No regresso deste espaço de entrevistas, após um curto interregno, decidi trazer um excelente convidado. Actualmente com 36 anos de idade e jornalista de profissão, Alexandre Carvalho é o homem por detrás do blog Almanaque da Formula 1. Casado com outra jornalista, o automobilismo é o único desporto que adora, um claro contraste com o futebol, que “não acompanha nem mesmo durante Copa do Mundo”.
Começou a trabalhar no jornalismo há quase dez anos, no Rio de Janeiro, cobrindo eventos como o Formula Petrobrás, corrida com carros da antiga Formula Ford brasileira, a Formula Chevrolet e o Campeonato Carioca de Turismo. Em 2002 decide escrever sobre tecnologias de informação, primeiro como repórter, e depois como editor. A partir de 2005, data em que se muda para São Paulo, é assessor de imprensa para várias empresas de tecnologia, e actualmente, tem o mesmo trabalho, mas para a organização da Formula 3 sul-americana.
1 – Olá, é um prazer ter-te aqui, neste humilde blog, a responder às minhas perguntas. Queres explicar, em poucas linhas, como surgiu a ideia do teu blogue?
Desde quando comecei a usar a Internet, em 1996, sempre tive vontade de ter um espaço onde pudesse expressar meu conhecimento e minhas opiniões sobre a Fórmula-1. Naquela época, os fanzines já estavam saindo de moda e eram complicados para produzir. Então, a Internet veio em boa hora para mim. Já com planos de me tornar jornalista, a vontade de me expressar para o maior número possível de pessoas era natural. Daí, em 1997, pus no ar um site que chegou a fazer algum sucesso, apesar do nome óbvio e horrível: Fórmula-1 Homepage.
O site ficava hospedado no antigo GeoCities e eu fazia ao menos uma ou duas atualizações por semana. E desde aquela época sempre buscava fazer o que é minha principal característica: resgatar o passado da Fórmula-1, mostrando um conteúdo que dificilmente se via na imprensa especializada, pelo menos aqui no Brasil. A Fórmula-1 Homepage durou exatamente três anos. Em 2000, tomei conhecimento dos blogs, e em 2002 criei um genérico, onde escrevia sobre qualquer assunto. Mas só em 2006 lancei um com foco apenas na Fórmula-1, o hoje também extinto F1 Tales, que sofreu com a falta de atualização, por causa do meu trabalho, até que no ano passado resolvi acabar com isso e fazer as coisas de forma mais séria. E foi assim que o Almanaque da Fórmula-1 veio ao mundo.
2 – O nome que ele tem, foi planejado ou saiu, pura e simplesmente, da tua cabeça?
O nome foi planejado, sim, pois refere-se a um outro projeto que tenho em mente, sobre o qual não posso comentar agora. De qualquer forma, eu queria um nome forte, que ficasse guardado na mente das pessoas e me permitisse aparecer quase sempre nas primeiras páginas do Google, o que tem sido até bem fácil e me surpreendeu.
3 – Antes de começares este blog, já tinhas tido alguma participação em outros blogues ou sites?
Como expliquei antes, tive apenas um site e um outro blog sobre Fórmula-1, ambos já extintos. Fora isso, ajudei o João Paulo Cunha, do Forix, a lançar a versão brasileira do portal, na época em que ele só tinha as versões em inglês e em português lusitano. Cheguei a colaborar com alguns textos também, mas faz muito tempo. De qualquer forma, ainda pretendo fazê-lo, pois considero o Forix um dos melhores projetos que existem na web referentes ao automobilismo esportivo e é algo que me dá prazer.
4 – Em que dia é que começaste, e quantas visitas é que já teve até agora?
Foi exatamente à meia-noite do dia 1º de janeiro deste ano. Mas de forma automática, pois nessa hora certamente eu estava no terraço do prédio onde moro, vendo os fogos do Réveillon da Avenida Paulista, em São Paulo. Mesmo a loucura pela Fórmula-1 tem seus limites. :-) Quanto aos acessos, até agora tive 7800 visitas, com média de dois mil por mês, o que considero normal, uma vez que não actualizo o conteúdo todos os dias.
5 – De todos os posts que já escreveste, lembras-te de algum que te orgulhe… ou não?
Sem dúvida alguma, as entrevistas que fiz com o ex-piloto Fritz d'Orey, que surpreendentemente não teve nenhum comentário, e com o Sebastian, filho do saudoso Harald Ertl, um dos bravos pilotos que salvaram o Niki Lauda daquele terrível acidente em Nürburgring. Devo publicar mais uma com um ex-piloto francês bem conhecido pelos brasileiros que acompanharam a temporada de 1989 (não é o Alain Prost). Estou apenas aguardando as respostas que ele se comprometeu a me enviar por e-mail, o que espero que seja em breve.
6 – Em que é que tu, escrevendo sobre Formula 1, consegues ser diferente dos outros blogs?
Pelo conteúdo diferenciado, coisa que todo blog deveria buscar. No meu caso, procuro sempre apresentar histórias curiosas, de pouco conhecimento do público, como aquele episódio em que o Zé do Caixão benzeu a Simtek do Roland Ratzenberger em Interlagos, e que por uma infeliz coincidência foi o mesmo carro com o qual ele sofreu o acidente em Ímola. Destaco também as entrevistas com ex-pilotos e personalidades ligadas à Fórmula-1, que obviamente são mais difíceis de fazer, mas que depois de prontas me dão aquela sensação gostosa de dever cumprido. Minha única frustração é perceber que a maior parte das pessoas que hoje acompanham a Fórmula-1 não dá muita importância ao passado da categoria, visto que os comentários que recebo no blog são bem poucos. Posso estar enganado ao fazer esse julgamento, é claro, mas é a impressão que eu tenho.
7 – Daqueles blogues que conheces sobre automobilismo, qual(is) dele(s) é que tu nunca dispensas uma visita diária?
