Quinze dias depois de Imola, a Formula 1 continuava em estado de choque. Tal como acontecera em 1982, num paralelismo impressionante, o vencedor do ano anterior tinha morrido na corrida anterior a das ruas do Principado, e o sentimento presente era o de vazio. Todos tentavam fazer o seu luto, mas a vida continuava, e a competição estava presente. Só que o “glamour” estava afastado das cabeças de toda a gente naquele ano.
A Williams só alinhava com um carro, tal como tinha feito a Ferrari em 1982. A mesma coisa fazia a Simtek, que colocaria até ao final do ano, na zona superior do chassis, uma pintura estilizada do capacete de Roland Ratzenberger, e a frase “FOR ROLAND”. O legado do sacrificado piloto austríaco continuava até ao final do ano…
Mónaco tinha uma novidade: Jean Alesi regressava ao volante do seu Ferrari, depois de duas corridas de ausência. Decerto que o seu regresso seria bem-vindo, mas o ambiente não era de festa em nenhum lado… outro que voltava para o volante de um carro era Rubens Barrichello, agora com um peso enorme nos ombros: milhões de olhos apontados a ele no Brasil, pedindo para que seja como Ayrton Senna. Mas o seu compatriota era doze anos mais velho do que ele, e a barreira estava muito alta…
A Williams só alinhava com um carro, tal como tinha feito a Ferrari em 1982. A mesma coisa fazia a Simtek, que colocaria até ao final do ano, na zona superior do chassis, uma pintura estilizada do capacete de Roland Ratzenberger, e a frase “FOR ROLAND”. O legado do sacrificado piloto austríaco continuava até ao final do ano…
Mónaco tinha uma novidade: Jean Alesi regressava ao volante do seu Ferrari, depois de duas corridas de ausência. Decerto que o seu regresso seria bem-vindo, mas o ambiente não era de festa em nenhum lado… outro que voltava para o volante de um carro era Rubens Barrichello, agora com um peso enorme nos ombros: milhões de olhos apontados a ele no Brasil, pedindo para que seja como Ayrton Senna. Mas o seu compatriota era doze anos mais velho do que ele, e a barreira estava muito alta…
Como habitualmente, os treinos livres eram à quinta-feira, e não à sexta, como acontecia em outros lados. Se todos queriam esquecer os eventos de há 15 dias atrás, não conseguiram: a meio da manhã, no minuto em que terminava o treino, este é interrompido quando Karl Wendlinger, no seu Sauber-Mercedes, despista-se à saída do túnel e embate violentamente a mais de 225 km/hora na zona da chicane do Porto. O impacto foi no lado direito do carro, na zona da cabeça, e causou contusões graves na cabeça que o levaram a entrar em coma. Temeu-se o pior, e correu o rumor que, caso Wendlinger morresse, o Príncipe Ranier iria de imediato cancelar o Grande Prémio, o que seria inédito. Até que os médicos do Hospital de Nice, lugar onde o piloto austríaco foi levado, diagnosticassem devidamente o impacto dos ferimentos, o ambiente, já de si pesado, ficou negro. A Sauber, em consequência, decidiu retirar os seus carros da corrida monegasca.
A sexta-feira foi agitada: os pilotos decidiram reavivar a GPDA, mais ou menos adormecida desde 1982, quase que cumprindo um dos últimos desejos de Senna (ele falava da hipótese de a reavivar no fim de semana fatal), e nesse mesmo dia, Max Mosley e a FIA decidiram implementar uma série de medidas de choque, que muitos entenderam ser mais um conjunto de regras feitas à pressa devido ao pânico instalado do que propriamente medidas com algum senso…
Mas no meio dessas medidas, houve uma que foi implementada, e que foi aplaudida por todos: o limite de velocidade nas boxes. No Mónaco, esse limite estava nos 50 km/hora, muito baixo para um Formula 1. E o primeiro a cruzar esse risco (e levou uma multa de 5 mil dólares) foi o Lótus-Mugen Honda de Pedro Lamy.
