sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O último dos moicanos: Tony Rolt (1918-2008)

Esta quarta feira, morreu o último piloto ainda vivo que participou na primeira corrida de Formula 1 da história, o Grande Prémio de Inglaterra de 1950. O seu nome era Anthony Rolt, e se a sua participação na Formula 1 foi pequena (três corridas, nunca acabou), a sua vida merece um filme.


Anthony Peter Roylance Rolt nasceu a 16 de Outubro de 1918 em Bordon, no Hampshire, centro de Inglaterra, foi educado no selecto Eton College, e seguiu os passos do seu pai, um militar. Seguiu para a academia de Sandhurst, onde se graduou em 1939, quando a II Guerra Mundial começou. Enquanto isso, Holt corria em eventos motorizados, ao volante de um ERA, onde ganhou em 1936 o British Empire Racing Trophy, com apenas 18 anos.


Em 1940, o seu batalhão foi chamado para defender a cidade de Calais do imparável rolo compressor alemão, com os seus "Panzers" e "Stukas", numa estratégia conhecida como "guerra relâmpago". Foi feito prisioneiro pelos alemães no final dessa operação, mas nos quatro anos seguintes, não fez outra coisa senão tentar fugir do campo de prisioneiros. Tentou escapar por sete vezes, sempre sem resultado.


Após a sua sétima tentativa de fuga abortada, os alemães levaram-no em meados de 1943 para Colditz, o equivalente alemão a Alcatraz. Um castelo alto, na parte leste da Alemanha, com muros tão altos que era virtualmente impossivel escapar de lá. Mas mesmo ali, Rolt sempre teve a fuga em mente. Foi ele que concebeu o ardil mais engenhoso de todos: um planador com capacidade para duas pessoas. Contudo, a guerra acabou sem ele colocar o plano em prática.



Quando voltou, foi promovido a Major e recebeu a Military Cross, pelos seus feitos em Calais. Após isso, demitiu-se do exército e foi atrás da sua segunda paixão: o automobilismo. Juntamente com um mecânico, Freddy Dixon, dedicou-se à uma causa: as quatro rodas motrizes. Fundou a Rolt Dixon Manufacturing, que mais tarde se transformou em FF Developments, quando convenceu Harry Ferguson, o magnata dos tractores, a entrar no negócio. "Gentlemen Driver" por excelência, partilhou com Peter Walker um ERA na partida para o GP de Inglaterra de 1950, em Silverstone, onde não terminou.


Em 1953, foi contratado pela Jaguar para fazer parte da equipa oficial nas 24 Horas de Le Mans, ao lado de Duncan Hamilton (1920-1994), num Jaguar Tipo C. As histórias desse fim de semana na mítica prova francesa entraram na lenda. Durante muitos anos contou-se como estória verdadeira de que durante os treinos, correram com outro número, e os organizadores os desqualificaram. Tristes, foram para um bar local para "carpir as suas mágoas". Contudo, o "manager" da Jaguar, Lofty England (nome esquisito, hein?), convenceu os organizadores para que eles os reintegrassem. Quando os conseguiu, estavam tão bêbados que tiveram que dar café a Hamilton para que este se mantivesse acordado e alerta. Para piorar as coisas, Hamilton colidiu com um pássaro, partindo o seu nariz. Contudo, resistiu o suficiente para passar o carro para Rolt, que o levou até à vitória final.


Estória engraçada, não? Recentemente, foi reposta a verdade: eles nunca se estiveram bêbados quando souberam da sua reintegração na corrida. A unica coisa verdadeira foi o pássaro a bater na cara de Hamilton...



No ano seguinte, voltaram a Le Mans ao volante de um Jaguar Tipo D, e foram segundos classificados, sendo batidos pelo Ferrari 375 de Froilan Gonzalez e Maurice Trintignant.

No final dos anos 50, Rolt largou as corridas e convenceu Ferguson a financiar a construção de um carro de quatro rodas motrizes: o Ferguson P99. Correu em algumas ocasiões em 1961, sendo o seu momento de maior glória a vitória na International Gold Cup, em Oulton Park, quando foi guiado por Stirling Moss. Foi também a última vitória de um carro com motor à frente. Anos depois, o piloto disse que foi o melhor carro que jamais guiou.




Até à sua retirada de cena, trabalhou na sua empresa de engenharia, desenvolvendo tecnologia baseada nas quatro rodas motrizes, que mais tarde foi implementada na industria automóvel. O Jensen FF, de 1966, é um bom exemplo disso. Tudo isso o fez um homem rico, e passou relativamente tranquilo o resto dos seus dias, até esta quarta-feira, o dia da sua morte, aos 89 anos. Ars lunga, vita brevis.


Fontes:

http://www.grandprix.com/ns/ns20018.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Tony_Rolt
http://www.timesonline.co.uk/tol/comment/obituaries/article3329031.ece
http://www.kolumbus.fi/leif.snellman/dr.htm

3 comentários:

  1. Wow, que pena, com ele vai o ultimo pedaço da historia do nascimento da F1 :(

    ResponderEliminar
  2. Notícia triste, essa. Ele era o último dos moicanos mesmo. Ao mesmo entrou para a história apenas por ter participado daquela corrida...

    Speeder,

    Obrigado pelos comentários no meu Blog! Falha minha não ter colocado o Álvaro Parente entre os "azarões" da GP2. Acontece que ele só confirmou o acerto com a Supernova depois que eu escrevi o meu texto. Vou corrigir o erro!

    Grande abraço!

    Gustavo Coelho

    ResponderEliminar
  3. Muito triste!!!
    como você mesmo disse ... "O último dos moicanos".

    Bjinhoss

    Tati

    ResponderEliminar

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...