Um mês depois de Jacarépaguá, a Formula 1 chegava a paragens europeias, com o Grande Prémio de San Marino, disputado no circuito de Imola. Depois da surpresa da Ferrari em paragens brasileiras, a McLaren tinha de reagir, pois era a equipa favorita, e nada melhor do que uma das casas da Ferrari para demonstrar essa superioridade aparente.
A vitória da Scuderia, por seu turno, tinha atraído imensa gente ao agora rebaptizado Circuito Enzo e Dino Ferrari, estando presentes mais de 120 mil espectadores no dia da corrida, e os “tiffosi” estavam esperançados em ver repetida a façanha do Brasil, com Nigel Mansell a ser o novo herói da “Rossa”.
Havia uma novidade de maior na lista de inscritos: a AGS estreava oficialmente o italiano Gabriele Tarquini na equipa, para substituir Phillipe Streiff, irremediavelmente lesionado no seu acidente em Jacarépaguá. A Tyrrell estreava o seu carro novo, o modelo 018, mas somente para Michele Alboreto, já que Jonathan Palmer ficava ainda com o modelo antigo. Mas o modelo apresentou muitos problemas no fim-de-semana competitivo, e não conseguiu qualificar-se para a corrida. Seria a primeira de muitas não-qualificações sensacionais que iriam fertilizar esta temporada…
A pré-qualificação de sexta-feira de manhã tinha seleccionado os dois Brabham, de Martin Brundle e Stefano Modena, que passaram facilmente, o Dallara de Alex Caffi e o Osella de Nicola Larini. Nos treinos de qualificação, no Sábado à tarde, a Mclaren levou a melhor, monopolizando a primeira fila da grelha, com Ayrton Senna à frente de Alain Prost, e na segunda fila, o Ferrari de Nigel Mansell foi mais rápido que o Williams-Renault de Riccardo Patrese. Na terceira fila, o segundo Ferrari de Gerhard Berger superava o segundo Williams de Thierry Boutsen, e na quarta fila, Alessandro Nannini era sétimo, à frente de Nelson Piquet, no seu Lótus-Judd. A fechar o “top ten” estavam o Dallara de Alex Caffi e o Ligier de Olivier Grouillard.
Em 30 participantes na qualificação, em 26 vagas, houve quatro que ficaram de fora. O já referido Tyrrell de Michele Alboreto, o Ligier de René Arnoux, que batera na qualificação, o Rial do alemão Christian Danner e o Coloni de Roberto Moreno.
Sob um dia ameno de Primavera, máquinas e pilotos estavam prontos para correr naquele Domingo, 23 de Abril de 1989, na veloz pista de Imola. Na partida, Senna mantêm o primeiro lugar á partida e até à primeira curva, superando Prost, e vai-se embora, com Mansell e Patrese logo a seguir, e Berger era quinto, à frente de Thierry Boutsen. As coisas mantêm assim até ao inicio da quarta volta, quando Berger segue em frente na rápida Curva Tamburello a mais de 200 km/hora, e bate violentamente no muro da pista, arrastando-se até parar. Imediatamente, o Ferrari cheio de gasolina pega fogo.
“À medida que os segundos iam passando assustadoramente, os meus olhos ficavam embaçados. Era a inesquecível memória dos dramáticos momentos de Roger Williamson, em Zandvoort, em 1973, morrendo carbonizado dentro da sua March. Gerhard Berger permanecia envolto em chamas, dentro da sua Ferrari. Naquele braseiro alimentado pelos quase 200 litros de gasolina ainda existentes à quarta volta, a temperatura e os fumos podem ser fatais.
Recordações, também, do terrível acidente de Niki Lauda, em Nurburgring, em 1976.
A Ferrari de Berger seguia na quarta volta atrás de Patrese, na quinta posição. Na tomada da Curva Tamburello, onde Piquet embatera a mais de 250 km/hora nos treinos com a Williams, em 1987, o carro segue em frente, directo para se chocar violentamente contra o muro, sem que seja esboçado qualquer movimento de direcção para evitar ou corrigir o rumo fatal do carro. Boutsen, que seguia atrás de Berger, conta que viu o spoiler dianteiro da Ferrari a soltar-se. Depois de embater no muro a mais de 200 km/hora, de rodopiar e voltar a bater de flanco, o carro incendeia-se, transformando-se numa bola de fogo, com Berger lá dentro.
Mas felizmente os tempos são outros. A segurança é muito maior. Dos habitáculos. Da pista.
