"Estava eu sentado na primeira fila da sala de imprensa das '500 Milhas BOAC' em Brands Hatch. O grid era aliciante e a corrida emocionante. Jim Clark deveria correr no novo P65 Ford preparado por Alan Mann para o Mundial GT desse ano e para uma vitória em Le Mans. Clark aceitou o convite, já que esse carro era apadrinado por Walter Hayes, a quem o escocês devia bastante do seu sucesso graças ao motor DFV.
Segundo o seu amigo Gerard Crombac, desagradou ao piloto que Alan Mann não tivesse confirmado o convite e decidiu pilotar o Lotus F2 em Hockenheim no mesmo dia. (...)
As 'BOAC 500' estavam emocionantes. Ao meu lado, um colega puxou o telefone directo para a redação do 'Daily Mail' e eu senti um vazio, um longo silêncio entre o ronco dos V8. Perguntei 'o que se passa?', e meio gaguejado, respondeu-me 'Clark acaba de morrer'. De repente, toda a sala parou. Em estado de choque."
Este é o testemunho que Francisco Santos deu no dia em que soube em Inglaterra da morte de Jim Clark, a 7 de Abril de 1968. Se o mundo inteiro ainda estava em choque com o assassinato de Martin Luther King, três dias antes, era agora o pequeno mundo do automobilismo a ter o seu choque. Ninguém esperaria que algo de grave acontecesse a Jim Clark, pois raramente ele tinha acidentes, e era numa altura em que os pilotos corriam 40 corridas por ano, entre várias categorias.
Nesse dia, decidiu escolher a prova de Formula 2 não só por causa de compromissos não assumidos, mas também porque a Lotus precisava dele, pois era a imagem da marca. Colin Chapman tinha um compromisso com a Firestone, e queria que ele experimentasse o novo Lotus de Formula 2 em Hockenheim, na Alemanha. E isso também convinha para Clark, pois para escapar à máquina fiscal inglesa, não podia ficar muitos dias por ano em Inglaterra, e estes eram reservados para testes e corridas.
Ele e Graham Hill foram ao circuito alemão para aquilo que julgavam que iria ser uma tarde bem passada. Contudo, na quinta volta...
“Jim acelerou pelo bosque fora… um solitário comissário de pista ouvui o Lotus aproximar-se depois dos lideres terem passado, e de repente, a máquina vermelha e dourada começou a ziguezaguear de um lado para o outro, com o piloto lutando com o volante. Depois, saiu da pista, de lado, a uns 225 km/hora, até se partir ao meio contra uma árvore” (Doug Nye)
A morte de Jim Clark tinha deixado a comunidade da Formula 1 em transe: Chris Amon disse na altura, quando se soube da sua morte que “muitos de nós achávamos que éramos inatingíveis, e isso acabou aí…”. Para piorar as coisas, nos três meses seguintes, três pilotos iriam perder a vida, todos num dia 7: Mike Spence em Maio, Ludovico Scarfiotti em Junho, e Jo Schlesser em Julho…
Colin Chapman ficou devastado com a morte de Clark. Afirmou publicamente que “tinha perdido o seu melhor amigo”, e queria saber a fundo o motivo pelo qual Jim Clark perdera a vida. Para isso, pediu a Peter Jovitt, um perito especializado em acidentes aéreos para determinar as causas do seu despiste fatal. Quase vinte anos depois, em 1986, Jowitt recordou a investigação:
“Encontrei um corte estranho no pneu traseiro direito, e não vi qualquer destroço que o tivesse provocado. Se o pneu tivesse furado, há um efeito que conheço bem: a alta velocidade, em recta, a força centrífuga segura o pneu de tal forma que o piloto nem nota o furo. Em curva, aumentada a carga do pneu, ele torna-se instável e perde a aderência que o piloto dele espera. O conta-rotações mecânico mostra que Jim tinha continuado a acelerar até ao embate , tentando controlar o carro. O pneu traseiro estava descolado do aro e metade de fora. Havia lama em todo o piso do pneu (…) Em pistas actuais, um acidente como este não causaria mais do que uma batida contra os rails e um regresso a pé para as boxes…”
Jim Clark, um dos melhores pilotos da sua geração, se não de sempre. Apesar de não ter memórias vivas dele, este homem marocu-me, não só por ser um piloto excepcional, mas por ter morrido precisamente no dia 7 do mês de Abril, 21 anos antes de eu ter nascido!
ResponderEliminarAbraço:
João Anaquim
Foi um dos grandes, simplesmente sensacional. Fizemos um especial dedicado a ele no F1 Girls. Pena não te-lo visto correndo, se máquina do tempo existisse gostaria de voltar à década de 60 e vê-lo disputar as provas da categoria. Excelente post o seu sobre ele.
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