Este fim de semana, para além da Formula 1 e da GP2, temos ainda a Le Mans Series, que decorrerão no circuito belga de Spa-Francochamps, para a prova dos 1000 km, a terceira prova desse campeonato. O Hugo Ribeiro, que responde no Forum Autosport pelo nickname de "Le Mans", fez a antevisão da prova deste fim de semana, onde Peugeot e Audi Diesel disputarão a vitória, com os Courage, Pescarolo e do Lola-Aston Martin da equipa Charouz a quererem interferir...
SPA-FRANCORCHAMPS NO LE MANS SERIES
O circuito de Spa, pelas sua características esteve sempre presente no calendário das provas de endurance, sobretudo no calendário do World Sportscar Championship, sendo lógico que após a extinção deste campeonato e a sua posterior recuperação através das Le Mans Series, que o circuito de Spa voltasse a ser uma das provas maiores da resistência. Presente em todas as temporadas da LMS, Spa teve já 4 vencedores distintos. Os recordes da pista no Le Mans Series foram todos obtidos no ano passado e os valores podem ser vistos na lista em baixo.
Como referência, a volta mais rápida obtida por um Formula 1, foi obtido em 2007, quando Kimi Räikkönen ao volante de um Ferrari realizou o tempo de 1:45.070.
Edição de 2007
LMP1
1º. (1º.) Team Peugeot Total nº8 - LAMY/SARRAZIN - Peugeot 908 HDi - 143 voltas
2º. (2º.) Pescarolo Sport nº16 - COLLARD/BOULLION - Pescarolo 01Judd - a 2 voltas
3º. (4º.) Pescarolo Sport nº17 - PRIMAT/TINSEAU - Pescarolo 01Judd - a 5 voltas
LMP2
1º. (3º.) RML - NEWTON/ERDOS - MG LOLA EX264 AER - 140 voltas
2º. (5º.) Quifel ASM Team - AMARAL/CASTRO/BURGUEÑO - Lola B05/40 AER - a 3 voltas
3º. (7º.) Horag Racing - LIENHARD/THEYS/BVAN DE POELE - Lola B05/40 Judd - a 4 voltas
Pole-Position: Team Peugeot Total nº7 - GENÉ/MINASSIAN - Peugeot 908 HDi - 2:00.105
Volta mais rápida: Team Peugeot Total nº8 - LAMY/SARRAZIN- Peugeot 908 HDi - 2:03.316 Média: 172.790km/h
(nota: entre parêntesis a classificação geral)
Antevisão 2008
LMP1
É inevitável... o poderio é demasiado para puder sustentar outra observação que não seja reservar a luta pela vitória à Peugeot e Audi, e só um completo azar que afecte ambos os 2 carros de cada equipa é que poderá dar largas à imaginação e imaginar alguém para além deles no lugar mais alto do pódio. Mas a Charouz, com o Lola-Aston Martin não anda muito longe... e termos globais, foi em Spa onde em 2007 os LMP1 a gasolina estiveram mais próximos do diesel, e será com expectativa que se espera para o que poderá o LMP Anglo-Checo fazer ante a Audi e a Peugeot.
Em relação à Peugeot, a duvida está em qual carro irão surgir problemas desta vez. Esse é o martírio da marca francesa desde que em 2007 regressou à Endurance. Alternadamente, os problemas mecânicos vão surgindo ora num ora no outro 908 HDi, e em 2007 foi a única razão que os impediu de fazer a dobradinha em todas as provas. Em Barcelona, foram Lamy e Sarrazin que "ficaram com a fava", em Monza foi a vez de Gené e Minassian. E em Spa?
Mais regular, e até agora isento de problemas de maior, a dupla do Audi R10 nº2, Rockenfeller e Prémat, lidera o campeonato, apesar de ainda não ter ganho uma prova. Se em Barcelona, fizeram o que Gené e Minassian lhes deixaram fazer, já em Monza venderam cara a "derrota" e lutaram até praticamente ao último segundo de prova com Lamy e Minassian. McNish e Capello, que no final do ALMS disseram a quem quis ouvir que estavam desejosos de regressarem à Europa e conquistar o título da LMS, têm agora muito terreno a conquistar para almejar esse sonho (embora todos sabemos que o que realmente os move são as 24 Horas de Le Mans, que vale bem mais que o título da ALMS e da LMS juntos).
