Este ano comemora-se o 50º aniversário do primeiro titulo mundial conquistado por um inglês. Um prémio merecido para este homem, mas ele não saboreou por muito tempo este título, pois hoje faz 49 anos que este homem perdeu a vida, num acidente de estrada causado por motivos fúteis: não podia ver um carro alemão à sua frente... hoje falo de Mike Hawthorn.
John Michael Hawthorn nasceu a 10 de Abril de 1929 em Mexborough, no Yorkshire inglês. Filho de Leslie Hawthorn, que dirigia uma garagem que preparava Jaguares, Rileys e Ferraris, o "The Tourist Trophy Garage", em Farnham, perto da oval de Brooklands. Cedo começou a interessar-se nas corridas, mas só depois da II Guerra Mundial é que começou a correr a sério. Primeiro em motas, a bordo de um Triumph, e mais tarde, num Riley comprado pelo pai, para que pudesse correr nas pistas.
Em 1951, chega à Formula 2, correndo num Cooper-Bristol, onde as suas performances começam a ser notas pelas equipas de fábrica, como a Jaguar. No ano seguinte, depois de excelentes performances nos circuitos ingleses, é contratado pela Jaguar para correr nas competições de Turismo em Inglaterra e no estrangeiro. Entretanto, o pai Leslie inscreve um Cooper-Bristol para o campeonato do Mundo de Formula 1, e consegue resultados impressionantes: terceiro lugar em Silverstone, quarto lugar em Spa-Francochamps e Zandvoort. No final dessa temporada, fica em quinto lugar no Mundial de Pilotos, com 10 pontos, e ganha um contrato oficial com a equipa Ferrari em 1953.
Nesse ano, Hawthorn coleccionou grandes resultados, o mais memorável deles todos foi a vitória em Reims, no Grande Prémio de França, contra Juan Manuel Fangio. Depois de uma partida onde o argentino Froilan Fonzalez liderou nas primeiras voltas, a liderança caiu para o Maserati seu compatriota Fangio, que tinha logo atrás... Hawthorn! Da 30ª até à 60ª e última volta, Fangio e Hawthorn luraram entre si, numa batalha titânica onde nunca estiveram afastados um do outro mais do que um carro de diferença. Cada vez que se aproximavam da meta. os espectadores se punham de pé, esperando por uma eventual mudança na liderança.
Na última volta, ambos estavam lado a lado, mas no gancho de Tillois, o inglês travou mais tarde e usou melhor a potência do seu Ferrari para finalmente bater o argentino por apenas um segundo, depois de 508 quilómetros percorridos e 2 horas e 44 minutos de corrida... era a primeira vitória de um piloto britânico na Formula 1. No resto da temporada, Hawthorn, com o seu típico chapéu e lacinho, conseguiu mais dois terceiros lugares, em Nurburgring e Bremengarten, na Suiça, terminando o campeonato na quarta posição, com 19 pontos oficiais (na verdade, conquistou 27).
Em 1954, enquanto corria pela Jaguar nas corridas de Turismo e nas 24 Horas de Le Mans, corria também pela Ferrari no Campeonato do Mundo de Formula 1. Ganhou em Barcelona, na prova final desse ano, mas conseguiu mais três segundos lugares. No final dessa temporada, conseguiu o terceiro lugar no campeonato, com 24,64 pontos.
Contudo, em 1955, as coisas na Ferrari estavam em transição. Com a Mercedes a dominar nas pistas, era difícil conseguir algo. Daí não ter pontuado nesse ano. Mas irónicamente, foi aí que obteve a sua maior coroa de glória, embora tragicamente manchado: a vitória nas 24 Horas de Le Mans. A bordo de um Jaguar, partilhado pelo seu compatriota Ivor Bueb, Hawthorn lutava contra os Mercedes de fábrica pela vitória.