São vários, cada um por um bom motivo. O teu é um deles, por causa das excelentes homenagens que você faz aos ex-pilotos, sempre aproveitando alguma data marcante, mas também incluo na lista Pandini GP (Luiz Alberto Pandini), A Mil Por Hora (Rodrigo Mattar), Blog do Ico (Luis Fernando Ramos), Quatro Rodinhas (José António), Histórias da Fórmula 1 (cujo autor usa um pseunônimo intrigante: Monocromático), entre outros. Recentemente, comecei a acompanhar também o F1 Around, do Becken Lima, que merece destaque por apresentar algo que anda muito em falta na blogosfera brasileira: opinião, e não uma simples repetição do que sai no noticiário. Por meio dele também conheci o excelente blog do jornalista James Allen. E, claro, não poderia deixar de incluir o Blog do Capelli, cuja identidade eu não revelo aqui nem por decreto. :-)
8 – Falamos agora de Formula 1. Ainda te lembras da primeira corrida que assististe?
Da primeira corrida, não, mas sei que foi em 1978, quando eu tinha seis anos de idade. Lembro que nessa época falava-se tanto em Fittipaldi que eu acabava confundindo o sobrenome do Emerson com o conceito do carro. Bastava eu entrar em uma loja de brinquedos e já pedia à minha mãe para comprar um Fittipaldi para mim. A partir de 1980 é que comecei a acompanhar as corridas com regularidade. Daquela época, minha lembrança mais marcante são as Brabham do Piquet com o enorme patrocínio da Parmalat.
9 – E qual foi aquela que mais te marcou?
Foram várias, mas em uma resposta relâmpago eu posso citar o GP de Portugal de 1985, com a bela vitória do Senna; o GP do Japão de 1988, onde ele conquistou o primeiro título de campeão, os GPs do Brasil de 1991 e 1993, com vitórias do Senna; o GP da Hungria de 1997, quando torci feito louco pelo Damon Hill (mais pela Arrows do que por ele); o GP da Alemanha de 2000, com a primeira vitória do Barrichello; e, finalmente, os GPs de San Marino de 1994 e o GP do Brasil do ano passado, por motivos óbvios. Esta última corrida, inclusive, foi uma das poucas que me fizeram assistir as últimas voltas em pé, em absoluto silêncio, com o coração quase saindo pela boca e os olhos grudados na tela da TV.
10 – Fittipaldi, Piquet e Senna. Qual dos três é aquele que mais agrada, e porquê?
Nelson Piquet, por seu talento inquestionável nas pistas, por sua extrema criatividade para acertar um carro e pela irreverência e total despreocupação com qualquer tipo de protocolo, coisa que infelizmente não vemos mais na Fórmula-1. E ele foi justamente o primeiro piloto de Fórmula-1 que entrevistei. Foi em 1999, durante uma prova da extinta Fórmula Petrobras, em Jacarepaguá.
11 – E achas que algum dia, Felipe Massa vai fazer parte deste trio de campeões?
Potencial para ser campeão ele tem, mas não acredito que seja este ano. Por mais que a torcida brasileira esteja ansiosa por isso, acho que ela vai ter de esperar mais um pouco.
12 – Comparando-o aos três pilotos acima referidos, Massa é mais parecido com quem, e porquê?
Com nenhum dos três. Cada um tem uma característica própria, que em nada se assemelha com as dos outros. Emerson era do tipo que corria com cautela, buscando resultados consistentes para depois colher os frutos no final. Piquet era do tipo que fazia o seu melhor e, quando era possível, partia para o tudo ou nada, como fez na Hungria em 86, naquela belíssima ultrapassagem sobre o Senna. Para ele, o campeonato era uma conseqüência, e não o único objetivo. Já o Senna era um obcecado pela vitória, e não media esforços para isso. E Felipe Massa não é parecido com nenhum deles, mesmo que venha a ser campeão.
13 – Achas que o título de 2008 foi bem entregue?
Com certeza. Apesar de achar que Lewis Hamilton ainda precisa provar muita coisa na Fórmula-1, ele fez por merecer o título do ano passado. E não concordo com quem tenta desvalorizar sua conquista alegando que ele correu em Interlagos sem se preocupar com a vitória. Isso é papo de perdedor que não consegue aceitar a vitória do adversário. Se a situação fosse inversa e o Felipe estivesse no lugar dele, fazendo uma corrida convencional e assim conquistando o título, a maioria estaria aplaudindo de pé, elogiando sua "cautela".
14 – Tirando os brasileiros, qual é para ti o piloto mais marcante da história da Formula 1, e por quê?
É difícil citar um nome com tantos pilotos espalhados em quase seis décadas de história. Vou citar três, ok? Niki Lauda, Ayrton Senna e Michael Schumacher, pois foram nomes que, na minha opinião, melhor representaram a idéia de ter o automobilismo correndo nas veias. Somados, são 13 títulos mundiais, o que não é pouca coisa.
15 – Para além de Formula 1, que outras modalidades de automobilismo que tu mais gostas de ver?
As categorias européias, principalmente a GP2 (incluindo a asiática) e a WTCC. E aqui na América do Sul, a Fórmula-3 Sul-Americana, categoria da qual sou assessor de imprensa no Brasil.
16 – E achas que vale a pena falar sobre ele no teu blogue?
Não. Meu foco sempre foi e sempre será a Fórmula-1. Para escrever sobre outras categorias, eu precisaria ter um dia que durasse 48 horas.
17 – E miniaturas de carrinhos, tens algum?
Tenho poucas, pois aqui no Brasil são muito caras. Fazem parte da minha coleção a McLaren MP4-8 do Ayrton Senna, a Sauber C13 do Karl Wendlinger, a Ferrari F310 do Michael Schumacher, a Jaguar R3 do Eddie Irvine e a Pacific PR01 do Bertrand Gachot. Tenho também uma Ferrari F-50 e o famoso Mach 5 do Speed Racer. Uma que há muito tempo pretendo comprar é a Simtek S941 do Roland Ratzenberger, um dos carros mais bonitos que já passaram pela Fórmula-1, na minha opinião. Meu acervo de miniaturas é bem pequeno, o que acabo compensando na coleção de livros, revistas e DVDs, como você pode ver aí na foto (e isso é apenas uma parte bem pequena dela).
