quinta-feira, 24 de setembro de 2009

GP Memória - Portugal 1989

Depois de Monza, as coisas pareciam estar bem caminhadas para Alain Prost, já que a sua diferença sobre Ayrton Senna era cada vez maior, pois o piloto francês já tinha 71 pontos, enquanto que Senna só tinha 51 pontos. Contudo, como na altura só contavam os 13 melhores resultados, em principio, Prost teria de deitar fora cinco pontos, já que o brasileiro tinha pontuado menos vezes, e a quatro provas do fim, caso ele conseguisse ganhar todas as corridas, iriam contar, ao contrário do piloto francês, que seria penalizado pela sua regularidade. Ainda existiam hipóteses. Diminutas, mas existiam.


Entretanto, o “paddock” andava agitado, como sempre. Soube-se que John Barnard iria deixar a Ferrari no final da época para se juntar à Benetton, como director técnico, enquanto que na Onyx, Bertrand Gachot, que era um homem ressentido pelo facto da equipa não lhe dar material igual ao que recebia o seu companheiro Stefan Johansson, denunciou as condições da equipa, e o patrão Van Rossem pura e simplesmente despediu-o. Assim sendo, chamou o terceiro piloto da equipa, o finlandês Jyrki Jarvi Letho, mais conhecido por J.J.


Na Tyrrell, como Jean Alesi ainda estava a lutar pelo título na Formula 3000, e o fim de semana português coincidia com mais uma ronda dessa competição, foi substituído no carro numero 4 pelo inglês Johnny Herbert, que fazia a sua segunda aparição ao volante do carro do Tio Ken. A Williams apresentava no Estoril o seu novo chassis, o FW13, para Riccardo Patrese e Thierry Boutsen, que tinha a particularidade de ter uma entrada de ar mais oval do que o normal nos outros carros.


Como de costume, a qualificação começa na sexta-feira de manhã, quando os treze carros da pré-qualificação tentam o seu melhor, aquecendo os pneus numa pista ainda fria. Com o Osella de Nicola Larini e o AGS de Yannick Dalmas excluídos devido ao seu não cumprimento das regras (Larini falhou uma verificação do peso, Dalmas foi por causa dos pneus), onde pilotos tentaram realmente para conseguir os quatro lugares mágicos. Os larrousse de Philippe Alliot e Michele Alboreto conseguiram, acompanhados pelo Onyx de Stefan Johansson e pelo Coloni de Roberto Moreno. E no caso do piloto brasileiro, esta era a primeira parte do milagre desse fim-de-semana português.


Passando para a qualificação, Senna queria deixar a sua marca, mostrando a vontade de lutar pelo título enquanto fosse humanamente possível. E assim fez a pole-position com 1.15,468, mais de meio segundo de diferença sobre o segundo classificado, Gerhard Berger (1.16,059). Na segunda fila estava Nigel Mansell, no segundo Ferrari, e Alain Prost, no segundo McLaren, demonstração de que estas duas equipas andavam a dominar o panorama. Um surpreendente Pierluigi Martini, graças à eficácia dos pneus Pirelli, era quinto classificado na grelha no seu Minardi, a melhor classificação até então, e tinha a seu lado o Williams de Patrese. Alex Caffi era sétimo, no seu Dallara, com o segundo Williams de Thierry Boutsen a seu lado. Para fechar o “top ten” ficaram o segundo Minardi do espanhol Luís Perez-Sala e o Brabham-Judd de Martin Brundle.

Outras surpresas nesta qualificação foram o 12º tempo de Stefan Johansson, no seu Onyx, e o 15º tempo do Coloni de Roberto Moreno, que comemorava este tempo como se tivesse acabado de fazer uma “pole-position”. Mas se havia vencedores, também existiam vencidos. O Tyrrell de Johnny Herbert, o Ligier de Olivier Grouillard e os Rial de Pierre-Henri Raphanel e Christian Danner não conseguiram obter a almejada qualificação.


