terça-feira, 25 de novembro de 2008

O piloto do dia - Richard Burns

Poucos foram os pilotos que tiveram a paixão e o talento deste homem. Não tão carismático ou destruidor como Colin McRae, não tão dominador como Tommi Makkinen, ou tão "matador" como Carlos Sainz, Richard Burns conseguiu aquilo que a Inglaterra deseja: ter um campeão nas suas fileiras. Foi o segundo campeão britânico de Ralies, depois do escocês Colin McRae, e em toda a sua vida correu apenas três carros: o Mitsubishi Lancer, o Peugeot 206 e o Subaru Impreza. O dia da sua maior glória em ralis, tornou-se quatro anos depois, numa triste ironia, no dia da sua permatura morte, vítima de um tumor cerebral. E esse dia é hoje. E agora, vou recordar a vida e feitos de Richard Burns.


Nasceu a 17 de Janeiro de 1971, na cidade inglesa de Reading, e aos oito anos, desenvolveu a sua paixão pelo automobilismo, guiando um velho Triumph 2000 pertencente ao seu pai. Aos 11 anos, em 1982, juntou-se ao "Under 17 Car Club", uma organização que providencia aos jovens com menos de 17 anos, a oportunidade de conduzir carros de forma segura e responsável, aprendendo técnicas que mais tarde lhe viriam a ser uteis nos ralies. O seu pai, Alex, tornou-se mais tarde instrutor nessa instituição.




Quatro anos depois, em 1986, huntou-se a outra escola de ralies, a Jan Churchill's Welsh Forest Rally School, onde aprendeu a conduzir num Ford Escort, em estradas de terra, melhorando as suas tecnicas de condução. Por essa altura, David Williams, um entusiasta dos ralies, decobrira o potencial de Burns, e convence a Peugeot a apostar nele, dando-lhe um Peugeot 205 GTI. Ele já tinha começado a competir em ralies locais, a bordo de um Talbot Sunbeam, mas queria mais. Participou no Peugeot Challenge de 1990, competição onde venceu. Como prémio, teve a sua primeira participação num Rali do Mundial: no Rali RAC, em Inglaterra, terminou na 28ª posição, num Peugeot 309 GTI.


No ano seguinte, conhece Robert Reid, o navegador que irá establecer com ele uma parceria que só terminará doze anos depois. Continuará a participar em ralies locais, com os Peugeot, mas queria mais. Foi o seu amigo e admirador David Williams que veio em seu auxilio em 1992, dando-lhe um Subaru Legacy de Grupo N, apoiado pela Prodrive, de David Richards. Burns participa no campeonato nacional da categoria, competição no qual vence. Tudo isso foi o suficiente para a Prodrive o apoiar para a temporada de 1993, onde iria correr, ao lado de Alistair McRae (irmão de Colin), no campeonato nacional de Ralies. Nesse ano, ganha quatro ralies e torna-se, aos 22 anos, no mais jovem campeão britânico de sempre. No Rali RAC, esse talento é mostrado contra os "tubarões", onde consegue os seus primeiros pontos do Mundial, ao terminar na sétima posição.

Em 1994, começa a ter um programa em "part-time" no Mundial, ao serviço da Prodrive, guiando um Subaru Impreza. O seu melhor resultado nesse ano é um quinto lugar no Rali Safari, no Quénia, e no ano seguinte, novo programa a tempo parcial deu-lhe o seu primeiro pódio, um terceiro lugar, no Rali RAC, a mesma prova que consagrou o seu companheiro e rival, o escocês Colin McRae, como o novo campeão do Mundo de Ralies.

Contudo, Burns, na Subaru, não era mais do que um mero terceiro piloto, com a equipa a concentrar-se em McRae e no espanhol Carlos Sainz. O inglês queria mais, e então mudou-se para a Mitsubishi, onde tinha como companheiro de equipa o finlandês Tommi Makinen.


Nessa temporada de 1996, Burns tinha a sua carreira repartida entre as corridas do campeonato Asia-Pacífico, e o Mundial WRC. Ganha o seu primeiro rali internacional do Rali da Nova Zelândia (então a contar para ocampeonato Asia-Pacifico), e a sua reputação de piloto rápido começa a solidicar-se, e a ganhar consideração na equipa. Em 1997, consegue uma temporada mais completa, onde o seu melhor resultado é um segundo lugar no Rali Safari, e vários quartos lugares em ralies como a Acrópole, Indonésia, Austrália e Grã-Bretanha, que lhe deram no final o sétimo lugar no campeonato, com 21 pontos.

E em 1998, consegue finalmente aquilo que queria: uma vitória no Mundial de Ralies. Conseguiu esse feito no Rali Safari, a bordo de um Mitsubishi Carisma Evo IV, façanha que repetiu mais tarde na última prova do campeonato, o Rali da Grã-Bretanha, terminando o ano na sexta posição do campeonato, com 33 pontos. Isso foi o suficiente para que a Prodrive convidasse Burns para voltar à equipa em 1999, para substituir Colin McRae, que tinha partido para a Ford.

Em 1999, de regresso à Subaru, junta-se ao belga Bruno Thiry e ao finlandês Juha Kankkunen, numa equipa que pretende vencer o título mundial a Tommi Makkinen, o seu ex-companheiro da Mitsubishi. O ano começa mal, pois só consegue um oitavo lugar em Monte Carlo. O seu primeiro resultado de relevo é um segundo lugar na Argentina, para logo depois vencer na Acrópole, para depois ter uma segunda parte do campeonato fabulosa, com duas vitórias na Austrália e em Inglaterra, e dois segundos lugares na Finlandia e na China. Contudo, no final do ano, não consegue vencer o título mundial, por sete pontos, a um Tommi Makkinen, que conquistava o seu quarto e ultimo título de campeão.

