quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

GP Memória - Canadá 1973

Ontem de madrugada, quando meti a foto do "safety-car" no GP do Canadá de 1973, sabia que aquilo tinha sido uma das coriddas mais confusas de sempre. Só não sabia como. Mas sabia que o Gustavo Coelho estava a fazer mais uma das suas listas dos 10 Mais, e poucas horas mais tarde, disse-me que eu, sem crer, tinha lhe "estragado o negócio", porque aquela tinha sido uma das duas corridas mais confusas de sempre. Hoje soube que era a número dois da lista.

Como acho que essa corrida merece ser contada, vou aproveitar a boleia.


O Mundial de Formula 1 em 1973 foi uma batalha titânica entre a Tyrrell e a Lotus, pois ambos tinham os melhores carros do momento: o Lotus 72 e o Tyrrell 006. O escocês Jackie Stewart aproveitou bem as rivalidades internas entre Emerson Fittipaldi e o sueco Ronnie Peterson para garantir o título mundial no GP de Itália, em Monza, quando terminou em quarto e Colin Chapman não deixou Fittipaldi ganhar a corrida, que foi para o seu companheiro. Portanto, em Mosport, o pelotão da Formula 1 estava muito mais descontraído, pois tudo estava decidido.

Essa descontracção fazia com que alguns emergentes aparecessem. Um bom exemplo era o novo McLaren M23. Tinha ganho em Inglaterra, através de Peter Revson (mais uma corrida confusa, com uma monumental carambola na primeira volta), e tentava repetir a gracinha com três carros, para Revson, o neozelandês Dennis Hulme e um jovem sul-africano, cuja rapidez e perigosidade tinham-lhe dado a alcunha de "Baby Bear": Jody Scheckter.

Nos treinos, Ronnie Peterson fez o melhor tempo, seguido de Peter Revson e Jody Scheckter, nos seus McLarens. Carlos Reutmann foi quarto, seguido por Emerson Fittipaldi, o Tyrrell de Francois Cevért, o McLaren de Denny Hulme e então, o Tyrrell de Jackie Stewart.

A 23 de Setembro de 1973, dia da corrida, o tempo estava mau. Tão mau que a partida foi adiada uma hora, para que o tempo pudesse melhorar. Quando o tempo melhorou um pouco, a partida foi dada. E logo no começo, Ronnie Peterson comete um erro crasso: coloca pneus slicks, pensando que a pista iria secar rapidamente. O resto do pelotão ultrapassou-o facilmente...

Quem aproveita isto tudo é um jovem austríaco, piloto da BRM: Niki Lauda. Em pouco menos de cinco voltas, chega à liderança, e alarga a diferença para mais de 23 segundos na volta 15. Era a primeira manifestação de categoria de Lauda na Formula 1... contudo, a pista começa a secar, e Lauda vai para as boxes. Só que os mecânicos da BRM demoram muito tempo para colocar pneus slicks e ele perde a liderança a favor do Shadow de Jackie Oliver.

Numa altura em que a cronometragem era manual, ver dezenas de pilotos a entrar ao mesmo tempo causou confusão entre os organizadores, pois ninguém sabia quem era o líder! Quando a poeira assentou, era o Lotus de Emerson Fittipaldi que liderava a corrida. Mas na volta 32, as coisas pioraram, e bastante...

Nessa volta, o McLaren de Jody Scheckter não consegue evitar bater no Tyrrell de Francois Cevért. Por causa disso, e pelo facto de haver detritos na pista, o organizador decide fazer algo inédito: colocar o pace-car na pista! A intenção era boa, mas a sua aplicação prática foi um desastre.

Primeiro: quando o Porsche 914 guiado por Eppie Witzes saiu para a pista, estava esperitando por Jackie Stewart. Ora, entrou no preciso momento em que o escocês... entrava na box! Confuso, o outro passageiro do carro, Peter Mcintosh, pergunta à torre de controlo quem era o lider. Respondem que era o carro numero 25. Era o Iso-Marlboro (liderado na altura por... Frank Willliams!) do neozelandês Howden Ganley.

Lá ele se colocou à frente do carro, a "regular o trânsito". Só que no momento em que fez isso, tinha cometido um erro crasso: Ganley não era o primeiro, mas sim o quarto classificado! Momentos antes, quando o Porsche esperava pela confirmação, tinha deixado passar os três primeiros: o Shadow do inglês Jackie Oliver, o BRM do francês Jean-Pierre Beltoise e o McLaren do americano Peter Revson. Para melhorar as coisas, ele ficaram no fundo do pelotão... com uma volta de avanço!

O "safety car" lá ficou por seis voltas. Quando a corrida voltou ao normal, os três primeiros lá fazem a sua corrida, tentando ver qual deles é que iria ser o lider. Entretanto, Ganley foi ultrapassado pelo Lotus de Fittipaldi, que guiou que nem um louco, tentando apanhar os outros três pilotos. Nesta altura, a liderança pertencia a Jackie Oliver, mas quando teve problemas de acelerador, passou-a para Beltoise. Mas no final, o melhor foi Peter Revson.

Quanto a Fittipaldi, conseguiu apanhar alguns dos membros do grupo, como Oliver e Beltoise. Cortou a meta convencido que era o vencedor (Colin Chapman até atirou o chapéu, o seu sinal de vitória), mas isso era só o inicio dos problemas... durante quatro longas horas, os organizadores calcularam todos os tempos feitos pelos pilotos e chegaram à conclusão: o americano Revson era o vencedor, Fittipaldi era o segundo, e Jackie Oliver tinha dado à Shadow o seu primeiro pódio de sempre da equipa. Beltoise, Jackie Stewart e o Iso de Hownden Ganley fecharam os seis primeiros.

Para Revson, foi o seu último triunfo da sua carreira (morreria seis meses depois, na Africa do Sul) e para os organizadores, foi uma tarde para não esquecer. O "safety-car" só voltou a ser usado 20 anos depois, numa outra corrida conturbada: o GP do Brasil de 1993. E assim acabava um dos mais extraordinárias e confusas corridas de sempre, algo que os anos iriam demostrar ser tipico dos GP's canadianos...


Fontes:




1 comentário:

  1. O G.P. que eu mais gosto de assistir (infelizmente só pela TV). O circuito Gilles Villeneuve é espetacular (até pra jogar no computador), sempre com muita confusão (com chuva então...), com muitas brigas por posição. Enfim, esse GP é um tesão!!!

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