A Oreca-Courage estará apenas apresentada pela dupla Olivier Panis / Nicolas Lapierre no LC70 Judd nº5, visto que o acidente que Ortelli sofreu em Monza, causou danos que impossibilitam a reconstrução o LMP1 da equipa. Com apenas quase duas semanas de distância entre a prova de Monza e a prova de Spa-Francorchamps, a equipa não tem condições de montar um segundo chassis para a 3ª prova do LMS, preferindo preparar-se convenientemente para as 24 Horas de Le Mans que estão aí ao virar da esquina.
Pelo mesmo motivo, a Creation também só estará representada por um dos CA07 AIM. Juntando a Pescarolo a este lote (Pescarolo-Oreca-Creation), estas são as equipas que procuram o lugar de melhor LMP1 a gasolina, cargo que está a ser ocupado pela Charouz (com o apoio da Aston Martin) que se tem colocado num patamar intermédio entre os "Diesel" e os "Gasolina". Há claramente um ascendente da equipa checa, que só problemas mecânicos como os de Monza (falha do motor) parece contrariar, mas as restantes 3 equipas estão neste momento muito equilibradas em termos de performance, pois em termos de fiabilidade a "Pesca" é já mítica. Pena a Oreca-Courage e a Creation só apresentarem um LMP1 cada uma, pois de outra forma eram seis galos à luta pelo mesmo poleiro.
Mas, não esquecer ainda a Rollcenter (João Barbosa está de volta) pois o Pescarolo preparado pela equipa de Martin Short (de fora e substituído por Mikael Forsten ao volante, tendo anunciado que não voltaria a conduzir pela própria equipa), em nada fica a dever aos Pescarolos oficiais, aos quais se podem ainda juntar o paradigmático Pescarolo da Saulnier (que compete na LMP1 e na LMP2 com os Pescarolos e pode ser considerada oficial pois esta e a Pescarolo fundiram as estruturas no final de 2007 apesar de competirem sob "bandeira" independente ), que continua a ser estranhamente mais lento que o irmão LMP2.
Os espanhois da Epsilon Euskadi, com o seu lindíssimo coupé, voltarão a apresentarem-se apenas com um LMP1 (já se encontra montado o 2º mas a falta de patrocínios estão a impedi-los de o colocar em pista) e estará de olho nos pontos continuando o seu processo de aprendizagem e desenvolvimento do ee1 Judd com vista a um brilharete em Le Mans.
De regresso está a Lavaggi, o pequeno construtor artesanal italiano, para aquela que será a sua última prova prevista, pois não deverá ter vagas (em principio, dependendo da questão Chamberlain) para as duas restantes provas em falta (Silverstone e Nürburgring). A equipa não este presente em Monza, na corrida "caseira" pois o LS1 necessitava ainda de bastante trabalho de adaptação ao motor AER que Giovanni Lavaggi optou por utilizar este ano. Em Barcelona, as dificuldades foram evidentes, apesar de ter dado boas indicações em termos de performance isto tendo em consideração que o motor praticamente montado no LMP1 em plena pista. Vamos ver se é desta que a equipa deste simpático italiano dá um ar da sua graça e conquista um ponto.
De novo de fora está a Chamberlain-Synergy (inscreveu-se para toda a temporada) constando que a equipa está com dificuldades financeiras, nomeadamente do que toca às responsabilidades dos seus patrocinadores, e a sua continuada ausência poderá abrir as portas à Lavaggi para as duas restantes provas.
LMP2
Os Porsches privados são obviamente os grandes favoritos... outra vez. O poderio dos clientes da marca alemã do LMS está a reduzir drasticamente a competitividade da classe 2, embora o Lola Speedy-Sebah pareça ter andamento para eles se for regular ao longo dos 1000 km de prova. Spa é "amiga" dos LMP2, e outro aspecto a ter em conta será o quanto poderão os LMP2 da Porsche intrometer-se na luta dos LMP1.
Os Zyteks da Barazi e da Trading Performance também parecem em alta em termos de performance, e serão outro ponto de interesse ver se este crescendo lhes dá capacidade de lutar com os Porsche e o Lola coupe, desde que a fiabilidade que tanto atraiçoa a Zytek, os ajude.
Exceptuando o Lola Coupe, o pelotão da Lola vive momentos difíceis com a chegada dos RS Spyder. O Lola MG da campeã RML tem sido regular, mas dificilmente esta poderá contestar a superioridade dos Porsche e revalidar o título. Ainda pior encontra-se a nossa ASM, vice-campeã, que com duas corridas simplesmente para esquecer, ficar nos três primeiros no final do campeonato já será um milagre. Estas equipas, em conjunto com os Zyteks, são as mais fortes para os lugares cimeiros... atrás dos Porsche.