Nos treinos, por fim, Michael Schumacher fazia a sua primeira pole-position do ano e da sua carreira, tendo a seu lado o finlandês Mika Hakkinen, no seu McLaren-Peugeot. Na segunda fila da grelha de partida estava o Ferrari de Gerhard Berger, tendo a seu lado o único Williams-Renault, de Damon Hill. Na terceira fila ficavam o segundo Ferrari de Jean Alesi e o Footwork-Arrows de Christian Fittipaldi, no seu melhor registo do ano. Em sétimo e oitavo ficavam Gianni Morbidelli, no segundo Arrows, e Martin Brundle, no segundo McLaren. E a fechar os dez primeiros ficavam o Minardi-Ford de Pierluigi Martini e o Tyrrell-Yamaha de Mark Blundell. Sem quatro carros em pista, apenas 24 estavam presentes na grelha monegasca, o que fazia com que os Pacific de Bertrand Gachot e Paul Belmondo se qualificassem pela primeira vez no ano.
No dia da largada, poucos minutos antes dos pilotos rumarem aos seus carros para se prepararem para a competição, todos eles rumaram para a primeira fila da grelha, propositadamente vazia, com uma bandeira brasileira no primeiro lugar e uma austríaca no segundo. Em silêncio, todos eles ficaram em recolhimento, com os pilotos brasileiros a segurar uma bandeira nacional, com a cara de Senna, caído quinze dias antes.
Poucos minutos depois, era dada a partida, e logo na Curva Ste. Devote, a concorrência a Michael Schumacher acabava ali a sua corrida: Damon Hill, agora o seu maior rival para o resto da época, despista-se devido a ter travado tarde demais, e bateu em Mika Hakkinen. Hill continuou, mas não foi muito mais longe, pois estacionou o carro na descida do Mirabeau, algumas centenas de metros depois. Um pouco atrás, Morbidelli e Martini tocam um com o outro e também ficam pela primeira volta.
O resto da corrida foi uma cavalgada solitária de Schumacher. Berger era segundo no seu Ferrari, seguido por Jean Alesi e Christian Fittipaldi, no seu Footwork-Arrows. Brundle era quinto, depois de uma paragem mais cedo do que os seus rivais, o que lhe deu a terceira posição, quando Alesi e Fittipaldi pararam.
A meio da corrida, o Tyrrell de Mark Blundell parte a caixa de velocidades e deixa um rastro de óleo na pista. Berger despista-se e perde a segunda posição a favor de Brundle. Schumacher quase se despista, mas consegue controlar o carro e continuou sem que nada tivesse acontecido.
E até à bandeira de xadrez, não houve grandes novidades. Fittipaldi desistiu na volta 47, quando a sua caixa de velocidades cedeu, dando o lugar a um surpreendente Andrea de Cesaris, que finalmente usava a sua veterania para fazer uma corrida sem problemas. O seu quarto lugar final foi uma bela recompensa pelos serviços prestados, uma vez mais, ao seu amigo Eddie Jordan. Nos restantes lugares pontuáveis ficaram o Ferrari de Jean Alesi e o Minardi de Michele Alboreto. Para o veterano italiano, seria a última vez que pontuaria na sua carreira.
Em 11º e último lugar, a cinco voltas do vencedor, ficava Pedro Lamy. O seu problemático Lótus 107C era uma pálida sombra dos garbosos modelos de outrora, e não havia grandes sinais de melhoria, ainda por cima numa altura em que a equipa vivia os seus últimos dias. Mas mal ele sabia que a próxima vez que iria correr num Grande Prémio seria dali a 15 meses, em Agosto de 1995…
Fontes:
Santos, Francisco – Formula 1 1994/95, Ed. Talento, Lisboa/São Paulo, 1994
http://en.wikipedia.org/wiki/1994_Monaco_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr552.html
Foi uma pancadaça essa do Karl Wendlinger hein?
ResponderEliminarInfelizmente o paralelismo com 82 não é completo. Doze anos antes, a corrida foi muito menos previsível.
ResponderEliminarMe lembro perfeitamente desta prova. Foi muito estranho ver a Fórmula 1 sem Ayrton Senna. O clima estava super pesado, ainda mais por causa do acidente do Wendlinger.
ResponderEliminarNão me recordo da corrida em Mônaco em '94. Depois que Ayrton morreu eu dei um "time" nas corridas, voltando a acompanha-las a partir de 1995. Realmente, com os relatos dos colegas blogueiros, percebo a nuvem negra que pairava sobre a F1 naqueles idos tempos. Muito legal seu post!
ResponderEliminarAh, que "sarrilo" seria, se Karl viesse a morrer heim?