18 – Passando para a actualidade: em Dezembro, a Honda anunciou de repente a sua retirada da Formula 1. Como sentiste isso?
Foi um misto de sentimentos. Primeiro, aquela sensação de choque, pois ali é que deu para perceber realmente que todo mundo estava vulnerável à crise mundial. Mas ao mesmo tempo tive uma sensação de alívio por saber que não veria mais no grid uma equipe sem nenhuma tradição na Fórmula-1, e que só fez apenas papel de figurante. A única preocupação mesmo era a incerteza em relação ao grid deste ano, por não saber se teríamos 18 ou 20 carros disputando as provas. Nem mesmo com o futuro de Rubens Barrichello eu estava preocupado.
19 – Ficaste satisfeito na altura com a solução arranjada pela Honda, de uma Brawn Grand Prix, e pela escolha de Rubens Barrichello em detrimento de Bruno Senna?
Sem dúvida, pois toda equipe nova é sempre bem-vinda. E a escolha de Barrichello em detrimento de Bruno Senna foi mais do que acertada, ao contrário do que pensam as viúvas de Ayrton Senna. Uma equipe precisa, sim, de um nome forte em termos de marketing. Só que apenas o marketing não garante resultados (Giovanna Amati é uma prova disso) e aí é que a experiência de Rubens Barrichello contou e muito para que fosse ele o escolhido. O Ross Brawn sabe muito bem o que está fazendo ali.
20 – Agora temos uma briga entre a FOTA e a FIA, sobre coisas como o sistema de pontuação e os custos controlados na Formula 1. Achas que esta briga será algo parecido com o que aconteceu em 1980, ou poderemos correr o risco de ver uma cisão na Formula 1, como aconteceu nos Estados Unidos?
Ainda é cedo para emitir uma opinião. Depois que a FIA decidiu voltar atrás quanto ao sistema de pontuação, parece que as coisas deram uma acalmada. O que acho que vai acontecer é a desunião entre as equipes. Um indício são os atritos iniciados por Flavio Briatore com Ross Brawn, o que poderá ser muito desgastante no futuro. Mas vamos ver como será ao longo do ano e, principalmente, em 2010, já que o Bernie Ecclestone, que a cada ano fica mais velho e mais bobo, afirmou que o sistema que define o campeão pelo maior número de vitórias passará a valer no ano que vem. Vamos ver.
21 - O que achaste até agora dos novos carros de 2009?
Quando vi as imagens pela primeira vez, achei bem estranhos, mas agora já estou acostumado.
22 – O que pensas sobre a polémica dos difusores? Tem razão ou foram apanhados “com as calças na mão”, como disse Nigel Mansell?
Uma bobagem. Coisa de quem não soube enxergar as brechas no regulamento e tirar proveito delas, o que sempre aconteceu em outras temporadas. Se no dia 14 de abril os difusores forem considerados legais, as outras equipes logo passarão a usá-los também para diminuir a desvantagem em relação aos rivais.
23 - Que ideia é que ficaste dos dois primeiros grandes prémios da época? Os testes de pré-época tinham te dado uma ideia ou nem por isso?
Antes dos primeiros testes da Brawn GP, minha opinião era semelhante a de outras pessoas, tendo McLaren e Ferrari como principais favoritas e alguma outra despontando com possível postulante à disputa do título: Red Bull, BMW-Sauber e Renault. Mas depois de três dias vendo a Brawn GP marcando o melhor tempo, comecei a pensar seriamente que este ano veria uma situação com a qual não estaríamos acostumados, o que, sem dúvida, é excelente para o campeonato. E quer saber? Estou adorando ver a Ferrari sem pontos na tabela de classificação de Lewis Hamilton com apenas um ponto.
Quanto às corridas, gostei do que vi até agora, embora tenha lamentado o que aconteceu na Malásia, por culpa da teimosia de Bernie Ecclestone em mudar o horário para atender os interesses do público europeu, sem dar a mínima para a opinião dos pilotos. Foram boas disputas, tanto em Melbourne como em Sepang, que estão dando um tempero muito bom à categoria. Espero que continue assim por um bom tempo.
24 - Com isto tudo, quem é o teu favorito ao título mundial?
Ainda é cedo para afirmar, mas aposto minhas fichas em Robert Kubica, Felipe Massa e Sebastian Vettel. Veremos no final do ano se acertei algum.
25 - “Correr é importante para as pessoas que o fazem bem, porque… é vida. Tudo que fazes antes ou depois, é somente uma longa espera.” Esta frase é dita pelo actor americano Steve McQueen, no filme “Le Mans”. Concordas com o seu significado? Sentes isso na tua pele, quando vês uma corrida, como espectador?
Não concordo, pois todo piloto, independentemente de ele ter talento ou não, corre porque considera o automobilismo importante para sua vida. Não é apenas para quem "o faz bem". É sua maior paixão, algo que, salvo raras exceções, carregam consigo desde a infância. Muitos não suportam viver longe do automobilismo, como o Willy Mairesse, que não agüentou e tirou a própria vida quando se viu obrigado a abandonar a carreira depois de um grave acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1968.
26 – Já agora, tens alguma experiência automobilística, como karting? Se sim, ficaste a compreender melhor a razão pelo qual eles pegam num carro e andam às voltas num circuito?
Sim, de kart indoor. Apesar da evidente diferença de velocidade em relação a um kart de competição, a sensação é indescritível. Só mesmo experimentando para saber como é. Minha primeira vez foi em 1997, onde fui um completo desastre, chegando em último. Foi aí que me apelidaram de Huub Rothengatter do kart. Um ano depois, participei de um torneio amador e ainda assim cheguei a cometer algumas loucuras dignas de Andrea de Cesaris. Depois parei, voltando em 2003, quando passei a andar direitinho e comecei a vencer, a marcar a pole... Hoje, é algo que não pratico sempre apenas por pura preguiça.
