terça-feira, 18 de agosto de 2009

Walter Cronkite e o jornalismo do século XX (5ª e última parte)



Quando os Beatles terminaram, em 1970, George Harrison, um dos seus membros, escreveu um álbum que deu como título "All Things Must Pass", cuja canção principal foi "My Sweet Lord". Foi um álbum aclamado em todo o mundo, e Harrison, considerado durante muito tempo como "o terceiro Beatle", tornou-se objecto de respeito e admiração como compositor até à sua morte, em Novembro de 2001.



Em 1970, a televisão já tinha mais de 20 anos de existência nos Estados unidos, e toda uma geração tinha crescido a ver e ouvir todos os dias jornalistas como Walter Cronkite, na CBS, John Chancelor, Chet Huntley e David Brinkley, da NBC, ou Howard K. Smith e um jovem Peter Jennings, da ABC. Mas essa primeira geração de jornalistas, que tinham coberto eventos como as eleições presidenciais ou o assassinato de John F. Kennedy, bem como a chegada do Homem à Lua, estava paulatinamente a retirar-se, para dar lugar a uma geração mais nova. A 31 de Julho de 1970, Chet Huntley, o maior rival de Cronkite nas audiências, despedia-se do público pela última vez. E Cronkite, em sinal de respeito pelo seu rival, decidiu fazer uma peça em homenagem. "Um gigante abandona o seu palco", afirmou. Sentido, Huntley respondeu dizendo "Adeus e Boa Sorte, Walter".



Os anos 70 continuaram, e outros grandes eventos marcaram a América, como a Guerra do Vietname, o escândalo Watergate e a subsequente demissão de Richard Nixon, a eleição de Jimmy Carter, os choques petroliferos de 1973 e 1979 e o assalto à embaixada americana no Irão, que durou 444 dias, entre novembro de 1979 a Janeiro de 1981. Nesse período, a CBS News, graças a Walter Cronkite, que dava a cara por um conjunto de jornalistas talentosos, consolidava a sua reputação como um dos homens mais fiáveis da América. Toda uma geração cresceu a ouvi-lo, e alguns até a tratá-lo por "Tio Walter".



Chegou até a dar uma ajuda no processo de paz no Médio Oriente, quando numa entrevista ao então presidente Anwar Sadat, em Outubro de 1977, perguntou se estaria disposto a falar com o primeiro ministro israelita Menahem Begin, ao que respondeu positivamente. Poucas semanas depois, sadat desembarcava em Telaviv, naquilo que se trenasformou depois nos Acordos de Camp David, assinados em Junho de 1979 e que restableceram as relações diplomáticas entre o Egipto e Israel.




Mas, tal como tinha acontecido a outros, a idade apanhou-o. A 14 de Fevereiro de 1980 anunciou a sua intenção de se retirar da CBS Evening News dentro de um ano, dando tempo à estação para encontrar um sucessor à altura do seu cargo. A estação acabou por escolher Dan Rather, que ficou no lugar por mais 24 anos, até 2005. E a 6 de Março de 1981, uma sexta-feira, com Ronal Reagan como presidente (e a poucas semanas da sua tentativa de assassinato à porta do Hilton Hotel de Washington), Cronkite fazia a sua despedida:


"Esta vai ser a minha última transmissão como pivot da CBS Evening News. Para mim, é um momento longamente planeado, mas do qual não vem sem alguma tristeza. Durante quase duas décadas temo-nos encontrado desta maneira, todas as noites, e vou sentir a falta desse tipo de reunião. Mas se há alguém que faz disso uma partida, receio que tenha feito mais do que isso. Este lugar não é mais do que uma transição. Um grande senhor e jornalista, Doug Edwards, esteve aqui antes, e outro excelente jornalista, Dan Rather, irá suceder-me.


De qualquer forma, a pessoa que se senta aqui todas as noites é homem que dá a cara a toda uma equipa de jornalistas, argumentistas, repórteres, editores e produtores, e nada será alterado. e depois, não vou reformar-me! Voltarei de tempos a tempos com reportagens especiais e documentários, e no próximo mês de Junho, irei apresentar um programa semanal chamado "Universo". Como vêm, os velhos 'pivôts' não desaparecem, simplesmente aparecem de vez em quando. E foram as noticias, sexta-feira, 6 de Março de 1981. Dan Rather vai estar nesta cadeira para os próximos anos. Boa Noite".





A reforma de Cronkite foi a de um velho americano a colher os frutos do seu trabalho. Sempre activo até além dos 90 anos, deu voz a diversos documentários, quer na CBS, quer depois na CNN, sobre variados aspectos, como o Espaço, a sua área de eleição, ou a politica, chegando até a apresentar algumas edições do Larry King Live, na ausência do anfitrião, Larry King. Politicamente activo, foi um critico não só da Guerra no Iraque, como das imperfeições do sistema democrático americano. Continuou a escrever em colunas de imprensa e até foi "blogger" do famoso site politico Huffington Post, onde escreveu com 90 anos de idade.



No final, Walter Cronkite fica para a história como um homem que, através de um meio de comunicação como a televisão, testemunhou e apresentou boa parte dos grandes factos da segunda metade do século XX. Provavelmente, será um modelo para seguir não só nas gerações que o viram a trabalhar, como também teve uma vida cheia. E tem o seu lugar assegurado na História.

1 comentário:

  1. interersante ver com a história dele como o jornalismo televisisvo teve que se criar no meio de grandes acontecimentos, e com isso grandes desafios jornalísticos.

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