quinta-feira, 18 de junho de 2009

5ª Coluna: Alegrias e tristezas do automobilismo

Bom dia a todos. A semana que passou foi fértil em eventos, e indo para além do contínuo diferendo entre FIA e FOTA, houve também eventos históricos, com a vitória da Peugeot nas 24 horas de Le Mans, onde finalmente o modelo 908 estreou-se na lista de vencedores da clássica da Endurance, 16 anos depois da sua última vitória. Mas também foi um fim-de-semana onde no outro lado do Atlântico, a sombra da morte pairou numa competição automobilística.


Le Mans: Por fim, a vitória da Peugeot!


O fim-de-semana passado foi o mais sagrado da Endurance. Perante 250 mil pessoas, Peugeot, Audi, Aston Martin e Pescarolo, entre outras equipas, disputaram a vitória na corrida mais longa e mais demolidora do mundo: as 24 Horas de Le Mans, que este ano vai na sua 77ª edição. Sabia-se que iria ser mais uma batalha entre Áudi e a Peugeot, com a entrada este ano dos Aston Martin, pintados com as cores da Gulf, que 40 anos antes, graças aos Porsche 917 inscritos pela equipa de John Wyler, tinham captado a imaginação de toda uma geração.


Apesar da corrida ter começado nos bastidores, com um protesto da Peugeot devido à frente do Audi R15, (que tiveram de a modificar) isso cedo foi esquecido quando começou a corrida, e viu-se que as novas máquinas de Inglostadt não estavam prontas para segurar as máquinas de Sochaux, agora com a experiência de três temporadas em competição. Se não fosse o azar do Pedro Lamy logo na primeira hora, quando lhe bateram na saída das boxes com o… 908 da Pescarolo, eventualmente o piloto português teria voltado a subir ao pódio, como em 2007. Mas como forma de consolo, terminou a corrida na sexta posição da geral e o melhor dos portugueses presentes. Tiago Monteiro, que corria ao lado de Bruno Senna no seu ORECA, não terminou a corrida, e João Barbosa levou o outro Pescarolo ao oitavo lugar final.


Na corrida propriamente dita, os Audi cedo demonstraram que não iam dominar a corrida como nos anos anteriores. Desde mudar por várias vezes a sua frente “revolucionária” até aos despistes do carro numero 2, conduzido na altura por Lucas Luhr, e o atraso do carro numero 3, somente o carro numero 1, de Tom Kristiensen, Alan McNish e Rinaldo Capello é que chegou ao fim num lugar relevante, o terceiro. E assim, 17 anos depois, a Peugeot vencia de novo, estreando o modelo 908 na galeria dos vencedores, mas… com o carro errado!


A ideia deles era que o carro numero 8, de Frank Montagny, Stéphane Sarrazin e Sebastien Bourdais, fosse o vencedor, para ter uma vitória totalmente “bleu” (carro, motor, pneus e pilotos franceses), mas o vencedor acabou por ser os pilotos do… terceiro carro, conduzido por Alexander Wurz, David Brabham e Marc Gene. Para piorar um pouco as coisas, o director da marca, Olivier Quesnel, pediu aos franceses para abrandar o ritmo e não entrar em lutas inúteis, pois os pilotos do carro numero 9 estavam no comando desde a nona hora, e não queriam largar o osso por nada deste mundo. E em nome da equipa, dos carros que a Peugeot tinha de vender na segunda-feira e do facto que eles queriam ganhar esta prova por tudo neste mundo, lá tiveram de contar os ânimos. E os franceses subiram ao pódio com cara de poucos amigos…


Para finalizar, os Aston Martin portaram-se bem, para primeira vez. O melhor foi o carro 007, de Jan Charouz, Thomas Enge e Stephan Mücke, que terminou na quarta posição


No meu caso em particular, como não fui ver a corrida “in loco”, a melhor maneira foi assistir na TV os eventos. Sorte de quem tem TV Cabo, assisti à corrida na Eurosport, especialmente a parte da madrugada. Assistir a uma tertúlia televisiva, com a passagem de convidados como o Domingos Piedade, a contar as suas historietas dos tempos da Joest (como director desportivo, venceu duas edições nos anos 80), ou então o Hugo Ribeiro, que juntamente com o seu irmão Vítor, mantêm o site Le Mans Portugal (http://www.lemansportugal.com/). Provavelmente por ser um evento diferente, a cobertura tinha de ser diferente. Mas foi muito mais divertido do que o normal…


FOTA vs FIA: Agora sim, a corda está esticada!


Voltar a este assunto é cada vez mais uma chatice, no sentido em que nenhum dos lados cede, e a especulação sobre o futuro da categoria é tão delirante como a pior da “silly season”. Depois do anúncio das equipas para 2010, esta sexta-feira, que nada resolveu, esta semana houve mais uma reunião para tentar resolver as diferenças, sem resultados. A cada vez que oiço as partes, dá-me a sensação que tudo isto é inútil. A cada vez que oiço Max Mosley a dizer “aceito as vossas propostas, mas primeiro inscrevam-se incondicionalmente”, fico cada vez mais convencido de que o patrão da FIA, esse velho jarreta, quer é fazer a Formula 1 à sua maneira, destruindo a FOTA e submetendo-as ao seu “diktat”.