27 - Tens algum período da história da Formula 1 que gostarias de ter assistido ao vivo?
Sem dúvida alguma os anos 70. Mas, felizmente, tenho conseguido gravações daquela época, na íntegra, e dessa forma consigo saber todos os detalhes de corridas que ficaram para sempre na memória dos fãs. Recentemente, por exemplo, assisti ao famoso GP da Áustria de 1976, onde o John Watson venceu pela primeira vez e, por conta de uma aposta com o Roger Penske, teve de tirar a famosa barba. A partir dos anos 80, tenho quase tudo gravado, e de vez em quando assisto alguma para relembrar uma época que, infelizmente, não volta mais.
28 - Já alguma vez viste a briga entre o René Arnoux e o Gilles Villeneuve, no GP de França de 1979? Para ti, aquelas voltas finais significam o quê?
Várias vezes. Aquilo é automobilismo puro, digno de quem leva o esporte às últimas conseqüências em busca de uma ultrapassagem. Essa é mais uma que, felizmente, faz parte da minha coleção.
29 – Jeremy Clarkson, o mítico apresentador do programa de TV britânico “Top Gear”, disse que Gilles Villeneuve foi “o melhor piloto que alguma vez sentou o rabo num carro de Formula 1”. Concordas ou nem por isso?
Não concordo. Ele sempre foi um dos meus pilotos prediletos, mas nem por isso posso classificá-lo como o melhor que já sentou em um carro de Fórmula-1. O máximo que se pode dizer de Gilles Villeneuve é que ele foi um piloto espetacular, pelo show que dava na pista, misturando talento e ousadia, o que nem sempre resultava em bons resultados. Gilles era rápido e ousado, mas ao mesmo tempo inconseqüente, e por isso mesmo é que está morto, o que lamento profundamente, pois sei que ele poderia ter ido ainda mais longe. Não fosse sua teimosia em querer provar a si próprio e a mais ninguém que era mais rápido do que Pironi naquele treino em Zolder, hoje poderia estar curtindo sua velhice tranqüilamente ao lado da Johanne.
30 - Costumas jogar em algum simulador de corridas, como o “Gran Turismo”, o “Formula 1”, ou jogos “online”, como o BATRacer ou o “Grand Prix Legends”?
Jogava muito o antigo Grand Prix 2, mas depois parei. Tentei uma vez o Grand Prix Legends, mas achei extremamente difícil, pois sequer conseguia manter o carro em linha reta, mesmo em Monza.
31 – Eu sei que começaste há algum tempo, mas… que é que tu alcançaste, em termos de prémios, convites, referências, desde que iniciaste o teu percurso na Blogosfera?
O blog ainda é novo e por isso mesmo ainda não teve tempo de receber qualquer tipo de prêmio. De qualquer forma, não dou importância para isso, visto que muitos dos selos criados com essa finalidade não têm nenhuma relevância para quem lê os blogs. O prêmio maior, para mim, seria o reconhecimento dos leitores.
32 – E se fosses o Max Mosley, o que preferias ter na Formula 1? Uma grelha só de montadoras ou de “garagistas”?
Sem dúvida alguma, os garagistas, principalmente agora, em que a meta é reduzirem os custos drasticamente, pois são eles que se envolvem com o automobilismo por puro amor ao esporte, e não por enxergá-lo como ferramenta de marketing. Se antes a Fórmula 1 sobrevivia dessa forma, hoje é perfeitamente possível fazê-lo. Basta um pouco de boa vontade e disposição das equipes em parar com essa mania de querer sempre o máximo dos máximos da alta tecnologia.
33 – Já agora, que impressão é que ficaste do novo Autódromo de Portimão?
Do pouco que li e das imagens que vi, pude perceber que é um belíssimo autódromo. Infelizmente ainda não pude ver imagens em movimento com algum carro na pista para saber como é o desempenho lá.
34 – Vamos falar do futuro próximo: Bruno Senna, Lucas di Grassi, Nelson Piquet Jr. Um já está lá, os outros dois querem lá chegar. Achas que algum dos três tem estofo de campeão? Se sim, qual?
Nenhum deles. O Nelsinho eu descarto completamente, pois já está claro que o casamento entre ele e a Fórmula 1 não deu certo, em parte por culpa do pai, que o acostumou mal nas outras categorias. Já Bruno Senna e Lucas di Grassi, não importa o que eles tenham feito em outras categorias. Se um dia chegarem à Fórmula 1, terão muito o que provar, passando uma borracha em tudo o que fizeram antes disso.
35 - Que impressão é que ficas do novo projecto de Ken Anderson e Peter Windsor, a USF1? Achas que deve ser levado a sério?
A idéia é bem-vinda, mas vejo com desconfiança. Justamente agora, no meio de uma crise econômica mundial, os caras aparecem do nada e dizem que têm quase tudo pronto para estrear na Fórmula-1? E a verba necessária para isso? O Peter, por exemplo, é jornalista. Mesmo um jornalista na Europa ou nos Estados Unidos não deve ganhar tanto assim a ponto de bancar uma estrutura dessas. A não ser que seja de família rica.
36 – Tens algum plano para o blogue, no futuro próximo? Novas secções, meteres-te num podcast ou videocast?
Por enquanto, quero organizar melhor meu tempo para preparar alguns textos com antecedência, sempre buscando resgatar o passado da Fórmula-1. Alguns leitores já me cobraram por mais textos sobre a temporada atual, mas isso, infelizmente, não tenho como garantir. Do contrário, eu me tornaria escravo do blog, tendo de atualizá-lo todos os dias, o que é impossível em função do meu trabalho. Pretendo também iniciar um podcast, mas para isso preciso encontrar alguém realmente muito bom e que queira não só dividir o microfone comigo, mas que fale bem e esteja em sintonia com o que acontece na categoria. Sem isso, seria apenas mais um podcast, coisa que eu não quero fazer. E o mais importante: dividir boa parte do conhecimento que adquiri em meu acervo, espalhado em livros e revistas, muitas delas bem antigas.
