segunda-feira, 19 de abril de 2010

GP Memória - Espanha 1970

Seis semanas depois do começo da temporada, na África do Sul, a formula 1 estava de volta, oficialmente, para a Europa. Boa parte das equipas tinha alinhado na Race of Champions, onde a March tinha a sua primeira vitórias em corridas, graças a Jackie Stewart. Mas não era uma corrida oficial, e nas estatísticas, isso conta. Contudo, todos achavam que isso era um bom sinal para Jarama, o circuito onde iria decorrer o GP de Espanha, segunda prova do calendário da temporada de 1970, a 19 de Abril.

Havia uma alteração na lista de inscritos. Sem os sul-africanos a polvilharem a grelha, a grande novidade cabia na Lotus, onde inscreviam um terceiro carro para o local Alexander-Soler Roig, então com 38 anos, e ia conduzir um modelo 49. Outra estreia na lista de inscritos acontecia na McLaren, que colocava um terceiro carro para o italiano Andrea de Adamich. Então com 28 anos de idade, e a dar nas vistas pelo facto de precisar guiar com... óculos, Adamich era encarregado de desenvolver um motor V8 da Alfa Romeo, que assim regressava oficialmente à competição, apenas como fornecedora de motores.

Mas a Lotus trazia para Jarama o seu novo modelo 72, que prometia revolucionar a Formula 1, tal como a víamos. Com uma frente sem entrada de ar, a lembrar o modelo 56 “Turbina”, tinha radiadores laterais (uma novidade absoluta) e a sua aerodinâmica potenciava um carro vencedor… desde que acabasse as corridas. Parecia que depois do chassis vencedor que fora o modelo 49, não se esperava um carro tão revolucionário como este. Mas visualmente já o era.

Contudo, Jochen Rindt, sempre suspeito da fragilidade dos modelos feitos por Colin Chapman, entrou a medo no carro. E tinha razão: mal saiu das boxes, teve uma falha nos travões e acabou na gravilha. Pouco mais de 300 metros tinha percorrido, e um Rindt zangado chegou-se ao pé de Chapman, jurando alto e bom som que “nunca mais iria pilotar esta merda”. Com os ânimos acalmados, Rindt voltou a guiar o modelo 72, acompanhado pelo seu companheiro de equipa, John Miles.

Mas não havia só polémicas dentro das equipas. O próprio GP de Espanha já tinha a sua própria polémica, bem antes de começar. O facto de ter 22 pilotos inscritos significava que repartido, o dinheiro de presença iria ser bem menor, e as equipas começaram a discutir isso. Depois de algum tempo de conversações, os organizadores decidiram que só iriam deixar largar 17 dos 22 pilotos presentes, passando por uma qualificação no qual os cinco piores classificados iriam ficar de fora.

Nos treinos, o melhor foi Jack Brabham, no seu carro, e iria ter a seu lado o McLaren de Denny Hulme. Na segunda fila estavam o March de Jackie Stewart e o Matra de Jean-Pierre Beltoise, enquanto que na terceira estavam o BRM de Pedro Rodriguez e o segundo March de Chris Amon. Jacky Ickx, no seu Ferrari, era sétimo, à frente de Jochen Rindt. Para fechar os dez primeiros, estavam o segundo Matra de Henri Pescarolo e o segundo BRM de Jackie Oliver.

Os cinco piores classificados nesta qualificação tinham sido os Lotus de John Miles e Alex Soler-Roig, o March de Jo Siffert, o BRM de George Eaton e o McLaren-Alfa Romeo de Andrea de Adamich. Como combinado, esses carros não iriam alinhar na corrida do dia seguinte.

Antes de começar a corrida, que consistia em 90 voltas ao circuito de Jarama, o De Tomaso de Piers Courage sofreu um acidente e não podia ser repadado a tempo, ficando de fora antes da corrida começar. No momento da partida, Stewart largou melhor do que Brabham e Hulme, e apossou-se da liderança para não mais a largar. Mas mais atrás, era a catástrofe: o Ferrari de Jacky Ickx e o BRM de Jackie Oliver colidiam um com o outro, devido a uma travagem mal calculada. com ambos os carros cheios de gasolina, o incêndio era inevitável. Bombeiros combatiam as chamas, enquanto que os carros passavam e Ickx e Oliver saiam dos seus carros sem ferimentos de maior. Naquele dia, apesar do aparato, tiveram imensa sorte.

No acidente, o outro BRM de Pedro Rodriguez sofreu um toque na suspensão, e a equipa o mandou para as boxes à quarta volta para ver os estragos. Quando viram o carro, decidiram abandonar a corrida, por medida de segurança. Atrás de Stewart, vinha Hulme, Brabham e Beltoise, mas na décima volta, o motor Cosworth de Hulme explodiu, deixando o segundo posto para o australiano. Mas era acossado pelo Matra de Jean-Pierre Beltoise, que pouco depois o ultrapassou. O francês ficou-se por aí até à volta 31, quando o motor explodiu. por essa altura, já Rindt tinha abandonado, vitima de problemas elétricos.

A meio da corrida, Brabham ficou com o segundo posto, depois de passar Henri Pescarolo, no outro Matra. E aos poucos, o pelotão encolhia: na volta 43, apenas nove pilotos corriam. E ainda faltavam 47 voltas...

Depois de Stewart e Brabham, John Surtees, no seu McLaren privado era terceiro, á frente do McLaren oficial de Bruce, do March de Mario Andretti e do Lotus de Graham Hill. Surtees tentava o seu melhor, mas a patir da volta 45, começou a ter problemas com a caixa de velocidades e perdeu tempo e lugares. Só resistiu até à volta 76, quando esta se partiu definitivamente. Por essa altura, já o seu motor Cosworth de Jack Brabham tinha encomendado a alma ao Criador, fazendo com que Bruce McLaren herdasse o segundo posto.

E quem estava a guiar sem problemas era Jackie Stewart. Quando cortou a meta, estava a dar à March a sua primeira vitória de sempre de um dos seus chassis, embora de forma não oficial. Tal como Mário Andretti, que com o seu terceiro lugar, conseguiu os seus primeiros pontos da sua carreira na Formula 1. E também num March privado. Somente cinco carros tinham chegado ao fim. Os restantes sobreviventes foram o Lotus privado de Graham Hill e o March de Johnny Servoz-Gavin. A duas voltas de Stewart.

Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/1970_Spanish_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr186.html

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