domingo, 2 de agosto de 2009

A entrevista a Jaime Alguersuari no jornal Público

O jornal português "Publico" publica hoje uma entrevista feita em Portimão a Jaime Alguersuari, o mais novo piloto de Formula 1 da história, que esteve este fim de semana no circuito algarvio, para participar na jornada dupla da World Series by Renault, e que ganhou uma das provas. Nessa entrevista, feita pelo jornalista Hugo Daniel Sousa, o piloto catalão, filho do mentor da World series by Renault, fala sobre a sua vida, os seus ídilos, da situação actual da Formula 1 e como foi recebido pelos colegas na elite do automobilismo mundial.

Entrevista a Jaime Alguersuari
SE TIVER A MORRER A CORRER, NÃO DIGO QUE NÃO

O mais jovem piloto de sempre na Fórmula 1 passou estes dias por Portugal e recebeu o PÚBLICO na box da sua equipa do campeonato World Series by Renault, no circuito de Portimão. Chegou de calções e chinelos, como um jovem que vem da praia, mas a imagem engana, porque Jaime Alguersuari não está de férias. Mesmo tendo chegado à Fórmula 1, continua no campeonato das World Series, para ganhar experiência.

Aos 19 anos, o catalão considera "indescritível" guiar um carro de Fórmula 1, não quer saber das críticas de quem diz que ele é muito novo para estar na F1 e vê no alemão Sebastian Vettel um modelo a seguir. Alguersuari recusa comparações com o compatriota Fernando Alonso e a resposta final da entrevista ("sou o Jaime Alguersuari, sou um piloto diferente") ilustra a vontade em se afirmar.

PÚBLICO: Alguma vez tinha imaginado ser o piloto mais jovem da Fórmula 1?

Jaime Alguersuari: Não. É uma coisa que não acontece muitas vezes e este ano foi completamente inesperado para mim. A Red Bull e eu tínhamos planeado entrar na Toro Rosso no próximo ano, já com testes e mais preparado, mas a situação mudou. E agora é assim.

P:Como foi conduzir um F1 pela primeira em situação de corrida?

R:É indescritível. Guiar um Fórmula 1 e poder levá-lo ao limite foi o melhor que podia ter acontecido na minha carreira desportiva. Estou onde quero. Há muitas diferenças em relação aos outros carros. Estamos a falar de acelerações, travagens e acima de tudo das curvas. Obviamente, é o melhor carro que já conduzi.

P:E o que mais o surpreendeu?

R:A passagem em curva. Tens direcção assistida e as curva são feitas muito rapidamente. Quando pensas que já estás no limite, afinal ainda não estás. A passagem na curva foi o que mais me impressionou no carro.

P:Pensa que na Fórmula 1 o piloto vale mais ou menos do que noutras categorias?

R:Creio que o piloto vale muito na F1. É claro que o carro é uma via importante, até porque a primeira competição é contra o companheiro de equipa. Nas World Series by Renault, dependes muito da equipa, porque os carros são tão iguais que a equipa e o piloto fazem a diferença.

P:Mais do que na F1?

R:Não. Creio que na F1 se nota mais o talento do piloto, porque os carros têm menos problemas. Nas WSR sempre há mais problemas e a equipa faz bastante diferença.

P:Nesta primeira corrida na F1, o que foi mais difícil: o carro, que era novo, a exigência física ou a pressão e as críticas dos outros pilotos?

R:O mais difícil foi a corrida. Foram 70 voltas no circuito da Hungria, que não é nada fácil, especialmente porque era a minha primeira vez no carro.

P:Falou com os outros pilotos sobre as críticas que lhe fizeram por se estrear tão novo?

R:Não.

P:Considera essas críticas injustas?
R:Não quero saber disso. É o meu trabalho, a Red Bull chamou-me para conduzir um F1 e estou encantado.

P:Massa, por exemplo, disse que ele próprio chegou à F1 com 20 anos e que foi cedo de mais, porque não sabia o que dizer aos engenheiros. Pensa que pode acontecer o mesmo consigo ou que não está suficientemente preparado para a F1?
R:Claro que tenho me preparar melhor, tenho de fazer uma série de testes e claro que a situação não é a ideal para me estrear. Mas foi assim e tenho de o fazer o melhor possível.

P:Mudou ou vai mudar a sua preparação física?

R:Sim. Tenho de reforçar a zona do pescoço e também a zona lombar, por causa das travagens. Claro que a preparação física tem de ser maior do que na WSR ou GP2. Vou trabalhar mais musculação no ginásio. E faço também bicicleta, corrida e um pouco de remo.