Começou a trabalhar no jornalismo há quase dez anos, no Rio de Janeiro, cobrindo eventos como o Formula Petrobrás, corrida com carros da antiga Formula Ford brasileira, a Formula Chevrolet e o Campeonato Carioca de Turismo. Em 2002 decide escrever sobre tecnologias de informação, primeiro como repórter, e depois como editor. A partir de 2005, data em que se muda para São Paulo, é assessor de imprensa para várias empresas de tecnologia, e actualmente, tem o mesmo trabalho, mas para a organização da Formula 3 sul-americana.
1 – Olá, é um prazer ter-te aqui, neste humilde blog, a responder às minhas perguntas. Queres explicar, em poucas linhas, como surgiu a ideia do teu blogue?
Desde quando comecei a usar a Internet, em 1996, sempre tive vontade de ter um espaço onde pudesse expressar meu conhecimento e minhas opiniões sobre a Fórmula-1. Naquela época, os fanzines já estavam saindo de moda e eram complicados para produzir. Então, a Internet veio em boa hora para mim. Já com planos de me tornar jornalista, a vontade de me expressar para o maior número possível de pessoas era natural. Daí, em 1997, pus no ar um site que chegou a fazer algum sucesso, apesar do nome óbvio e horrível: Fórmula-1 Homepage.
O site ficava hospedado no antigo GeoCities e eu fazia ao menos uma ou duas atualizações por semana. E desde aquela época sempre buscava fazer o que é minha principal característica: resgatar o passado da Fórmula-1, mostrando um conteúdo que dificilmente se via na imprensa especializada, pelo menos aqui no Brasil. A Fórmula-1 Homepage durou exatamente três anos. Em 2000, tomei conhecimento dos blogs, e em 2002 criei um genérico, onde escrevia sobre qualquer assunto. Mas só em 2006 lancei um com foco apenas na Fórmula-1, o hoje também extinto F1 Tales, que sofreu com a falta de atualização, por causa do meu trabalho, até que no ano passado resolvi acabar com isso e fazer as coisas de forma mais séria. E foi assim que o Almanaque da Fórmula-1 veio ao mundo.
2 – O nome que ele tem, foi planejado ou saiu, pura e simplesmente, da tua cabeça?
O nome foi planejado, sim, pois refere-se a um outro projeto que tenho em mente, sobre o qual não posso comentar agora. De qualquer forma, eu queria um nome forte, que ficasse guardado na mente das pessoas e me permitisse aparecer quase sempre nas primeiras páginas do Google, o que tem sido até bem fácil e me surpreendeu.
3 – Antes de começares este blog, já tinhas tido alguma participação em outros blogues ou sites?
Como expliquei antes, tive apenas um site e um outro blog sobre Fórmula-1, ambos já extintos. Fora isso, ajudei o João Paulo Cunha, do Forix, a lançar a versão brasileira do portal, na época em que ele só tinha as versões em inglês e em português lusitano. Cheguei a colaborar com alguns textos também, mas faz muito tempo. De qualquer forma, ainda pretendo fazê-lo, pois considero o Forix um dos melhores projetos que existem na web referentes ao automobilismo esportivo e é algo que me dá prazer.
4 – Em que dia é que começaste, e quantas visitas é que já teve até agora?
Foi exatamente à meia-noite do dia 1º de janeiro deste ano. Mas de forma automática, pois nessa hora certamente eu estava no terraço do prédio onde moro, vendo os fogos do Réveillon da Avenida Paulista, em São Paulo. Mesmo a loucura pela Fórmula-1 tem seus limites. :-) Quanto aos acessos, até agora tive 7800 visitas, com média de dois mil por mês, o que considero normal, uma vez que não actualizo o conteúdo todos os dias.
5 – De todos os posts que já escreveste, lembras-te de algum que te orgulhe… ou não?
Sem dúvida alguma, as entrevistas que fiz com o ex-piloto Fritz d'Orey, que surpreendentemente não teve nenhum comentário, e com o Sebastian, filho do saudoso Harald Ertl, um dos bravos pilotos que salvaram o Niki Lauda daquele terrível acidente em Nürburgring. Devo publicar mais uma com um ex-piloto francês bem conhecido pelos brasileiros que acompanharam a temporada de 1989 (não é o Alain Prost). Estou apenas aguardando as respostas que ele se comprometeu a me enviar por e-mail, o que espero que seja em breve.
6 – Em que é que tu, escrevendo sobre Formula 1, consegues ser diferente dos outros blogs?
Pelo conteúdo diferenciado, coisa que todo blog deveria buscar. No meu caso, procuro sempre apresentar histórias curiosas, de pouco conhecimento do público, como aquele episódio em que o Zé do Caixão benzeu a Simtek do Roland Ratzenberger em Interlagos, e que por uma infeliz coincidência foi o mesmo carro com o qual ele sofreu o acidente em Ímola. Destaco também as entrevistas com ex-pilotos e personalidades ligadas à Fórmula-1, que obviamente são mais difíceis de fazer, mas que depois de prontas me dão aquela sensação gostosa de dever cumprido. Minha única frustração é perceber que a maior parte das pessoas que hoje acompanham a Fórmula-1 não dá muita importância ao passado da categoria, visto que os comentários que recebo no blog são bem poucos. Posso estar enganado ao fazer esse julgamento, é claro, mas é a impressão que eu tenho.
7 – Daqueles blogues que conheces sobre automobilismo, qual(is) dele(s) é que tu nunca dispensas uma visita diária?
