quarta-feira, 22 de julho de 2009

Walter Cronkite e o jornalismo do século XX (2ª parte)



(Continuação do capitulo anterior)


"Cheguei ao topo da montanha!"


Poucos dias se passaram, e a América ainda digeria a ofensiva do Tet, no Vietnam, quando a 4 de Abril, recebe outro choque: Martin Luther king, o homem que liderava o Movimento pelos Direitos Civis, tinha sido morto a tiro num hotel na cidade de Memphis, no Tenessee. O atentado ocorrera à tarde, e já tinha sido feito uma emissão especial dirigida por um jovem Dan Rather (que sucedeu 15 anos depois a Cronkite na CBS Evening News) logo, houve mais do que tempo para fazer directos da cidade, e recolher elementos sobre as ondas de choque que estavam a acontecer na América nesse dia, cujas tensões raciais latejavam, ainda por cima, em ano de eleições presidenciais, onde a América, envolvida até à medula pelo atoleiro que era a Guerra do Vietnam, também combatia nas ruas contra este envolvimento numa guerra injusta (recorde-se, em 1968, o recrutamento era obrigatório nos Estados Unidos).


No final daquele dia, Walter Cronkite, no seu CBS Evening News, resumia os acontecimentos desse dia. De maneira sóbria, mas decidida, e sobre o impacto que aquilo iria ter na sociedade americana. Entre as peças que se encontram neste vídeo, está uma declaração do então presidente Lyndon Baines Johnson, e uma parte do seu famoso ultimo discurso, onde afirmou que "tinha chegado ao topo da montanha". Palavras proféticas... Naquele ano tempestuoso de 1968, este era mais um episódio turbulento. Outros iriam surgir, infelizmente...




“E agora, rumo, a Chicago!”


O ano de 1968 já tinha chegado a meio, e o mundo andava em sobressalto. O Vietname era um atoleiro, Martin Luther King fora assassinado mês e meio antes, e a campanha presidencial desse ano estava ao rubro, não tanto como o que se passa hoje. A campanha, apesar de ter todos os moldes que tem hoje, o momento decisivo não era em Março, mas sim em Junho, com as Primárias na California. E como depois da renuncia de Lyndon Johnson, era uma corrida aberta entre democratas, enquanto que no campo republicano, depois do fracasso que foi o extremista Barry Goldwalter, escolhiam um candidato mais consensual, o ex-vice presidente Richard Nixon, que fora derrotado por John F. Kennedy oito anos antes.



No caso democrata, três nomes sobressaíam: o vice-presidente de Johnson, Eugene McCarthy, o senador do Minessota, Humbert Humpfrey e o Senador por Nova Iorque Robert Fitzgerald Kennedy (RFK). Fizera campanha prometendo que assim que fosse persidente, iria trazer os soldados para casa. Anti-guerra, mais liberal que o seu irmão, também tinha experiência governativa, como Secretário da Justiça, onde ficou mesmo depois da morte do seu irmão. Afastou-se do Governo para se candidatar a Senador por nova Iorque, onde ganhou. E em Março de 1968, desafiando Johnson, anunciou a sua presidência.


A luta era renhida, e RFK perdeu alguns estados para Humpfrey, e tudo se jogava naquela solarenga tarde de Junho. E outro candidato estava na liça, e o natural favorito: o então vice-presidente, Eugene McCarthy. Antes da eleição, McCarthy estava na frente, mas uma vitória decisiva, numa contagem onde era "winner takes all", mesmo com um voto a mais, para Kennedy, significava que estava numa posição de força para a Convenção Democrata, em Chicago, marcada para Agosto. E nessa altura, as Convenções eram para valer, e não o "show-off" que estamos habituados a ver, pois nessa noite, Johnson dera ordens expressas a McCarthy e Humprey para que se juntassem, no sentido de derrotar RFK na corrida presidencial.


E na noite em que RFK faz o discurso de vitória e diz "agora vamos para Chicago", parecia que ele tinha o impulso para conseguir um milagre, que era a nomeação democrata, contra Nixon. Mas o destino foi cruel: um desequilibrado de 21 anos de origem palestiniana, Shiran Shiran, aponta uma pistola à nuca de RFK e atinge-o mortalmente na cabeça. Resiste por um dia, mas morre na madrugada de terça-feira. O país estava mais uma vez em choque.
(continua no próximo episódio)

2 comentários:

  1. Não vias continuar a sequencia desta série?

    ResponderEliminar
  2. Vou sim senhora. Tenho mais duas "escondidas", que irei publicar mais logo. Tem o da Lua e mais algumas...

    ResponderEliminar

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...