Em 15,2 segundos, os competentes comissários de pista italianos accionaram o primeiro extintor em cima da Ferrari, conseguem por fim ao fogo em cinco segundos e retirar Berger do cockpit. Transportado ao Centro Médico do circuito, constata-se outro milagre: Berger nada tem, além de queimaduras nas mãos!” Este é o relato emocionado de Francisco Santos, ao descrever no seu anuário os segundos posteriores ao acidente de Berger.
Depois de socorrer o piloto austríaco, a prova esteve parada durante uma hora até à segunda partida, com menos uma volta da prevista. Quanto aos resultados, iriam ser juntados nas duas partidas e iria ser feito uma média. Nessa segunda partida… a polémica. Prost partiu melhor, mas na travagem da curva Tosa, Senna ultrapassa-o para a liderança. Prost afirma que o brasileiro tinha violado um acordo de cavalheiros que tinham feito antes, e as relações, que já eram tensas desde um incidente similar seis meses antes no Estoril, ficaram definitivamente quebradas. “Só me passou porque pensou que tinha palavra. Mas continua o mesmo do ano passado”, afirmou Prost no final da corrida.
Depois disso, o resto da corrida foi mais calmo. As McLaren dominaram-na, dando quase uma volta ao terceiro classificado, o Benetton de Alessandro Nannini, que herdara a posição a Nigel Mansell, que tinha desistido na volta 23, devido à caixa de velocidades. A seguir a Nannini, vinha Nelson Piquet, que não durou muito mais, pois na volta 29, o motor explodiu. Assim, o quarto posto caiu nas mãos de Thierry Boutsen, que o conservou até ao final. Mas os comissários de pista desclassificaram-no, porque descobriu-se que tinham trocado de pneus entre as duas partidas, a ele e a Alex Caffi, o sétimo classificado. Mas meses depois, descobriu-se que os comissários italianos tinham autorizado a troca, e devolvidos os lugares que tinham sido retirados. Assim, com o pódio Senna-Prost-Nannini, Thierry Boutsen foi quarto, o Arrows de Derek Warwick foi quinto e o Tyrrell de Jonathan Palmer fechou os pontos.
Fontes:
Santos, Francisco – Formula 1 1989/90, Ed. Talento, Lisboa/São Paulo, 1989.
http://en.wikipedia.org/wiki/1989_San_Marino_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr470.html
A vitória da Scuderia, por seu turno, tinha atraído imensa gente ao agora rebaptizado Circuito Enzo e Dino Ferrari, estando presentes mais de 120 mil espectadores no dia da corrida, e os “tiffosi” estavam esperançados em ver repetida a façanha do Brasil, com Nigel Mansell a ser o novo herói da “Rossa”.
Havia uma novidade de maior na lista de inscritos: a AGS estreava oficialmente o italiano Gabriele Tarquini na equipa, para substituir Phillipe Streiff, irremediavelmente lesionado no seu acidente em Jacarépaguá. A Tyrrell estreava o seu carro novo, o modelo 018, mas somente para Michele Alboreto, já que Jonathan Palmer ficava ainda com o modelo antigo. Mas o modelo apresentou muitos problemas no fim-de-semana competitivo, e não conseguiu qualificar-se para a corrida. Seria a primeira de muitas não-qualificações sensacionais que iriam fertilizar esta temporada…
A pré-qualificação de sexta-feira de manhã tinha seleccionado os dois Brabham, de Martin Brundle e Stefano Modena, que passaram facilmente, o Dallara de Alex Caffi e o Osella de Nicola Larini. Nos treinos de qualificação, no Sábado à tarde, a Mclaren levou a melhor, monopolizando a primeira fila da grelha, com Ayrton Senna à frente de Alain Prost, e na segunda fila, o Ferrari de Nigel Mansell foi mais rápido que o Williams-Renault de Riccardo Patrese. Na terceira fila, o segundo Ferrari de Gerhard Berger superava o segundo Williams de Thierry Boutsen, e na quarta fila, Alessandro Nannini era sétimo, à frente de Nelson Piquet, no seu Lótus-Judd. A fechar o “top ten” estavam o Dallara de Alex Caffi e o Ligier de Olivier Grouillard.
Em 30 participantes na qualificação, em 26 vagas, houve quatro que ficaram de fora. O já referido Tyrrell de Michele Alboreto, o Ligier de René Arnoux, que batera na qualificação, o Rial do alemão Christian Danner e o Coloni de Roberto Moreno.