São vários, cada um por um bom motivo. O teu é um deles, por causa das excelentes homenagens que você faz aos ex-pilotos, sempre aproveitando alguma data marcante, mas também incluo na lista Pandini GP (Luiz Alberto Pandini), A Mil Por Hora (Rodrigo Mattar), Blog do Ico (Luis Fernando Ramos), Quatro Rodinhas (José António), Histórias da Fórmula 1 (cujo autor usa um pseunônimo intrigante: Monocromático), entre outros. Recentemente, comecei a acompanhar também o F1 Around, do Becken Lima, que merece destaque por apresentar algo que anda muito em falta na blogosfera brasileira: opinião, e não uma simples repetição do que sai no noticiário. Por meio dele também conheci o excelente blog do jornalista James Allen. E, claro, não poderia deixar de incluir o Blog do Capelli, cuja identidade eu não revelo aqui nem por decreto. :-)
8 – Falamos agora de Formula 1. Ainda te lembras da primeira corrida que assististe?
Da primeira corrida, não, mas sei que foi em 1978, quando eu tinha seis anos de idade. Lembro que nessa época falava-se tanto em Fittipaldi que eu acabava confundindo o sobrenome do Emerson com o conceito do carro. Bastava eu entrar em uma loja de brinquedos e já pedia à minha mãe para comprar um Fittipaldi para mim. A partir de 1980 é que comecei a acompanhar as corridas com regularidade. Daquela época, minha lembrança mais marcante são as Brabham do Piquet com o enorme patrocínio da Parmalat.
9 – E qual foi aquela que mais te marcou?
Foram várias, mas em uma resposta relâmpago eu posso citar o GP de Portugal de 1985, com a bela vitória do Senna; o GP do Japão de 1988, onde ele conquistou o primeiro título de campeão, os GPs do Brasil de 1991 e 1993, com vitórias do Senna; o GP da Hungria de 1997, quando torci feito louco pelo Damon Hill (mais pela Arrows do que por ele); o GP da Alemanha de 2000, com a primeira vitória do Barrichello; e, finalmente, os GPs de San Marino de 1994 e o GP do Brasil do ano passado, por motivos óbvios. Esta última corrida, inclusive, foi uma das poucas que me fizeram assistir as últimas voltas em pé, em absoluto silêncio, com o coração quase saindo pela boca e os olhos grudados na tela da TV.
10 – Fittipaldi, Piquet e Senna. Qual dos três é aquele que mais agrada, e porquê?
Nelson Piquet, por seu talento inquestionável nas pistas, por sua extrema criatividade para acertar um carro e pela irreverência e total despreocupação com qualquer tipo de protocolo, coisa que infelizmente não vemos mais na Fórmula-1. E ele foi justamente o primeiro piloto de Fórmula-1 que entrevistei. Foi em 1999, durante uma prova da extinta Fórmula Petrobras, em Jacarepaguá.
11 – E achas que algum dia, Felipe Massa vai fazer parte deste trio de campeões?
Potencial para ser campeão ele tem, mas não acredito que seja este ano. Por mais que a torcida brasileira esteja ansiosa por isso, acho que ela vai ter de esperar mais um pouco.
12 – Comparando-o aos três pilotos acima referidos, Massa é mais parecido com quem, e porquê?
Com nenhum dos três. Cada um tem uma característica própria, que em nada se assemelha com as dos outros. Emerson era do tipo que corria com cautela, buscando resultados consistentes para depois colher os frutos no final. Piquet era do tipo que fazia o seu melhor e, quando era possível, partia para o tudo ou nada, como fez na Hungria em 86, naquela belíssima ultrapassagem sobre o Senna. Para ele, o campeonato era uma conseqüência, e não o único objetivo. Já o Senna era um obcecado pela vitória, e não media esforços para isso. E Felipe Massa não é parecido com nenhum deles, mesmo que venha a ser campeão.
13 – Achas que o título de 2008 foi bem entregue?
Com certeza. Apesar de achar que Lewis Hamilton ainda precisa provar muita coisa na Fórmula-1, ele fez por merecer o título do ano passado. E não concordo com quem tenta desvalorizar sua conquista alegando que ele correu em Interlagos sem se preocupar com a vitória. Isso é papo de perdedor que não consegue aceitar a vitória do adversário. Se a situação fosse inversa e o Felipe estivesse no lugar dele, fazendo uma corrida convencional e assim conquistando o título, a maioria estaria aplaudindo de pé, elogiando sua "cautela".
14 – Tirando os brasileiros, qual é para ti o piloto mais marcante da história da Formula 1, e por quê?
É difícil citar um nome com tantos pilotos espalhados em quase seis décadas de história. Vou citar três, ok? Niki Lauda, Ayrton Senna e Michael Schumacher, pois foram nomes que, na minha opinião, melhor representaram a idéia de ter o automobilismo correndo nas veias. Somados, são 13 títulos mundiais, o que não é pouca coisa.
15 – Para além de Formula 1, que outras modalidades de automobilismo que tu mais gostas de ver?
As categorias européias, principalmente a GP2 (incluindo a asiática) e a WTCC. E aqui na América do Sul, a Fórmula-3 Sul-Americana, categoria da qual sou assessor de imprensa no Brasil.
16 – E achas que vale a pena falar sobre ele no teu blogue?
Não. Meu foco sempre foi e sempre será a Fórmula-1. Para escrever sobre outras categorias, eu precisaria ter um dia que durasse 48 horas.
17 – E miniaturas de carrinhos, tens algum?
Tenho poucas, pois aqui no Brasil são muito caras. Fazem parte da minha coleção a McLaren MP4-8 do Ayrton Senna, a Sauber C13 do Karl Wendlinger, a Ferrari F310 do Michael Schumacher, a Jaguar R3 do Eddie Irvine e a Pacific PR01 do Bertrand Gachot. Tenho também uma Ferrari F-50 e o famoso Mach 5 do Speed Racer. Uma que há muito tempo pretendo comprar é a Simtek S941 do Roland Ratzenberger, um dos carros mais bonitos que já passaram pela Fórmula-1, na minha opinião. Meu acervo de miniaturas é bem pequeno, o que acabo compensando na coleção de livros, revistas e DVDs, como você pode ver aí na foto (e isso é apenas uma parte bem pequena dela).
