quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O piloto do dia - Tony Brooks

Dos primórdios da Formula 1 em Inglaterra, Mike Hawthorn e Stirling Moss foram os pilotos que mais se destacaram em carros ingleses, tendo Hawthorn finalmente dado à "Velha Albion" o tão ambicionado título, em 1958, batendo o seu compatriota Moss. Mas entre esses dois, um terceiro homem se destacou nessa altura, e que hoje em dia se encontra um pouco esquecido, (Stirling Moss chama-o de “o grande piloto esquecido”) mas que deu cartas e lutou pelo título mundial em máquinas como a BRM, Vanwall e Ferrari, onde foi para lá suceder a Hawthorn. Tony Brooks, o homem em questão, comemora hoje o seu 77º aniversário, e é sobre a sua carreira do qual falo hoje.


Charles Anthony Standish Brooks nasceu a 25 de Fevereiro de 1932 em Dunkinfield, no Chesire inglês. Era filho de um dentista, e seguiu as pisadas do seu pai, ao estudar para a profissão, que concluiu em 1955, na mesma altura em que já corria regularmente em automóveis. Três anos antes, em 1952, comprou um Healey e competia em provas locais, onde cedo demonstrou o seu talento. Nesse ano de 1955, a Connaught ofereceu-lhe um volante num dos seus carros de Formula 2 para correr numa prova no circuito de Crystal Palace, onde terminou na quarta posição, ficando apenas atrás de três Formula 1. Isso foi o suficiente para que a Aston Martin oferecesse um lugar na sua equipa de Sport-Protótipos, para correr nas 24 Horas de Le Mans, ao lado de outro britânico, Peter Collins.


Em Outubro desse ano, depois de mais uns brilharetes com o carro de Formula 2, Brooks recebeu um telefonema da Connaught, que lhe pediam para guiar o seu carro de Formula 1 para o GP de Siracusa, uma prova extra-campeonato. Anos mais tarde, contou a história: “Eles iam fazer o GP de Siracusa e perguntaram se queria guiar um dos seus carros. Francamente julgava que eles estavam desesperados para encontrar um piloto e disse-lhe que sim, e poisei o telefone, sem pensar muito no assunto, pois na altura estava concentrado nos exames.”


Sem ligar muito, foi correr numa prova onde tinha como concorrência os Maserati de Luigi Musso, Luigi Villoresi e Harry Schell, pois a Ferrari esta ausente. Num carro menos potente do que a concorrência, o seu talento natural veio ao de cima e conseguiu batê-los, tornando-se no primeiro inglês a ganhar uma prova no continente europeu desde Henry Seagrave, em 1924, quando ganhou o GP de San Sebastian, em Espanha. Mas modestamente, não ligou muito ao feito: “Fiquei feliz na altura, mas honestamente estava mais preocupado com os exames! Eu lembro melhor do voo de regresso a casa…”


Isso proporcionou-lhe uma temporada na BRM em 1956, mas não foi feliz com o carro. Depois de uma tentativa frustrada no Mónaco, na sua primeira corrida a sério, em Silverstone, despistou-se na corrida devido a um acelerador preso, e fracturou o maxilar.


Em 1957, assinou pela Vanwall, para ser segundo piloto da equipa, atrás de Stirling Moss. Na sua primeira corrida do ano, no Mónaco, surpreendeu a todos ao ultrapassar todos os seus compatriotas (Hawthorn, Moss, Collins…) logo na quarta volta, para acabar na segunda posição, somente atrás do Maserati de Juan Manuel Fangio. Entretanto, guiava pela Aston Martin nas provas de Endurance, e nas 24 Horas de Le Mans desse ano, sofreu um acidente que o deixou aleijado e inferiorizado para a prova seguinte, o GP de Inglaterra. Apareceu no circuito vindo directamente do hospital, e qualificou-se na terceira posição da grelha, atrás de Moss e do Maserati do francês Jean Behra.