O Lola-Mazda da Kruse não se tem portado mal, mas tem beneficiado sobretudo do azar da ASM e da Speedy Sebah para dar nas vistas, mas em condições normais será o pior Lola da LMP2, e estará no grupo composto pela Embassy, Saulnier e pela Bruichladdich que almeja a conquista de pontos. O novo Embassy WF01 da Embassy conseguiu o seu primeiro ponto em Monza e os problemas de concepção da direcção que os afectaram em Barcelona parece estarem resolvidos. Mario Haberfeld, do Embassy nº45 não estará presente e será substituído por Tom Kimber-Smith.
A lanterna "amarela" da LMP2 (a vermelha é a WR), a Racing Box, que não estará presente em Spa, surpreendeu o paddock com uma "revelação" bombástica: a razão pela sua ausência deve-se, segundo a equipa, ao facto de terem de fazer uma pausa para repensar o Lucchini (e preparar Le Mans) que utilizam, devido ao facto de as melhorias no protótipo italiano pra 2008 fornecidas pelo construtor são na verdade... "piorias"!
Na verdade, segundo eles, a situação é tão grave que referem mesmo que a geometria das suspensões está errada e o LMP2 tem graves problemas de estabilidade. Verdade ou não... ficou toda gente pasmada com as declarações.
A WR.... terminar a prova saberia a vitória. Pontuar.... seria como vencer as 24 Horas de Le Mans. O actual projecto não faz juz ao que a WR já foi capaz de fazer.
HISTÓRIA E CARACTERISTICAS DO CIRCUITO
O circuito de Spa-Francorchamps, foi criado em 1924, utilizando estradas das localidades de Francorchamps, Malmedy e Stavelot na zona das Ardenas, na província de Liége, com um perímetro original de cerca de 15 km. Na altura da sua concepção era um dos mais rápidos circuitos europeus. Tal como muitos outros míticos circuitos de corridas, onde se separavam os homens dos meninos, o circuito original de Spa acabaria por ser abandonado em virtude dos acidentes mortais que iam acontecendo.
Uma das zonas mais perigosas desse circuito era chamada de Masta Kink, e ficava inserido na parte do circuito chamada de Masta Straight. Os pilotos, após atravessarem a localidade de Malmedy, onde atingiam a velocidade máxima, tinham à sua frente uma chicane rápida abordada primeiro à esquerda e depois à direita, tudo isto por entre celeiros. Em 1966, Jackie Stewart, um dos pilotos que mais lutou pela segurança na F1, teve um acidente em Masta Kink, tendo ficado no topo de um celeiro de pernas para o ar, com o BRM a jorrar gasolina sobre o seu corpo. Três anos mais tarde, de novo em Masta Kink, durante as 24 Horas de Spa, morreram três comissários de pista. Reza a história que Hans-Joachim Stuck, durante uma das suas paragens na boxe, dirigiu-se para o seu companheiro de equipa Jochen Mass e lhe gritou "look out for body parts at the Masta Kink". Esperando encontrar destroços de um carro (body parts = peças), Mass rapidamente descobriu que se tratavam dos restos mortais de um comissário de pista (body parts = pedaços de corpo).
O traçado original acabaria por ser abandonado poucos anos depois, desaparecendo o "triângulo" de Spa-Francorchamps, mesmo depois de ter sofrido algumas alterações ainda na década de 60. Henri Pescarolo ficou detentor da volta mais rápida a este circuito, com uma média de 262 Km/h.
Nos dias de hoje, o circuito tem apenas 6,9 km de extensão, mantendo no entanto algumas das suas características originais: um circuito muito rápido, e com um relevo muito acidentado, na qual se junta ainda as condições metereologicas, que invariavelmente são de difícil previsão, sendo possível que numa parte do circuito esteja sol e bom tempo, e em outra parte esteja chuva e vento, sendo ainda um dos poucos circuitos onde a habilidade conduzir um carro de competição é verdadeiramente posta à prova. A sua parte mais famosa, é a combinação Eau Rouge/Raidillon, embora a mais temida é a curva de Blanchimont, que já pertencia ao antigo "Triangulo" de Spa. Tanto uma como a outra, foram descaracterizadas devido a mais uma onda obsessiva pela segurança.
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