Mas às sete da manhã de Domingo, quando se preparava para mais um reabastecimento, Hawthorn se viu envolvido no pior desastre de sempre da história do automobilismo. Quando parava para mais um reabastecimento, ele tinha colado atrás de de si o Mercedes de Pierre "Levegh", que não conseguiu desviar-se a tempo do Jaguar, equipado com travões de disco, e embateu na tribuna central, cheia de espectadores. Mais de 80 pessoas morreram, incluindo Levegh. Hawthorn, desconhecendo a extensão da tragédia, e da consequente retirada dos seus rivais Mercedes-Benz, continuou a correr e ganhar a prova, celebrando-a com champanhe, o que na altura caiu muito mal no público já em choque com esta tragédia.
Em 1956, Hawthorn corre com a Maserati e BRM, para não conseguir mais do que um terceiro lugar em Buenos Aires. Mas no final da época volta para a Ferrari, que tem finalmente um carro à altura, depois de suplantado o período de crise ao qual tinha mergulhado. Foi nessa altura que conhece "Mon Ami, Mate": Peter Collins.
Em 1957, volta aos bons resultados, mas não às vitórias, pois o melhor que consegue é um segundo lugar em Nurburgring, numa corrida onde foi suplantado por um genial Juan Manuel Fangio, no seu Maserati 250, quando alcançou o seu quinto e último título mundial. E em 1958, a Ferrari apresentava a sua máquina contra a concorrência... inglesa: o Ferrari 246 Dino.
Hawthorn começa com um terceiro lugar na Argentina, para depois ser segundo na Belgica, ganhar de novo em França (parecia ser o seu terreno favorito...), e coleccionar um conjunto de segundos lugares, contra as quatro vitórias do seu compatriota Stirling Moss. Contudo, a tragédia volta a assolar a sua vida: o seu grande amigo Peter Collins, depois de uma vitória convincente em Silverstone, morre em Nurburgring. Decide então que caso ganhe o Mundial, retirar-se-ia das pistas. Quando corta a meta em segundo lugar, em Ain-Diab, em Marrocos, e se sagra Campeão do Mundo, com 42 pontos oficiais (em 49 pontos verdadeiros) cumpre a promessa. Já tinha visto muitos amigos mortos...
A sua carreira na Formula 1: 47 Grandes Prémios em sete temporadas (1952-58), três vitórias, 18 pódios, quatro pole-positions e seis voltas mais rápidas. Campeão do Mundo de pilotos em 1958. Para além disso, tornou-se vencedor das 24 Horas de Le Mans em 1955.
No inicio de 1959, prepara-se para tomar conta da garagem que o seu pai deixou, após este ter morrido num acidente de carro em 1954. Também se preparava para casar com Jean Howarth, então com 21 anos (mais tarde casaria com outro piloto, Innes Ireland). No dia 19 de Janeiro, era homenageado pelos seus pares num jantar em Londres, pelo seu título mundial. Mas três dias depois, a 22 de Janeiro, quando ciurculava com o seu Jaguar MK1 modificado, viu o Mercedes 300 SL de Rob Walker, o homem que tinha inscrito, um ano antes, Stirling Moss no GP da Argentina num Cooper de motor atrás. Não tolerando ser ultrapassado por um carro alemão, Hawthorn acelerou para o apanhar, mas nesse dia o tempo estava mau e havia ventos cruzados na A3, na zona de Guilford. A mais de 150 km/hora, o Jaguar despistou-se e bateu fortemente na valeta. Hawthorn morria poucos minutos depois, com uma fractura no crânio. Tinha apenas 29 anos de idade.
A sua morte e o seu funeral causaram comoção nacional. Milhares de pessoas acorreram a Farnham, onde assistiram ao seu funeral. Em memória dele, foi instituido o Hawthorn Memorial Trophy, que premeia o melhor piloto inglês ou da Commenwealth, em cada ano. Desde então, o prémio foi ganho por pilotos como Jack Brabham, Stirling Moss, Jim Clark, Graham Hill, John Surtees, Jacke Stewart, Dennis Hulme, James Hunt, Alan Jones, Nigel Mansell, David Coulthard, Jacques Villeneuve, Jenson Button e Lewis Hamilton, entre outros.
Fontes:
Bandeira da Vitória - A História do Automobilismo, Ed. Autosport, 1995.
http://www.mike-hawthorn.co.uk/ (site oficial de tributo)
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