18 – Passando para a actualidade: em Dezembro, a Honda anunciou de repente a sua retirada da Formula 1. Como sentiste isso?
Foi um misto de sentimentos. Primeiro, aquela sensação de choque, pois ali é que deu para perceber realmente que todo mundo estava vulnerável à crise mundial. Mas ao mesmo tempo tive uma sensação de alívio por saber que não veria mais no grid uma equipe sem nenhuma tradição na Fórmula-1, e que só fez apenas papel de figurante. A única preocupação mesmo era a incerteza em relação ao grid deste ano, por não saber se teríamos 18 ou 20 carros disputando as provas. Nem mesmo com o futuro de Rubens Barrichello eu estava preocupado.
19 – Ficaste satisfeito na altura com a solução arranjada pela Honda, de uma Brawn Grand Prix, e pela escolha de Rubens Barrichello em detrimento de Bruno Senna?
Sem dúvida, pois toda equipe nova é sempre bem-vinda. E a escolha de Barrichello em detrimento de Bruno Senna foi mais do que acertada, ao contrário do que pensam as viúvas de Ayrton Senna. Uma equipe precisa, sim, de um nome forte em termos de marketing. Só que apenas o marketing não garante resultados (Giovanna Amati é uma prova disso) e aí é que a experiência de Rubens Barrichello contou e muito para que fosse ele o escolhido. O Ross Brawn sabe muito bem o que está fazendo ali.
20 – Agora temos uma briga entre a FOTA e a FIA, sobre coisas como o sistema de pontuação e os custos controlados na Formula 1. Achas que esta briga será algo parecido com o que aconteceu em 1980, ou poderemos correr o risco de ver uma cisão na Formula 1, como aconteceu nos Estados Unidos?
Ainda é cedo para emitir uma opinião. Depois que a FIA decidiu voltar atrás quanto ao sistema de pontuação, parece que as coisas deram uma acalmada. O que acho que vai acontecer é a desunião entre as equipes. Um indício são os atritos iniciados por Flavio Briatore com Ross Brawn, o que poderá ser muito desgastante no futuro. Mas vamos ver como será ao longo do ano e, principalmente, em 2010, já que o Bernie Ecclestone, que a cada ano fica mais velho e mais bobo, afirmou que o sistema que define o campeão pelo maior número de vitórias passará a valer no ano que vem. Vamos ver.
21 - O que achaste até agora dos novos carros de 2009?
Quando vi as imagens pela primeira vez, achei bem estranhos, mas agora já estou acostumado.
22 – O que pensas sobre a polémica dos difusores? Tem razão ou foram apanhados “com as calças na mão”, como disse Nigel Mansell?
Uma bobagem. Coisa de quem não soube enxergar as brechas no regulamento e tirar proveito delas, o que sempre aconteceu em outras temporadas. Se no dia 14 de abril os difusores forem considerados legais, as outras equipes logo passarão a usá-los também para diminuir a desvantagem em relação aos rivais.
23 - Que ideia é que ficaste dos dois primeiros grandes prémios da época? Os testes de pré-época tinham te dado uma ideia ou nem por isso?
Antes dos primeiros testes da Brawn GP, minha opinião era semelhante a de outras pessoas, tendo McLaren e Ferrari como principais favoritas e alguma outra despontando com possível postulante à disputa do título: Red Bull, BMW-Sauber e Renault. Mas depois de três dias vendo a Brawn GP marcando o melhor tempo, comecei a pensar seriamente que este ano veria uma situação com a qual não estaríamos acostumados, o que, sem dúvida, é excelente para o campeonato. E quer saber? Estou adorando ver a Ferrari sem pontos na tabela de classificação de Lewis Hamilton com apenas um ponto.
Quanto às corridas, gostei do que vi até agora, embora tenha lamentado o que aconteceu na Malásia, por culpa da teimosia de Bernie Ecclestone em mudar o horário para atender os interesses do público europeu, sem dar a mínima para a opinião dos pilotos. Foram boas disputas, tanto em Melbourne como em Sepang, que estão dando um tempero muito bom à categoria. Espero que continue assim por um bom tempo.
24 - Com isto tudo, quem é o teu favorito ao título mundial?
Ainda é cedo para afirmar, mas aposto minhas fichas em Robert Kubica, Felipe Massa e Sebastian Vettel. Veremos no final do ano se acertei algum.
25 - “Correr é importante para as pessoas que o fazem bem, porque… é vida. Tudo que fazes antes ou depois, é somente uma longa espera.” Esta frase é dita pelo actor americano Steve McQueen, no filme “Le Mans”. Concordas com o seu significado? Sentes isso na tua pele, quando vês uma corrida, como espectador?
Não concordo, pois todo piloto, independentemente de ele ter talento ou não, corre porque considera o automobilismo importante para sua vida. Não é apenas para quem "o faz bem". É sua maior paixão, algo que, salvo raras exceções, carregam consigo desde a infância. Muitos não suportam viver longe do automobilismo, como o Willy Mairesse, que não agüentou e tirou a própria vida quando se viu obrigado a abandonar a carreira depois de um grave acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1968.
26 – Já agora, tens alguma experiência automobilística, como karting? Se sim, ficaste a compreender melhor a razão pelo qual eles pegam num carro e andam às voltas num circuito?
Sim, de kart indoor. Apesar da evidente diferença de velocidade em relação a um kart de competição, a sensação é indescritível. Só mesmo experimentando para saber como é. Minha primeira vez foi em 1997, onde fui um completo desastre, chegando em último. Foi aí que me apelidaram de Huub Rothengatter do kart. Um ano depois, participei de um torneio amador e ainda assim cheguei a cometer algumas loucuras dignas de Andrea de Cesaris. Depois parei, voltando em 2003, quando passei a andar direitinho e comecei a vencer, a marcar a pole... Hoje, é algo que não pratico sempre apenas por pura preguiça.
27 - Tens algum período da história da Formula 1 que gostarias de ter assistido ao vivo?
