segunda-feira, 7 de julho de 2008

O piloto do dia - Jo Schlesser

Os anos sessenta foram muito deprimentes para o automobilismo francês. Não tanto em termos de equipas, pois em 1967, surgiu a Matra, pelo menos na categoria máxima, e existiam nas categorias inferiores preparadores como Gordini. Era em relação a pilotos que se poderia falar em "depressão", pois depois da morte de Jean Behra, em 1959, e da retirada de Maurice Trintignant, em 1964, pouca coisa havia.

Em 1967, acompanhando a entrada da Matra, apareceu Jean-Pierre Beltoise, mas era ainda muito jovem e algo inexperiente. Assim sendo, outras esperanças estavam viradas para pilotos como Guy Ligier, e o seu melhor amigo na marca, Jo Schlesser. É dele que vou falar hoje, no dia em que se comemoram os 40 anos do seu acidente fatal.

Nasceu Joseph Schlesser em Lionville, a 18 de Maio de 1928 (teria 80 anos se fosse vivo), mas cedo emigrou, com os pais, para a ilha de Madagascar. Em 1946, com 18 anos, volta a França para estudar Engenharia Mecânica em Nancy, e algum tempo depois, foi trabalhar numa fábrica, para aprender mais sobre o oficio. Com o tempo, começa a interessar-se pelo automobilismo, e aos 24 anos (uma idade muito tardia), começa a correrm no Rally Lorraine, a bordo de um Dyna-Panhard.

Pouco tempo depois, volta para Madagascar, e inicia durante um bom tempo uma série de viagens entre aquele ilha africana e a França, correndo quando estava de férias, na Europa. Tinha fama de rápido, mas era muito propenso a acidentes. começou a correr num Triumph TR2, mas depois de um acidente com um Ferrari (caiu de uma ravina...), decide ser piloto profissional.

Compra um Formula 3 ao americano Harry Schell, e corre nas pistas do seu pais, com alguns bons resultados, mas os acidentes não o largam. Em 1961, tem um acidente grave ao treinar-se para as 24 Horas de Le Mans, e fica fora de combate por alguns tempos. Em 1963, junta-se a um compatriota seu, ex-jogador de rugby e homem de negócios bem sucedido no sector da construção civil e como ele, começou a pilotar tarde em automóveis: Guy Ligier.


Em 1964, recebe um convite para correr nos Estados Unidos, em algo que se viria a chamar mais tarde de... NASCAR. Os resultados foram algo modestos, e no final do ano, regressou à Europa. No ano seguinte, foi correr de Formula 2, com alguns bons resultados, e alguns acidentes. Mas com quase 40 anos, não desistia do sonho de ser piloto de Formula 1. Em 1966, aproveitando o facto dos pilotos de Formula 2 poderem participar no GP da Alemanha ao mesmo tempo que os da Formula 1, estreou-se com um Matra, termonando na décima posição. No ano seguinte foi a mesma coisa, mas nessa ocasião não terminou a corrida.

Em 1968, Schlesser iria fazer 40 anos, mas era popular, e não tinha desistido de correr na categoria máxima, a tempo inteiro. Quando a Honda lhe convidou para estrear o RA302 em Rouen, num golpe publicitário para impulsionar as vendas da marca (o próprio Sochiro Honda estaria lá para assistir à corrida), ele aceitou sem hesitar.

Mas o convite era um presente envenenado. A Honda tinha dificuldades em desenvolver esta versão, muito pesada, muito lenta e muito instável. Para mais, o magnésio, além de ser leve, era inflamável. Em suma, era uma bomba com rodas e um volante... Nos treinos, Schlesser sofre com o carro, e consegue um tempo sete segundos mais lento que o de Jacky Ickx, o "poleman". Mas o francês estava confiante, pois conhecia bem a pista.


Na corrida, Schlesser parte bem, conseguindo ganhar uma posição, mas foi sol de pouca dura. No inicio da terceira volta, quando o carro chega à zona de Six Fréres, perde o controlo e embate no barranco, causando imediatamente um incêndio. Quando os bombeiros conseguem apagar o fogo, vinte minutos depois, Jo Schlesser, de 40 anos, estava carbonizado, sem vida.

Foi um acidente que chocou muitos. Em França, a sua morte foi sentida, por ser um piloto popular. A Honda, que tinha apostado nele para andar com o seu novo carro, decidiu retirar-se das pistas, como equipa, no final da temporada, voltando apenas 15 anos depois, mas somente como fornecedora de motores. E quando o seu melhor amigo, Guy Ligier, viu o que se passara com Schlesser, a cinco dias do seu 38º aniversário, decidiu que era altura de abandonar a competição e passar para o lado do construtor. Em sua memória, todos os Ligier que construiu até aos nossos dias são baptizados de JS, as iniciais de Jo Schlesser.

Hoje em dia, o seu nome é também lembrado devido aos feitos do seu sobrinho, Jean-Louis Schlesser. Embora tenha feito grande parte da carreira nos Todo-o-Terreno, mais especialmente no Paris-Dakar, onde venceu por duas vezes, através dos "buggys" construidos na sua oficina, também teve participações na Formula 1, a mais famosa das quais quando se envolveu com Ayrton Senna na última volta do Grande Prémio de Itália, perdendo a corrida a favor de uma dobradinha da Ferrari...

2 comentários:

  1. Mais um grande héroi, que se submeteu a dirigir um carro péssimo, mesmo após o outro piloto que num me recordo o nome falar que o chassis era indirigivel, só podia acabar em tragédia mesmo.

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  2. Triste fim de um piloto que se esforçou num equipamentos tão instável, dois anos depois outro piloto morreria em um equipamento feito de magnésio, o Piers Courage

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...