Pouca gente sabe disto, mas em 1967, a primeira prova internacional que o jovem sueco fez em Formula 3, com o seu Brabham, foi em Portugal, mais concretamente no circuito de Vila Real. Bo Halqvist, então o mecânico da equipa, acompanhou o jovem sueco, então com 23 anos, numa aventura de mais de 3000 quilómetros Europa abaixo, cheia de vicissitudes, até chegar ao circuito citadino do norte do país. O seu testemunho encontra-se, em inglês, no sitio oficial de Ronnie Peterson, e esta é a minha versão traduzida.
"Antes de partirmos de Örebro, recebemos um patrocínio pontual de uma estação de gasolina local, e do “Karlskogga Motor Klub Maffia”, através de Sten Gunnarson. A estação deu-nos um enorme bidão de gasolina, que atrelamos ao nosso pick-up, e esperávamos que durasse até ao Norte da Alemanha. Tínhamos colocado uma mangueira, que o ligava ao nosso depósito de combustível, no sentido de nos ir reabastecendo à medida que circulávamos.
"Antes de partirmos de Örebro, recebemos um patrocínio pontual de uma estação de gasolina local, e do “Karlskogga Motor Klub Maffia”, através de Sten Gunnarson. A estação deu-nos um enorme bidão de gasolina, que atrelamos ao nosso pick-up, e esperávamos que durasse até ao Norte da Alemanha. Tínhamos colocado uma mangueira, que o ligava ao nosso depósito de combustível, no sentido de nos ir reabastecendo à medida que circulávamos.
Tudo estava arrumado em ordem para a viagem: o carro de Formula 3, o bidão de gasolina, dois pares de calças, três t-shirts (um de cada e outro suplente para as eventual entrega de prémios!), equipamento de corrida, dois sacos-cama, muitos quilos de pão fornecidos pela padaria do pai Bengt e mais alguma coisa que nos permitisse suportar a longa viagem através da Suécia, Dinamarca, Alemanha, França, Espanha e Portugal.
Depois de sairmos do “ferry-boat” na Alemanha, começamos a sentir o cheiro a gasolina, mas não ligamos muito, porque como fazíamos parte da competição, seria normal. Mas quando o cheiro ficou mais forte, paramos na estrada, e verificamos, para nossa catástrofe, que a gasolina do nosso “sponsor” estava a ser derramada estrada fora! Logo, os nossos planos estavam alterados, pois muito do nosso orçamento estava baseado neste barril de gasolina. Agora, na viagem até Vila Real, teríamos que nos depender dos pãezinhos da padaria do pai, de Coca-cola, e de pauzinhos de canela, até chegarmos a cidade portuguesa de Vila Real.
Quando nos aproximamos da fronteira portuguesa, cruzamo-nos com outros compatriotas nossos, que também iam para Vila Real. De repente, éramos uma caravana de suecos, que tinha entre outros, Reine Wissel e o seu irmão Jan (Mercedes mais o seu trailer), Ulf Svensson e a sua mulher “Johan”, que tinha o papel de “engenheira de corrida” (pick up mais caravana), e Lasse Lindberg, no seu Volkswagen pick-up. A viagem até à fronteira foi calma, mas depois de a passarmos, as estradas até ao nosso destino eram incríveis, pois eram tortuosas e havia mais gravilha do que asfalto…só neste percurso, tivemos sete furos. E tínhamos que deslocar o nosso Formula 3 para chegarmos aos pneus suplentes… este esforço deu cabo das nossas energias, e esmoreceu-nos um pouco no nosso entusiasmo e paciência, mas temos que agradecer a Ulf e à sua mulher, pelo abrigo e refrescos que nos deram na sua caravana!
