Há oito anos atrás, extinguia-se a vida de um homem que marcou imenso a história da Formula 1, por revolucionado a maneira como mudou o poder e a força da Formula 1 da Itália para a Grã-Bretanha, e como fez com que os carros tenham o aspecto de hoje, monolugares com motor traseiro. Se a ideia original é de Ferdinand Porsche, que o aplicou nos Auto Union da década de 30, a implementação definitiva da ideia deve-se a ele: John Cooper. É dele que vou falar hoje, nesta Véspera de Natal.
John Newton Cooper nasceu a 17 de Julho de 1923 em Kingston, no condado de Surrey, filho de Charles Cooper, o dono de uma garagem na vila vizinha de Surbiton, especializado na manutenção de carros de corrida. Aos 15 anos, abandonou a escola para ser aprendiz na garagem do pai, e pouco depois, veio a II Guerra Mundial, onde foi chamado para servir na Royal Air Force, como mecânico. Lá ficou até ao final da guerra, altura em que se juntou ao seu pai na garagem.
Com o final da guerra, a actividade automobilistica recomeçou, e havia muito material sobressalente no mercado. Entretanto, é criada uma nova classe a dos 500 cc, e em 1946, ele e Eric Brandon decidem construir dois protótipos para as competições de montanha. Pequeno e leve, o carro tinha o motor na traseira, algo invulgar na altura. Mais tarde, Cooper disse que tinha sido por razões puramente práticas: a correia de transmissão ficava mesmo em cima do eixo traseiro. O primeiro carro era bom, mas não muito fiável, e Cooper fez o MkII em 1948, que passou a dominar os circuitos ingleses. Para além disso, o carro era barato para a altura: apenas 500 libras. Dois dos pilotos que iriam começar as suas carreiras num Cooper eram Peter Collins e um jovem de 19 anos chamado Stirling Moss.
Entretanto, Cooper experimentava os seus carros, correndo e ganhando na sua classe. Mas com o tempo, viu que era mais preciso na construção e desenvolvimento dos carros, e depois de 1953, decidiu abandonar a competição. Por essa altura, os Cooper dominavam a cena na Formula 3 e Formula 2 britânica, e ocasionalmente, havia umas entradas privadas em grelhas de Formula 1, mas sempre para compor as grelhas, e sempre no fundo da tabela. Todo e qualquer jovem aspirante a piloto em Inglaterra tinha que competir num dos Cooper, e pessoas como Moss, Mike Hawthorn, Stuart Lewis-Evans, Tony Brooks, iniciavam-se na competição através destes carrinhos. Ken Tyrrell também competiu a bordo destes pequenos Coopers, até que descobriu que tinha mais talento a liderar equipas do que a conduzir. Até Bernie Ecclestone guiou um desses carrinhos!
Em 1957, Cooper decidiu adaptar o seu carro de Formula 2 à Formula 1, o modelo T43, conduzido por um australiano de 30 anos, que estava há pouco tempo na Europa: Jack Brabham. O carro não fez grandes feitos em 1957, mas no inicio do ano seguinte, Rob Walker, o herdeiro do whisky Johnny Walker, inscreveu um modelo T43 para Stirling moss para o GP da Argentina, no sentido de conseguir o prémio de presença, pago pelos organizadores, e tentar conseguir algum brilharete. Quando o carro chegou, os organizadores ficaram ofendidos, e recusaram-lhe a pagar o prémio. Contudo, no final do fim de semana argentino, tinha-se feito história, pois Moss ganharia o Grande Prémio, tornando-se no primeiro carro de motor traseiro a ganhar na Formula 1, depois de Walker ter concebido uma tática infalivel de não fazer paragens na corrida.
Cooper cedo aproveitou os frutos deste carro, e concebeu o modelo seguinte, o T51, para a temporada de 1959, com Jack Brabham, o francês Maurice Trintignant, e um neozelandês de 21 anos, que apesar da sua juventude, era muito talentoso: Bruce McLaren. O modelo estreou-se no Mónaco, a primeira corrida oficial, e Brabham ganhou, caminhando para o seu primeiro título mundial. No ano seguinte, com o modelo T53, o dominio fora ainda mais superior, vencendo o título com facilidade. No final de 1960, toda a gente sabia que era dos motores frontais tinha chegado ao fim.
Entretanto, o americano Roger Ward, um dos melhores pilotos americanos de então, vencedor das 500 Milhas e Campeão da USAC Championship (a antecessora da IRL), tinha visto os pequenos Cooper em Sebring e convidou John para levar um dos carros para a Oval americana. No final de 1960, Cooper e Brabham levaram um modelo T53 para a oval, perante centenas de especialistas, curiosos por saber como é que aquele carro se iria comportar num meio totalmente diferente. Numa "volta de aquecimento", Brabham estableceu uma média de 144.8 milhas por hora de velocidade média, o suficiente para o colocar na sétima posição da grelha daquele ano. no ano seguinte, levou um modelo desenhado com especificações da USAC, e deu nas vistas correndo no terceiro lugar, até que problemas na bomba de combustivel o relegaram para o nono lugar final. O resultado impressionou os americanos, que ficaram a saber que os carros com motor traseiro eram o futuro.
Contudo, a partir de 1961, a Cooper lutou para voltar aos títulos. O resto do pelotão adoptou os motores traseiros, incluindo Enzo Ferrari, e começaram a ser melhores do que eles. Nessa altura, desenvolvia outro projecto, a pedido da Mini, para competir nos ralies: o Mini Cooper. Esse carro tinha um motor de 998 cc, com uma potência de 55 cavalos, que apesar de não ser grande coisa nos nossos dias, era um carro muito vitaminado e foi homologado para os Ralies, vencendo por três vezes o Rali de Monte Carlo.
Porém, num dos testes em que fazia com o Mini Cooper, no final de 1963, John Cooper teve um acidente sério, ficando gravemente ferido e sofrendo uma longa convalescença. Dois anos antes, o seu pai tinha morrido, e Jack Brabham tinha saido para criar a sua própria equipa de Formula 1. Sendo assim, em 1965 decidiu vender a equipa para a Chipstead Garages Group, que continuou com as operações na Formula 1 até ao final da temporada de 1968.
Cooper continuou a gerir a sua garagem, e com o tempo, os seus contributos para a industria britânica foram reconhecidos com o grau de Comandante do Império Britânico (CBE). Em 1999, com a decisão da BMW de reavivar o Mini, pediu a Cooper para ficar com o seu nome e a ajudar a desenvolver o novo Mini Cooper, e por isso fundou a John Cooper Works, com o seu filho Michael. Foi o seu último contributo à industria automóvel antes de morrer na Véspera de Natal de 2000, aos 77 anos, vítima de cancro. Aquando da sua morte, entre os vários tributos que lhe fizeram na imprensa especializada, ficou a que foi feita por Roger Horton, da Atlas F1: "The Man that Beat Italia".
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