Na corrida, Brooks circulava na quinta posição até à volta 51, altura em que o carro de Moss teve um problema de motor, e Brooks cedeu o seu carro. “Nessa altura, os pilotos podiam andar com os carros dos seus companheiros de equipa, caso tivessem problemas, e tínhamos combinado que caso acontecesse alguma coisa ao carro de Moss, seria eu a ceder o carro”, contou. Quando isso aconteceu, Brooks cedeu o seu carro, e Moss recuperou até à liderança, não a largando até ao final, fazendo com que Brooks ganhasse a sua primeira corrida da carreira. Mas na realidade era meia corrida…


No final dessa temporada, Brooks conseguiu onze pontos e a quinta posição no campeonato. No ano seguinte continuou na Vanwall, com Moss como companheiro, e na sua primeira corrida em que participou, no Mónaco, arrancou da “pole-position”, mas não concluiu a prova. Em Spa-Francochamps, o seu circuito favorito, conseguiu ganhar a sua primeira prova “a solo”, batendo Moss, que tinha quebrado o motor na primeira volta da corrida. Nova vitória em Nurburgring, na prova que foi marcada pelo acidente mortal de Peter Collins, e finalmente uma terceira vitória em Monza, o colocava na rota pelo título mundial. Mas não pontuou em Marrocos, devido a problemas de motor, enquanto que Moss e Hawthorn foram primeiro e segundo, respectivamente. No final da temporada, Brooks fora terceiro classificado, com 24 pontos.


Em 1959, Tony Vanderwell, o dono da Vanwall, tinha decidido retirar-se da competição, e Brooks foi para a Ferrari, substituir Mike Hawthorn. Na altura, o líder da equipa era o francês Jean Behra, mas uma discussão com Romolo Tavoni, após o GP de França, em que acabou em agressão, fez com que Brooks fosse elevado a líder da equipa. Nessa altura, Brooks tinha sido segundo no Mónaco e vencido em Reims. Com isso, depois de uma participação especial com o Vanwall em Aintree, voltou à Ferrari em AVUS Berlin, para o GP da Alemanha, onde liderou a equipa para uma “tripleta” do Cavalino, com os americanos Dan Gurney e Phil Hill a seu lado. Nessa corrida, Brooks conseguiu tudo: pole, vitória e volta mais rápida da corrida. No final do ano, conseguiu mais um pódio, em Sebring, depois de no início da corrida, ter sido vítima de um toque por parte do seu companheiro de equipa, o alemão Wolgang von Trips. Isso pode ter lhe custado o título, pois Jack Brabham, o então líder, ficara sem gasolina nos metros finais, e caso tivesse vencido, o título era seu. No entanto, tinha conquistado o vice-campeonato, com 24 pontos no total.


Nessa altura, a sua motivação para o automobilismo tinha-se desvanecido um pouco. Já pensava na vida para além dela, e tinha comprado uma garagem em Weybridge, no Surrey, e decidira abandonar a Ferrari para aceitar um lugar na British Racing Partnership, a equipa montada pelo pai de Stirling Moss, Alf, que corria nesse ano com um Cooper. Conseguiu sete pontos e o 11º lugar na classificação geral, antes de correr pela BRM em 1961. Um terceiro lugar em Watkins Glen e uma melhor volta em Aintree foram os melhores resultados do ano para Brooks, antes de se retirar definitivamente da competição, ainda nem tinha completado 29 anos. Ironicamente, caso tivesse ficado na BRM por mais um ano, provavelmente teria uma chance real de chegar ao título…


A sua carreira na Formula 1: 39 Grandes Prémios, em seis temporadas (1956-61), seis vitórias, dez pódios, três pole-positions, três voltas mais rápidas, 75 pontos no total.


Eventualmente, uma das suas razões pela qual se desinteressou pelas corridas foi a sua atitude perante a competição, e os perigos inerentes a ela: “A minha aitude perante as corridas mudou após os meus acidentes em Silverstone (1956) e em Le Mans no ano seguinte. Em ambos os casos, sabia que havia algo de errado no carro, e tentei compensar isso, correndo riscos desnecessários. Decidi então que nunca mais iria lutar pelo controle do carro. Se soubesse que havia algo de errado, teria de viver com isso. Sempre achei moralmente errado tomar riscos desnecessários porque a vida é um presente de Deus. Eu sei que muitos irão não concordar, mas era o meu ponto de vista: tinha o dever moral de tomar conta da minha segurança”.


Dedicou-se então à sua garagem e passou a aparecer em eventos históricos, como Goodwood, guiando muitas vezes o Aston Martin de Endurance. Stirling Moss, seu companheiro na Vanwall, sempre o teve em alta estima, disse que caso montasse uma equipa, e pudesse escolher dois pilotos ao longo da história, esses seriam Jim Clark e Tony Brooks: “A minha escolha por Tony poderá ser uma surpresa para muitos, porque era o melhor piloto ‘desconhecido’ da história. E digo desconhecido, porque é um homem tão modesto que nunca se pôs em bicos de pé para saborear o êxito. Mas como piloto, era do melhor!”


Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/Tony_Brooks
http://www.grandprix.com/gpe/drv-broton.html
http://forix.autosport.com/8w/brooks.html

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