P:Quem lhe deu mais conselhos antes da estreia? O pai, Alonso...

R:Quem mais me aconselhou foi Marc Gené, que é o piloto de testes da Ferrari. Convivo muito com ele.

P:A estreia ocorreu no mesmo fim-de-semana do acidente de Massa. Essa situação fá-lo ter mais medo?

R:Não tenho medo. Todos nós, pilotos, corremos um risco e é um risco que há que aceitar. Quem não aceita, não é piloto.

P:A sua família convive bem com esse risco?

R:Se não convivesse, não me apoiaria tanto. Na verdade, é isto [as corridas] que me faz feliz. Se tiver que morrer por isto, não diria que não. Há muitas outras maneiras de morrer.

DIFERENTE DE ALONSO


P:É espanhol e será sempre comparado a Alonso. Está preparado para isso?

R:Ouço falar muito disso, mas a verdade é que o único ponto comum é que somos do mesmo país. As situações são completamente diferentes.

P:Mas não pensa seguir os passos de Alonso?

R:Claro. Gostaria de ganhar um Mundial, é esse o objectivo de todos nós. Desde os 12 ou 13 anos, quando comecei mais a sério com os karts em Itália, que sonho ser campeão do mundo de F1.

P:O objectivo por agora é ganhar experiência, mas que metas se seguem?
R:Agora quero ganhar segundos (não sei quantos), pontuar, tirar o melhor rendimento possível do carro. Mais tarde, tentarei ganhar uma corrida, mas não sei quando será possível fazê-lo ou ser campeão.

P:Quem são os seus ídolos, ou pilotos com que mais se identifica?

R:O Sebastian Vettel, mas não como um ídolo: É uma referência, um modelo a seguir. É muito agradável como pessoa e como piloto não tenho nada a dizer. E o Fernando Alonso também.

P:E como será competir ao lado de Schumacher em Valência?

R:Será um prazer. É sempre bom competir com uma lenda da F1, como foi o Michael. E espero um dia bater-me com ele.

P:Schumacher foi o único dos grandes pilotos que viu correr, porque os outros (Senna, Prost,...) ou era pequeno ou não era nascido. Que ideia tem desses pilotos que marcaram a história?

R:Penso que para todos nós o Ayrton [Senna] foi o que mais nos marcou. Há um antes e um depois de Senna. Deixou uma marca, embora tenha havido outros grandes, como John Surtees, Fangio, Jackie Stewart, mesmo Mansell, mas o maior de todos foi Ayrton, sobretudo pela sua adaptação aos carros e pela capacidade de marcar a diferença quando as condições meteorológicas não eram boas.

P:Li que, se saísse da Toro Rosso ou Red Bull, gostaria de ir para a Ferrari. Porquê?
R:É uma equipa de que gosto desde pequeno.

P:E este ano, quem é o favorito no Mundial de F1?

R:A Red Bull conseguiu um bom carro e é possível que possa ganhar o campeonato. Tanto o Mark [Webber] como o Sebastian [Vettel] têm hipóteses, mas a McLaren e a Ferrari vão encurtar distâncias. O sistema KERS que têm é muito bom.

P:O apoio dos patrocinadores é sempre importante. Fala-se em cinco, seis, oito milhões de euros, para chegar à F1?

R:É difícil quantificar o valor necessário. O importante é estar num operador de F1, como a Toyota, Red Bull ou outro. Estou na Red Bull e chamaram-me porque acreditam em mim como pessoa e piloto.

P:Como se descreve como piloto?

R:Frio, conservador, mas agressivo nos momentos em que é necessário arriscar. Mas se for preciso garantir um quarto ou quinto lugar, não tenho problema em fazê-lo. É importante acabar todas as corridas.

P:Dos actuais pilotos quem é mais parecido com esse estilo? Hamilton, Alonso...
R:É difícil dizer. Cada um é como é. Sou o Jaime Alguersuari e sou um piloto diferente.

UM COLEGA PORTUGUÊS

P:Que pensa desta pista de Portimão?
R:É muito bonita e divertida de conduzir.

P:Coincidiu com Filipe Albuquerque na Junior Team da Renault. O que pensa dele?

R:É mais velho do que eu, mas coincidimos na Fórmula 2.0. É um muito bom colega e muito bom piloto, embora não tenha conseguido encontrar as circustâncias certas para chegar à Fórmula 1.

P:Tem continuado os estudos?

R:Sim. Acabei o bacharelato [liceu] em Barcelona e agora quero estudar a língua alemã, porque é uma língua muito comum na equipa da Red Bull. Por isso, é conveniente aprender alemão.

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