e controlou o avanço que tinha sobre Fangio, apesar deste ter aumentado o andamento até que a diferença ter ficado nos 10 segundos.
Apesar disso, Gonzalez conseguiu controlar tudo e cortou a meta em primeiro lugar, dando à marca do Cavalino Rampante a primeria das suas 200 vitórias em Formula 1. Essa vitória marcou um ponto de viragem: o fim da era dos motores sobrealimentados, de 4,5 Litros, e o inicio de uma nova era.
Quanto a Enzo Ferrari, tinha a sua vingança. Apesar de tudo, ainda tinha sentimentos pela Alfa. Disse que "sentia que matado a sua própria mãe". No final da época, A Alfa retirava-se da competição no final da época, só voltando a sério 25 anos mais tarde. Nesse ano, Gonzalez alcançou mais quatro pódios, ficando no final da época na terceira posição, com 24 pontos.
Em 1952, só alinha numa corrida, a bordo de um Maserati, conseguindo o segundo lugar em Monza. Esta unica participação foi parco fruto da colaboração que Gonzalez teve com a Scuderia do Tridente. Um acidente no icio da época, em Monza, quando disputava uma prova de Sport, deixou-o em convalescença durante grande parte do ano. Coincidência ou não, Juan Manuel Fangio também ficou lesionaod boa parte desse ano... em testes no Autodromo de Monza!
No ano seguinte, Enzo Ferrari chama-o de volta, pois precisava de um bom piloto para substituir Alberto Ascari e Luigi Villoresi, que tinham abraçado o projecto da Lancia. Não foi um grande ano para Gonzalez, mas conseguiu três pódios em Buenos Aires, Reims e Zandvoort. No final da temporada, alcançou a sexta posição, com 13,5 pontos.
Em 1954, Gonzalez e a Ferrari tornaram-se nos maiores rivais da recém-chegada Mercedes-Benz, que estava de volta à Formula 1. Eles se apresentaram no Grande Prémio de França, onde fizeram dobradinha, com Fangio a ser melhor que o alemão Karl Kling. Mas na corrida seguinte, em Silverstrone, Gonzalez deu uma autêntica lição de pilotagem aos Mercedes, tal como tinha feito três anos antes com a Alfa Romeo. Gonzalez faz a "pole-position", e domina a corrida, pois a estreiteza da pista favorece mais os Ferrari que os aerodinamismos do Mercedes W196... foi mais uma vitória memorável para Gonzalez e para a Ferrari.
Contudo, na prova seguinte, os argentinos sofrem um abalo forte: um dos seus grandes pilotos, Onofre Marimon, morre nos treinos do Grande Prémio da Alemanha, em Nurburgring. Para José Gonzalez, então com 32 anos (ainda novo para os padrões da altura), era já altura de pensar na retirada. Para piorar as coisas, sofre um acidente em Monza, que o deixa de cama durante algumas semanas e o impede de participar na prova final da época, em Barcelona.
Apesar de no final da época ser vice-campeão do mundo, atrás do seu compatriota Fangio, com 25,14 pontos (que raio de soma...), cinco pódios e duas "pole-positions", Gonzalez diz "chega" e fica na Argentina a partir de 1955, participando apenas no GP local. Em 1955, faz a "pole-position" e é dos poucos que resiste ao calor infernal, em Buenos Aires, acabando na segunda posição. Como partilha a condução com Nino Farina e Maurice Trintignant, só leva dois pontos para casa.
Só volta à Europa mais uma vez: em 1956, para disputar o GP de Inglaterra, ao volante de um Vanwall. Desiste no momento da partida, devido a problemas de transmissão. Em 1960 faz o seu último Grande Prémio, em Buenos Aires, ao volante de um Ferrari. Termina na 10ª posição.
A sua carreira na Formula 1: 26 corridas, em nove temporadas (1950- 57, 1960), duas vitórias, três pole-positions, seis voltas mais rápidas, 13 pódios, 72,14 pontos.
Desde então, ele virou um embaixador da Ferrari, e um homem bastante respeitado entre a comunidade de pilotos. Tão respeitado que, quando a formula 1 voltou à Argentina, em 1972, Jackie Stewart, o então campeão em título, andou a percorrer o "paddock" com uma foto de Gonzalez na mão, para que este pudesse dar um autógrafo. E em 2001, no cinquentenário da primeira vitória da Ferrari na Formula 1, Gonzalez voltou a Silverstone para ver Michael Schumacher a guiar uma réplica do modelo 275, que deu a primeira vitória à marca do Cavalino Rampante.
Boa Tarde, Speeder.
ResponderEliminarQuero apenas dizer-lhe que cometi o "erro" de lhe fazer o seguinte cometário no Forum do Autosport no seu post sobre o J. F. Gonzalez:
"Se me permite queria apenas referir que o seu texto tem vários erros. Coisa que é rara nos seus textos. Contudo não sei quais são as suas fontes.
Em 1951, Gonzalez faz o GP da Suíça com um Talbot Lago, só depois desse GP é que vai para a Ferrari. Em 1952 faz apenas um GP na Maserati, alias como refere. Mas no ano seguinte (1953) faz 5 GP na Maserati e não na Ferrari como diz. Só em 1954 é que regressa à Ferrari. Em 1954, no GP de Silverstone diz que Gonzalez faz a pole-position, mas não podia estar mais errado, ele foi o segundo na grelha de partida. Efectivamente vence a prova britânica. A pole-position é conseguida no GP da Suíça.
Fonte: www.statsf1.com"
Fiz uma correcção em alguns erros que julgo ter cometido na sua investigação. Acontece que apareceu alguém a quer insinuar alguma "guerra" e menosprezar o rigor que tenho a certeza que você cultiva. Desde já apresento as minhas desculpas e fico bastante desiludido com o forum do autosport porque parece que de cada vez que por lá passo atraio os mais conflituosos.
Foi sem quer fazer qualquer depreciação à sua pessoa que lhe fiz aqueles reparos. Foi a ultima vez que comentei no forum do autosport.
O erro que cometi e esse estou aqui e agora a assumi-lo, foi de não ter feito o comentario aqui no seu blog.Desculpe o desabafo.
Cumprimentos
José
Oi José:
ResponderEliminarConfesso que desconhecia isso, pois devido a motivos laborais tenho vindo pouco ao Autosport. A última vez que lá fui foi no dia em que meti o post do Gonzalez, vê lá tu...
Mas tens razão: aquilo parece uma selva. É só tipos que fazem um "concurso" para ver quem "grita" mais alto! Fazes bem em largar aquilo. Só não fui embora há mais tempo porque tenho um ranking a defender...