Em 2000, Burns já era considerado como o primeiro piloto da marca, e os especialistas já o apontavam como candidato ao título. Contudo, com o novo Subaru Impreza, tinha contra ele as máquinas da Ford, Mitsubishi e da Peugeot, numa temporada onde o equilibrio era patente. Venceu uma segunda vez no Safari e na prova seguinte, no Rali de Portugal, na estreia do Subaru Impreza WRC 2000. Uma terceira vitória, na Argentina, o colocava como o principal favorito ao título mundial desse ano, mas um acidente na Finlândia o fez perder o título mundial para o Peugeot do finlandês Marcus Gronholm, que fazia o seu primeiro ano a tempo inteiro...

Em 2001 era de novo o candidato ao título, e desta vez pretendia mesmo ganhar. Contudo, o inicio da temporada foi desastroso, pois não conseguiu ganhar nas duas primeiras corridas da temporada, em Monte Carlo e na Suécia. Os seus primeiros pontos foram alcançados em Portugal, com um quarto lugar, e a partir daqui começou a juntar pontos, sem conseguir alcançar o lugar mais alto do pódio: segundo lugar na Argentina, no Chipre, na Finlânidia e na Austrália, e uma vitória na Nova Zelândia.

À entrada da última prova, em Inglaterra, tinha que ficar à frente de Colin McRae, que era o líder do campeonato, para conseguir o tão almejado título. Não era fácil, mas a meio do rali, a sorte, que lhe tinha abandonado nos anos anteriores, finalmente o beneficiava: McRae abandonava, com problemas no seu Ford Focus, e Burns bastou ficar no terceiro lugar, atrás de Gronholm e Hari Rovanpëra, para ser coroado Campeão do Mundo, com 44 pontos, mais dois do que McRae.

Contudo, por alturas da sua consagração como campeão do mundo, o piloto inglês estava de saída da marca, e rumava de armas e bagagens para a Peugeot, para guiar o modelo 206. Na equipa, tinha como companheiros o finlandês Marcus Gronholm e o francês Gilles Panizzi. contudo, apesar do estatuto de numero um, Burns não era nenhum especialista em determinado tipo de superfície, como era Gronholm nos pisos de terra, e Panizzi, nos pisos de asfalto. Logo, o melhor que conseguiu foram quatro segundos lugares nos ralies da Catalunha, Chipre, Finlândia e Alemanha, esta última marcada pela primeira vitória em WRC de um tal Sebastien Löeb. No final do ano, Burns não foi para além do quinto lugar no Mundial.

Em 2003 continua na Peugeot, onde faz uma temporada muito regular, subindo constantemente ao pódio, e tendo como melhores resultados dois segundos lugares na Turquia e na Nova Zelândia, para além de mais cinco terceiros lugares (Suécia, Argentina, Grécia, Finlândia e Austrália), que o colocaram na rota pelo título, tendo como rivais o norueguês Petter Solberg, o veterano espanhol Carlos Sainz, e o francês Sebastien Löeb, apesar de Burns não ter ganho nenhum rali nesse ano.

Esperava alcançar algo no último rali da época, na Grã-Bretanha. Antes disso, anunciara que iria voltar para a Subaru em 2004, correndo ao lado de Solberg. Contudo, quando se dirigia para o local da partida, ao lado do estónio Marko Martin, Burns sofreu um "blackout" e desmaiou. Observado pelos médicos, detectaram-lhe um astrocitoma, uma forma de tumor cerebral, que normalmente é fatal em menos de cinco anos, caso esteja em estado avançado.

Burns efectuou um agressivo tratamento de radioterapia e quimoterapia, e em Abril de 2005, foi operado para retirar parte do tumor, operação do qual os médicos classificaram como bem sucedida. por essa altura, Burns tinha feito a mesma coisa que o seu compatriota Colin McRae: lançado um videojogo com o seu nome. O Richard Burns Rally é considerado pelos especialistas como um dos simuladores mais realistas de sempre, com vários dos carros que Burns conduziu ao longo da sua carreira, e mais alguns históricos.


Porém, no final do Verão, o tumor voltara em força, e Burns estava no hospital no inicio de Novembro, lutando pela vida. A 25 de Novembro de 2005, exactamente quatro anos depois de ter ganho o seu título mundial, morria aos 34 anos de idade. A sua morte, que ocorrera no mesmo dia que a do legendário futebolista George Best, deixara o Reino Unido de luto.


Poucos dias depois, a 4 de Dezembro, o legendário programa televisivo Top Gear fez uma emissão especial, em homenagem a Burns. Jeremy Clarkson, vizinho e amigo pessoal de Burns, afirmou o seguinte: "He was just such a nice guy. I'm going to miss him...badly."


No ano seguinte, a familia de Burns decidiu lançar a "Richard Burns Foundation", uma fundação que ajuda pessoas gravemente doentes, bom como para melhorar a segurança dos ralies, através do Michael Park Fund, criado em memória do galês Michael "Beef" Park (1966-2005), navegador de Marko Martin. Também nesse ano, a Subaru lançou um modelo Impreza RB320, de 320 cavalos, todos em preto, em honra de Burns, e cujos lucros vão para a Fundação.

Fontes:


1 comentário:

  1. Como sempre um execelente texto para uma lenda fenomenal. Burns também era tido como um gentleman em seu meio. A propósito o simulador que leva seu nome é matador. Na sua concepção, Burns supervisionou d e deu consultoria para que o seu realismo chegasse ao máximo.

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...