Se até agora a FOTA está unida, apesar de todos os truques e tentativas de Mosley para a quebrar (o caso das inscrições incondicionais da Ferrari, Red Bull e Toro Rosso foi o último exemplo, que foi violentamente contestado pela FOTA), então temos todas as razões para acreditar que a cisão é cada vez mais inevitável. Agora temos um novo prazo: 19 de Junho, ou seja… amanhã. O que acontecerá, após a passagem desse prazo? As duas partes estão irredutíveis, teremos algum boicote ao GP de Inglaterra? Não creio. Mas se calhar, a cisão será cada vez mais uma inevitabilidade.


Já agora, uma nota final em relação às equipas inscritas. Uma das três aceites é uma tal de Manor. Essa equipa tem como colaborador Nick Wirth, o homem por detrás da Simtek, 15 anos atrás. Wirth é um estreito colaborador de Max Mosley. E como ainda não sabemos bem quem são os elementos por detrás dessa empresa, não ficaria espantado se o Tio Max seja parte interessada. E não sou eu só a levantar a questão: o Becken Lima, do F1 Around (http://www.f1around.wordpress.com/) tinha levantado essa questão logo na passada sexta-feira…


WRC: Uau! Sebastien Löeb desistiu.


Os ralies de terra são normalmente desgastantes para pneus e suspensões. Mas o Rali da Acrópole, em paragens gregas, costuma ser ainda mais desgastante do que o normal. E após termos visto as seis vitórias consecutivas de Sebastien Löeb nesta época e ficarmos convencidos que isto iria ser um “passeio no parque” por parte do francês da Citroen, em duas provas, vimos a sorte a mudar de um lado para o outro, com a Ford a vencer as duas últimas provas. Jari-Matti Latvala foi o vencedor na Sardenha, e agora foi Mikko Hirvonen.


E os desgastantes troços gregos fizeram as suas vítimas, como é de costume. Mas não se esperava que Sebastien Löeb fizesse uma curva demasiado cedo e capotasse espectacularmente o seu Citroen C4, tornando-o impossível de reparar. Para o francês, era a sua primeira desistência desde o Rali da Suécia do ano passado. Outros também não acabaram o rali, como o seu companheiro Daniel Sordo, ou os irmãos Solberg, Petter e Henning. Com isso, quem aproveitou bem foi o francês Sebastien Ogier, que levou o seu carro à segunda posição da geral, e ver nos restantes lugares pontuáveis gente como o argentino Frederico Villagra, quarto classificado, ou o zimbabueano Conrad Rautenbach, o quinto, é algo anormal. Mas os que terminam são autênticos sobreviventes…


Assim, o “passeio no parque” tornou-se um pouco mais complicado, pois agora tem Mikko Hirvonen a sete pontos do piloto francês. O possível sexto título mundial tornou-se num osso um pouco mais duro de roer.


Uma palavra final para Armindo Araújo. O piloto português que corre na categoria de Produção, lutou pela vitória contra o qatari Nasser Al-Attiyah e o local Lambros Athanassoulas, mas terminou a corrida na terceira posição final, perdendo o comando para Al-Attiyah. Contudo, Armindo está a somente quatro pontos da liderança, logo, todas as hipóteses de conquistar o título estão presentes. O chato é que agora só competirá em Novembro, altura em que acontecerá o Rali de Gales.


Um requiem para Carlos Pardo (1975-2009)

Deixei para o fim a nota triste deste fim-de-semana. No passado Domingo, durante uma prova na NASCAR mexicana, na oval de Puebla, que costuma ser palco de uma ronda do WTCC, o piloto Carlos Pardo morreu quando liderava a corrida, na última volta da competição. Pardo levou um toque de traseira por parte de Jorge Goeters, que o fez perder o controlo do seu carro e o faz bater no muro de protecção, que tinha um reforço com barreiras cheias de água. Apesar da rapidez dos socorros, Pardo foi declarado morto 45 minutos depois do acidente. Tinha 33 anos e fora campeão da categoria em 2004.


Uma morte em competição é sempre triste. É mais chocante quando o assistimos em directo, numa era destas, onde a segurança é sempre importante. E ainda por cima, neste caso em particular, Pardo tinha a mulher e os filhos a assistir à corrida, e o seu irmão, Ruben Pardo, também participava como concorrente.


Quem leu o meu post de segunda-feira sobre o assunto (http://continental-circus.blogspot.com/2009/06/requiem-para-carlos-pardo-1975-2009.html), notou o meu desgosto pela NASCAR e o facto de nunca ter gostado do aspecto do circuito/oval de Puebla, cujo asfalto considero como horrível, para não falar no tipo de desenho. Confesso que nunca percebi a razão pelo qual a FIA aprovou aquele circuito para corridas. Nelson Piquet disse certo dia que vamos aos circuitos “para ver o circo pegar fogo”. Acredito, mas nunca passa pela nossa cabeça ver corridas com o propósito de assistir a mortes em directo…

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