Sem dúvida alguma os anos 70. Mas, felizmente, tenho conseguido gravações daquela época, na íntegra, e dessa forma consigo saber todos os detalhes de corridas que ficaram para sempre na memória dos fãs. Recentemente, por exemplo, assisti ao famoso GP da Áustria de 1976, onde o John Watson venceu pela primeira vez e, por conta de uma aposta com o Roger Penske, teve de tirar a famosa barba. A partir dos anos 80, tenho quase tudo gravado, e de vez em quando assisto alguma para relembrar uma época que, infelizmente, não volta mais.
28 - Já alguma vez viste a briga entre o René Arnoux e o Gilles Villeneuve, no GP de França de 1979? Para ti, aquelas voltas finais significam o quê?
Várias vezes. Aquilo é automobilismo puro, digno de quem leva o esporte às últimas conseqüências em busca de uma ultrapassagem. Essa é mais uma que, felizmente, faz parte da minha coleção.
29 – Jeremy Clarkson, o mítico apresentador do programa de TV britânico “Top Gear”, disse que Gilles Villeneuve foi “o melhor piloto que alguma vez sentou o rabo num carro de Formula 1”. Concordas ou nem por isso?
Não concordo. Ele sempre foi um dos meus pilotos prediletos, mas nem por isso posso classificá-lo como o melhor que já sentou em um carro de Fórmula-1. O máximo que se pode dizer de Gilles Villeneuve é que ele foi um piloto espetacular, pelo show que dava na pista, misturando talento e ousadia, o que nem sempre resultava em bons resultados. Gilles era rápido e ousado, mas ao mesmo tempo inconseqüente, e por isso mesmo é que está morto, o que lamento profundamente, pois sei que ele poderia ter ido ainda mais longe. Não fosse sua teimosia em querer provar a si próprio e a mais ninguém que era mais rápido do que Pironi naquele treino em Zolder, hoje poderia estar curtindo sua velhice tranqüilamente ao lado da Johanne.
30 - Costumas jogar em algum simulador de corridas, como o “Gran Turismo”, o “Formula 1”, ou jogos “online”, como o BATRacer ou o “Grand Prix Legends”?
Jogava muito o antigo Grand Prix 2, mas depois parei. Tentei uma vez o Grand Prix Legends, mas achei extremamente difícil, pois sequer conseguia manter o carro em linha reta, mesmo em Monza.
31 – Eu sei que começaste há algum tempo, mas… que é que tu alcançaste, em termos de prémios, convites, referências, desde que iniciaste o teu percurso na Blogosfera?
O blog ainda é novo e por isso mesmo ainda não teve tempo de receber qualquer tipo de prêmio. De qualquer forma, não dou importância para isso, visto que muitos dos selos criados com essa finalidade não têm nenhuma relevância para quem lê os blogs. O prêmio maior, para mim, seria o reconhecimento dos leitores.
32 – E se fosses o Max Mosley, o que preferias ter na Formula 1? Uma grelha só de montadoras ou de “garagistas”?
Sem dúvida alguma, os garagistas, principalmente agora, em que a meta é reduzirem os custos drasticamente, pois são eles que se envolvem com o automobilismo por puro amor ao esporte, e não por enxergá-lo como ferramenta de marketing. Se antes a Fórmula 1 sobrevivia dessa forma, hoje é perfeitamente possível fazê-lo. Basta um pouco de boa vontade e disposição das equipes em parar com essa mania de querer sempre o máximo dos máximos da alta tecnologia.
33 – Já agora, que impressão é que ficaste do novo Autódromo de Portimão?
Do pouco que li e das imagens que vi, pude perceber que é um belíssimo autódromo. Infelizmente ainda não pude ver imagens em movimento com algum carro na pista para saber como é o desempenho lá.
34 – Vamos falar do futuro próximo: Bruno Senna, Lucas di Grassi, Nelson Piquet Jr. Um já está lá, os outros dois querem lá chegar. Achas que algum dos três tem estofo de campeão? Se sim, qual?
Nenhum deles. O Nelsinho eu descarto completamente, pois já está claro que o casamento entre ele e a Fórmula 1 não deu certo, em parte por culpa do pai, que o acostumou mal nas outras categorias. Já Bruno Senna e Lucas di Grassi, não importa o que eles tenham feito em outras categorias. Se um dia chegarem à Fórmula 1, terão muito o que provar, passando uma borracha em tudo o que fizeram antes disso.
35 - Que impressão é que ficas do novo projecto de Ken Anderson e Peter Windsor, a USF1? Achas que deve ser levado a sério?
A idéia é bem-vinda, mas vejo com desconfiança. Justamente agora, no meio de uma crise econômica mundial, os caras aparecem do nada e dizem que têm quase tudo pronto para estrear na Fórmula-1? E a verba necessária para isso? O Peter, por exemplo, é jornalista. Mesmo um jornalista na Europa ou nos Estados Unidos não deve ganhar tanto assim a ponto de bancar uma estrutura dessas. A não ser que seja de família rica.
36 – Tens algum plano para o blogue, no futuro próximo? Novas secções, meteres-te num podcast ou videocast?
Por enquanto, quero organizar melhor meu tempo para preparar alguns textos com antecedência, sempre buscando resgatar o passado da Fórmula-1. Alguns leitores já me cobraram por mais textos sobre a temporada atual, mas isso, infelizmente, não tenho como garantir. Do contrário, eu me tornaria escravo do blog, tendo de atualizá-lo todos os dias, o que é impossível em função do meu trabalho. Pretendo também iniciar um podcast, mas para isso preciso encontrar alguém realmente muito bom e que queira não só dividir o microfone comigo, mas que fale bem e esteja em sintonia com o que acontece na categoria. Sem isso, seria apenas mais um podcast, coisa que eu não quero fazer. E o mais importante: dividir boa parte do conhecimento que adquiri em meu acervo, espalhado em livros e revistas, muitas delas bem antigas.
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