Na partida, Senna não conseguiu superar o melhor arranque de Berger e ficou com a liderança. Aliás, os dois Ferrari naquele dia estavam em dia sim, pois Mansell, no final da oitava volta, passa Senna e fica com o segundo lugar. As coisas ficam um pouco estáveis até à volta 23, altura em que Mansell leva a melhor sobre o seu companheiro de equipa para ficar com a liderança. As coisas parecem ficar estáveis na frente até que na volta 39… tudo muda. Nesta altura, os pilotos vão para as suas trocas de pneus quando o inglês falha a sua entrada na boxe. Mansell trava e coloca marcha-atrás para estacionar devidamente e fazer a mudança. Isso não era permitido nas regras e os comissários não tiveram outra alternativa senão desclassificá-lo.


Contudo, se ouviu o que se passava, simplesmente… ignorou. Voltou à pista e não ligou às bandeiras negras que lhe mostravam. Tentava recuperar o tempo perdido e chegou-se ao segundo lugar, ocupado então por Senna. Lutaram por ela, com o brasileiro certamente ignorando que o seu adversário era mais uma ameaça do que um elemento da corrida, e no inicio da volta 49, quando ambos faziam a Curva 1… Senna fecha a porta e Mansell toca no McLaren, indo ambos para fora da pista.


Se isto foi uma manobra normal em corrida ou foi um choque propositado para beneficiar Prost, isso foi muito discutido. Mas que Mansell ignorou repetidamente os avisos dos comissários, isso aconteceu, e no final da corrida, o inglês foi excluído por uma corrida e levou uma forte multa de 50 mil dólares. E o piloto francês estava deleitado com esta oferta dos céus, e via o seu tricampeonato cada vez mais perto.


Mas antes disto tudo tinha acontecido história: um Minardi tinha liderado um Grande Prémio. Na volta 39, Pierluigi Martini, aproveitando a falhada ida à boxe de Mansell, tinha dado à Minardi o seu momento de glória, que viria a ser o única vez que a equipa lideraria um Grande Prémio.


No final da corrida, Berger tinha levado calmamente o seu Ferrari até ao fim, vencendo a corrida, com Prost, cada vez mais campeão, no segundo posto. A fechar o pódio estava o Onyx de Stefan Johansson, dando à equipa o melhor resultado de uma equipa estreante até aquele momento. E para o piloto sueco, o primeiro pódio desde 1987. Nos restantes lugares pontuáveis ficaram o Benetton de Alessandro Nannini, o Minardi de Pierluigi Martini e o Tyrrell de Jonathan Palmer. Para Johansson e Palmer, estes viriam a ser os seus últimos pontos das suas carreiras na Formula 1.


Fontes:

Santos, Francisco – Formula 1 1989/90. Ed. Talento, Lisboa/São Paulo, 1989

2 comentários:

  1. Alguém percebeu que a posição da pole em Estoril (Portugal) era do lado direito e não esquerdo (o correto)?

    Lembro-me que no Brasil essa prova foi interrompida em função do horário "xaropal" político. Com o término do horário obrigatório foi mostrado (com a narração de Galvão Bueno) apenas Gerhard Berger recebendo a bandeirada (vencedor da prova) com Alain Prost em 2º e Stefan Johansson em 3º lugar.

    *Na época só podia contar com "11 melhores resultados" (das 16 provas) e não 13 como está no blog.

    Notas:

    - 5ª vitória de Gerhard Berger;
    - 150º prova de Alain Prost;
    - 97ª vitória da Ferrari e 97ª também do motor italiano (Ferrari);
    - último pódio de Stefan Johansson (pontos também) e último ponto também para Jonathan Palmer e
    - único pódio da Onyx na categoria.

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  2. Estávamos com a campanha presidencial de 1989 e lembro bem da interrupção para a exibição do Horário Eleitoral Gratuito. Eram 22 candidatos ao pleito. Imagina a alegria dos fãs de velocidade em ter a corrida cortada para ver um show de horrores em muitos casos...

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...