Quando chegamos a Vila Real, fomos bem recebidos pelo Automóvel Clube local, que nos providenciou uma garagem em frente a uma escola local, só de raparigas. Imaginem o rebuliço que isso causou… A pista era 80 por cento citadina, que passava bem no meio da cidade. Nesses tempos, recebias o prémio de participação, caso marcasses um tempo nos treinos, e depois do carro ser inspeccionado pelos comissários, ele estava pronto para a corrida. De início, os tempos nos treinos não foram fantásticos, mas após algum tempo, o Ronnie adaptou-se à pista e começou a tirar bons tempos. Conseguiu o décimo tempo nos treinos, uma excelente marca para um “iniciante”, entre a elite dos corredores que estavam inscritos. Ronnie, sempre concentrado, disse que “isto era canja” e “consigo melhorar o meu tempo, portanto, deixa-me fazer mais umas voltas”. Ronnie assim o fez e de facto conseguiu melhorar, subindo de décimo para o sexto lugar na grelha de partida.
Estava a recolher as coisas e a dirigir-me de volta para as nossas boxes quando vi uma enorme nuvem de fumo na zona da meta. Era Ronnie, sempre no seu limite para melhorar os tempos, mas excedeu-se numa curva e tocou no passeio, danificando um braço da suspensão. Catástrofe! Não tínhamos uma suspensão suplente e tínhamos muito pouco dinheiro para comprar um (o nosso patrocínio tinha-se “perdido” na Alemanha…), estávamos definitivamente em problemas!
Em Vila Real estavam muitas equipas a correr com um Brabham, e andávamos a percorrer as boxes em busca de alguém que nos podia vender uma suspensão extra para o nosso carro. Se dentro da nossa comunidade, era normal ajudarmos uns aos outros, entre o pelotão internacional era mais o “NEM PENSAR NISSO” antes da corrida e um “Talvez” mais tarde. Na cena internacional da Formula 3 daquele tempo existiam equipas bem organizadas, com peças sobressalentes, motores, etc, e se me lembro bem, personagens como Frank Williams e Bernie Ecclestone faziam parte dessa cena internacional. Tentamos reparar a suspensão por nós mesmos, com a ajuda dos nossos compatriotas. Conseguimos arranjar a tempo, e depois de passar na inspecção, estávamos prontos para participar na corrida.
Antes da partida, Ronnie e eu tínhamos combinado dar apenas algumas voltas, para não forçarmos muito a suspensão afectada, pois temíamos que as nossas reparações temporárias não aguentassem toda a corrida. Ajustamos o espelho de modo a que pudesse estar atento à zona afectada. Quando ele rumou para a linha de partida, eu rumei para as boxes, para arrumar as coisas no Dodge, para que assim pudéssemos marchar o mais rapidamente possível para a nossa próxima prova, no circuito francês de Magny-Cours.
Quando os carros passaram pela meta, no final da primeira volta, eu quase tinha um ataque cardíaco, quando vi o Ronnie a rolar na segunda posição! Estava a ver que os nossos planos tinham ido por água abaixo… contudo, após algumas voltas, o seu ritmo diminuiu devido aos problemas com a zona afectada, e teve que ir para as boxes, onde a corrida terminou ali para nós. Contudo, esta estreia na cena internacional foi boa para ele, pois aumentou a sua autoconfiança e a sua capacidade de lutar de igual para igual com os grandes nomes do campeonato.
Quanto ao clima, o tempo quente daquela altura era muito superior a que nós, suecos, estamos habituados a suportar. Reine Wissel tentou refrescar-se antes da corrida, atirando-se de uma fonte. Pode ter resultado na altura, mas poucos dias depois estava doente, com pneumonia! Egge Halund, outro dos suecos que vieram conosco, teve azar, ao bater com o carro num muro durante a corrida, resultando num pé esmagado, e teve que ser evacuado de helicóptero para o Porto, depois de uma passagem pelo hospital local."
Sensacional!!!!!!!!!
ResponderEliminarsem palavras
Fantástico texto, Speeder!
ResponderEliminarEstá a fazer um belo trabalho, revelando histórias divertidíssimas. É um outro tempo que já não existe.
E eu estava lá! Não me recordo já muito bem do que se passou nesse ano, lembro-me sim de que Carlos Gaspar participou também na prova de F3 (com o #67) e creio que o Joaquim Filipe Nogueira também.E que estava um calor abrasador, disso também me lembro (e do banho refrescante no Corgo, na zona da Timpeira, onde estávamos acampados...).
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