Era a noticia mais esperada na Indonésia: morreu esta madrugada em Jacarta o antigo presidente indonésio Suharto, vítima de uma falha multipla dos órgãos, num hospital da capital. Tinha 86 anos e governou o seu país, a Indonésia, com mão de ferro durante 31 anos (1967-1998).
Era um fim anunciado: desde o dia 4 que ele estava em estado crítico no Hospital Central de Jacarta devido a problemas de anemia e baixo ritmo cardíaco, aliadas a uma longo historial de doença, que o impediu, por exemplo, de se apresentar em tribunal após a sua saída do poder para responder às acusações de nepotismo, corrupção, desvio de fundos públicos e um largo historial de violações dos direitos humanos, que vão desde a execução de um milhão de militantes comunistas, até à invasão e ocupação de Timor-Leste, onde se suspeita de ter matado quase 200 mil pessoas ao longo dos 24 anos de ocupação (1975-1999)
Nascido a 8 de Junho de 1921 numa aldeia perto da cidade de Yogakarta, no centro da ilha de Java, e de origem camponesa, em 1940 entra no exército colonial holandês, tendo pouco tempo depois mudado de lado, quando os japoneses ocuparam Java em 1942. Três anos depois, em 1945, a Holanda reaveu as suas possessões, e Suharto aliou-se aos nacionalistas indonésios, que queriam a independência, algo que foi alcançado quatro anos mais tarde.
A partir de então, sob o regime de Sukarno, Suharto ascendeu rapidamente no Exército, chegando ao posto de Brigadeiro em 1962, altura em que chefiou uma operação militar para recuperar a provincia de Irian Jaya. três anos mais tarde, no "Ano de Todos os Perigos", Suharto deteve uma conspiração comunista para tomar conta do poder, derrubando Sukarno. A retaliação foi terrível: nos dois anos seguintes, mais de uma milhão de militantes comunistas foram executados extra-judicialmente e enterrados em valas comuns um pouco por toda a Indonésia.
Em 1967 substitui Sukarno, agora um governante isolado e doente (morreria em 1970) e decide lançar a "Nova Ordem", onde a luta anti-comunista era a palavra de ordem. Suspentava-se então que ele até era um agente pago pela CIA americana, mas nada disso foi confirmado. Durante o seu período no poder, o Partido Comunista Indonésio foi banido, a censura foi establecida, os poderes do Parlamento foram reduzidos, e o país estableceu relações fortes com as nações ocidentais, especialmente os Estados Unidos.
A 4 de Dezembro de 1975, o então presidente norte-americano Gerald Ford visita Jacarta, numa visita oficial, acompanhado pelo Secretário de Estado Henry Kissinger. Fala-se que foi aí que os americanos deram a "luz verde" para que Suharto pudesse invadir Timor-Leste, então mergulhado em guerra civil, no qual a FRETILIN saira vitoriosa (e tinha declarado a indepdendência uns dias antes, a 28 de Novembro). A invasão e consequente ocupação, nunca reconhecida pelas Nações Unidas, durou 24 anos e só foi resolvida após a saída de Suharto, com um referendo realizado a 30 de Agosto de 1999, que deu aos timorenses o direito a serem independentes.
Durante o seu período no poder, a Indonésia conheceu um periodo de desenvolvimento sem precedentes. Mas isso teve um lado negro: a corrupção generalizada (no final do século XX, era um dos países mais corriuptos do mundo) e o nepotismo (fala-se que a fortuna da familia de Suharto está estimada em 23 mil milhões de dólares) fizeram com que quando a Ásia entrou em crise, em meados de 1997, a economia indonésia entrou em colapso, e a tenha vindo ao de cima e culminado em manifestações um pouco por todo o país, exigindo democracia e a sua saída. Após algum tempo de agitação, a 21 de Maio de 1998, Suharto entregou o poder ao seu vice-presidente, B.J. Habibie.
E agora, ele está morto. Que a terra lhe seja extremamente pesada.
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