Sob um dia ameno de Primavera, máquinas e pilotos estavam prontos para correr naquele Domingo, 23 de Abril de 1989, na veloz pista de Imola. Na partida, Senna mantêm o primeiro lugar á partida e até à primeira curva, superando Prost, e vai-se embora, com Mansell e Patrese logo a seguir, e Berger era quinto, à frente de Thierry Boutsen. As coisas mantêm assim até ao inicio da quarta volta, quando Berger segue em frente na rápida Curva Tamburello a mais de 200 km/hora, e bate violentamente no muro da pista, arrastando-se até parar. Imediatamente, o Ferrari cheio de gasolina pega fogo.
“À medida que os segundos iam passando assustadoramente, os meus olhos ficavam embaçados. Era a inesquecível memória dos dramáticos momentos de Roger Williamson, em Zandvoort, em 1973, morrendo carbonizado dentro da sua March. Gerhard Berger permanecia envolto em chamas, dentro da sua Ferrari. Naquele braseiro alimentado pelos quase 200 litros de gasolina ainda existentes à quarta volta, a temperatura e os fumos podem ser fatais.
Recordações, também, do terrível acidente de Niki Lauda, em Nurburgring, em 1976.
A Ferrari de Berger seguia na quarta volta atrás de Patrese, na quinta posição. Na tomada da Curva Tamburello, onde Piquet embatera a mais de 250 km/hora nos treinos com a Williams, em 1987, o carro segue em frente, directo para se chocar violentamente contra o muro, sem que seja esboçado qualquer movimento de direcção para evitar ou corrigir o rumo fatal do carro. Boutsen, que seguia atrás de Berger, conta que viu o spoiler dianteiro da Ferrari a soltar-se. Depois de embater no muro a mais de 200 km/hora, de rodopiar e voltar a bater de flanco, o carro incendeia-se, transformando-se numa bola de fogo, com Berger lá dentro.
Mas felizmente os tempos são outros. A segurança é muito maior. Dos habitáculos. Da pista.
Em 15,2 segundos, os competentes comissários de pista italianos accionaram o primeiro extintor em cima da Ferrari, conseguem por fim ao fogo em cinco segundos e retirar Berger do cockpit. Transportado ao Centro Médico do circuito, constata-se outro milagre: Berger nada tem, além de queimaduras nas mãos!” Este é o relato emocionado de Francisco Santos, ao descrever no seu anuário os segundos posteriores ao acidente de Berger.
Depois de socorrer o piloto austríaco, a prova esteve parada durante uma hora até à segunda partida, com menos uma volta da prevista. Quanto aos resultados, iriam ser juntados nas duas partidas e iria ser feito uma média. Nessa segunda partida… a polémica. Prost partiu melhor, mas na travagem da curva Tosa, Senna ultrapassa-o para a liderança. Prost afirma que o brasileiro tinha violado um acordo de cavalheiros que tinham feito antes, e as relações, que já eram tensas desde um incidente similar seis meses antes no Estoril, ficaram definitivamente quebradas. “Só me passou porque pensou que tinha palavra. Mas continua o mesmo do ano passado”, afirmou Prost no final da corrida.
Depois disso, o resto da corrida foi mais calmo. As McLaren dominaram-na, dando quase uma volta ao terceiro classificado, o Benetton de Alessandro Nannini, que herdara a posição a Nigel Mansell, que tinha desistido na volta 23, devido à caixa de velocidades. A seguir a Nannini, vinha Nelson Piquet, que não durou muito mais, pois na volta 29, o motor explodiu. Assim, o quarto posto caiu nas mãos de Thierry Boutsen, que o conservou até ao final. Mas os comissários de pista desclassificaram-no, porque descobriu-se que tinham trocado de pneus entre as duas partidas, a ele e a Alex Caffi, o sétimo classificado. Mas meses depois, descobriu-se que os comissários italianos tinham autorizado a troca, e devolvidos os lugares que tinham sido retirados. Assim, com o pódio Senna-Prost-Nannini, Thierry Boutsen foi quarto, o Arrows de Derek Warwick foi quinto e o Tyrrell de Jonathan Palmer fechou os pontos.
Fontes:
Santos, Francisco – Formula 1 1989/90, Ed. Talento, Lisboa/São Paulo, 1989.
http://en.wikipedia.org/wiki/1989_San_Marino_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr470.html
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