domingo, 19 de julho de 2009

GP Memória - Grã-Bretanha 1969

Duas semanas depois de Charade, a Formula 1 iria correr em Inglaterra. Este ano, como estava previsto, o circuito de Silverstone acolhia o Grande Prémio, tipico dos anos impares, já que nos anos pares, o palco era Brands Hatch. Numa época dominada por Jackie Stewart e o seu Matra-Cosworth, a grande moda naquele ano eram os carros de quatro rodas motrizes. Estavam inscritos quatro carros com este sistema: dois Lotus 63, inscritos para Graham Hill e John Miles, um Matra MS84 para Jean-Pierre Beltoise e um McLaren M9A para o inglês Derek Bell, piloto que normalmente corria em provas de Endurance.


Em Silverstone, a BRM regressava à lista de inscritos, depois de se ter ausentado da corrida francesa. Tentando resolver problemas internos, a equipa decidiu recorrer aos serviços de Tim Parnell para ser o seu "manager". Ele aceitou, e decidiu reduzir a equipa a dois carros, com John Surtees e Jackie Oliver ao volante. Pedro Rodriguez, o piloto que Parnell tinha na sua equipa, rumou para a Ferrari, correndo ao lado de Chris Amon.


Na Brabham, Jack Brabham ainda recuperava da lesão no tornozelo, e pediu a Dan Gurney que corresse em Silverstone. Mas o piloto americano estava ocupado com a sua carreira na USAC, ao serviço da Eagle, que simplesmente não podia ajudar o seu amigo. Assim sendo, somente um carro esteve presente, o de Jackie Ickx. Um outro Brabham, mas privado, estava presente. Era o de Piers Courage, inscrito pela equipa de Frank Williams.


A Lotus tinha três modelos 49 inscritos: um oficial, para Jochen Rindt, e dois privados, um para Jo Siffert, pela Rob Walker Racing, e outro para o veterano sueco Jo Bonnier, inscrito pela sua própria equipa. Havia também o McLaren privado de Vic Elford, e os dois oficiais, de Bruce McLaren e Dennis Hulme.


Todos estes pilotos tinham os olhos postos numa só pessoa: Jackie Stewart. O escocês parecia imparável rumo a aquele que poderia ser o seu primeiro título mundial, depois de ter ganho quatro das cinco corridas disputadas até então, e os 36 pontos conquistados davam-lhe uma enorme distância frente ao segundo classificado, Graham Hill, que tinha apenas... 16. Numa temporada com dez provas, vinte pontos pareciam ser uma distancia inalcançavel.


Nos treinos, todos pensavam que ia ser Stewart a dominá-los. Mas a grande surpresa veio da lotus, onde o austriaco Jochen Rindt conquistou a sua primeira pole-position da sua carreira no Lotus 49, bantendo Stewart e o McLaren de Dennis Hulme. Na segunda fila ficaram o Brabham de Jacky Ickx, seguido pelo primeiro Ferrari de Chris Amon. Depois vinham o BRM de John Surtees, Bruce McLaren, no seu próprio carro e o segundo Ferrari de Pedro Rodriguez. A fechar o "top ten" ficaram o Lotus privado de Jo Siffert e o Brabham privado de Piers Courage.


Os carros de quatro rodas motrizes tiveram dificuldades na pista britânica. O melhor tinha sido Graham Hill, mas este ficara na 12ª posição na grelha, e queria voltar a correr no modelo 49. Só que a equipa oficial não tinha nenhum, e acabaram por negociar uma troca com Jo Bonnier, que tinha corrido com um 49. O sueco pilotou o modelo 63, para que Hill pudesse fazer a sua corrida com o modelo antigo. Algo que hoje em dia seria impensável...


No dia da corrida, Sábado, 19 de Julho de 1969, com todo o mundo ocidental de olhos postos na missão Apollo 11, que se preparava para pousar na Lua, algumas dezenas de milhares de espectadores preparavam-se para ver o Grande Prémio de Inglaterra. Na partida, Stewart levou a melhor, mas Rindt não ficou atrás, passando-o na curva seguinte. E assim começava uma batalha épica entre o escocês e o austriaco pela liderança da corrida.


Nas primeiras seis voltas, o austriaco ficou na frente, com Stewart sempre atrás. Depois, o escocês ensaiou uma manobra de ultrapassagem, que foi bem sucedida, mas Rindt não desistiu. Tentou recuperar a liderança, e conseguiu alcançar esses intentos na volta 14. Nesta altura, ambos já estavam muito distantes do resto do pelotão, e duas voltas depois estavam a dobrar o Matra MS84 de Jean-Pierre Beltoise. O carro de quatro rodas motrizes era um dos dois que resistiam nessa altura, pois até ali, Derek Bell tinha abandonado na volta 5 com a suspensão quebrada, e Jo Bonnier só resistira mais um volta, desistindo com o motor quebrado. Quanto a Miles, seguia atrás de Beltoise.

Continuando a corrida, Stewart e Rindt batalhavam sem parar pela liderança. A diferença nunca foi superior a três segundos, e todos viam que o austriaco era definitivamente um corredor rápido e provavelmente o maior rival que Stewart iria ter na sua caminhada triunfal na temporada vitorioso que estava a ter. Apesar desta rivalidade, ambos eram amigos pessoaos, e quando Stewart reparou que uma das paredes laterais da nova asa do Lotus 49 estava a bloguear o pneu, não hesitou em acelerar e colocar-se de lado para assinalar o problema a Rindt. O austriaco percebeu e foi às boxes para resolver o problema. Quando regressou, estava vinte segundos atrás do escocês da Matra.


Confortável na frente, Stewart teve pouco tempo para gozar. Pouco depois, o motor Cosworth do escocês começa a falhar, devido a um problema na bomba de combustivel, e vê aproximar-se rapidamente o Lotus do austriaco. Parecia que Rindt iria finalmente alcançar a sua primeira vitória na Formula 1, mas quando faltavam seis voltas para o final, e com Rindt em cima de Stewart... o motor do Lotus também começa a falhar. O austriaco tinha forçado o andamento, fazendo com que consumisse mais combustivel e agora não tinha gasolina para chegar ao fim. O austriaco parou para meter um extra e regressou à corrida na quarta posição.


No final, Stewart conseguiu levar o carro até ao fim e venceu a corrida, seguido pelo Brabham de Jacky Ickx e pelo carro de Bruce McLaren. Rindt terminou em quarto, Piers Courage foi o quinto e Vic Elford, num McLaren privado, fechou os pontos, a duas voltas do vencedor. A fechar a classificação, na nona e décima posições, ficaram o Matra MS84 de Jean-Pierre Beltoise e o Lotus 63 de John Miles. Os carros de quatro rodas motrizes tinham chegado ao fim com seis e nove voltas de atraso, respectivamente, de Stewart. Isso demonstrava que o conceito de quatro rodas motrizes não funcionava devido ao peso a mais que levavam, com o mecanismo instalado, e que a ideia de ganhar maior comportamento em curva, especialmente em situações de piso molhado, poderia ser alcançado de forma mais económica com uma melhoria na aerodinâmica e nos pneus.


Fontes:


Rendall, Ivan - Bandeira da Vitória, Uma História do Automobilismo, Ed. Autosport, Lisboa, 1995.

http://en.wikipedia.org/wiki/1969_British_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr179.html

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