Se fosse vivo, Mike Beuttler comemoraria hoje o seu 70º aniversário natalicio. A história deste piloto aristocrata, nascido no Egipto e cunhado de um politico conservador chamado Alan Clark, que antes de se ser ministro, era histroriador e publicou um livro, de seu nome "The Donkeys" a denunciar os podres na cadeia de comando na I Guerra Mundial.
Provavelmente os "royalties" do livro podem ter servido para financiar a carreira de Beuttler na Formula 1, pois ele e mais um grupo de amigos, todos eles a trabalhar na "City", a área financeira de Londres, fizeram uma "vaquinha" para dar a ele um March 731, pintado de amarelo, e correr no fundo da grelha, embora com alguns resultados interessantes. Numa altura que comprar um chassis não era caro, e correr ao lado de David Purley, James Hunt e Roger Williamson, só para citar alguns compatriotas seus, foi uma forma de concretizar o seu sonho de correr na categoria máxima do automobilismo. A aventura durou três épocas e 29 Grandes Prémios.
Começou a correr tarde, aos 24 anos, depois de começar a experimentar alguns carros como piloto de testes. Andou na Formula Libre, e depois na Formula 3, quando foi a altura de convencer um grupo de financiadores, os mesmos que falei há pouco, para ajudar a chegar à Formula 1, em 1971. Sempre correu com um chassis March, e sem resultados de relevo, retira-se no final de 1973, para se radicar nos Estados Unidos, mais concretamente na California.
Quando se soube da morte dele, em finais de 1988, vitima de complicações relacionados com o virus HIV, muitos dos que privaram com ele ficaram espantados com este desfecho. E principalmente com o facto dele ser homossexual, pois ele era um homem discretíssimo em relação a perferências desse género. Podia ser a sua maneira de ser na vida, especialmente numa altura em que "sair do armário" não era um assunto fácil. Ainda não o é hoje em dia, mas as coisas são diferentes.
Até a maneira como se aborda o assunto SIDA (ou AIDS) é diferente. Para quem cresceu nos anos 80, como eu, era visto como "a peste do século XX". Hoje em dia, com o desenvolvimento dos medicamentos, só é visto como uma peste nos países subdesenvolvidos, que não tem acesso aos medicamentos anti-retrovirais como acontece nos países desenvolvidos, com bons sistemas de saúde.
Mas voltando um pouco atrás, ver um desportista a sair do armário é raro, muito raro mesmo. Num desporto onde a virilidade e a luta é condição "sine qua non" para ser bem sucedido, ainda existe muito preconceito. É certo que existem muitos homossexuais no futebol, rugby, basquetebol, futebol americano... tudo desporto de macho, onde "margaridas" não são permitidas. E o adepto, tipico "treinador de bancada" que só gosta do jogo em si para ver os seus adversários perder, não tolera ver alguém que gosta de pessoas do mesmo sexo, porque acha que ele "merece todos os nomes": bicha, viado, boiola, etc.
Mas o mais engraçado é descobrir que muitos, quando acabam a carreira, decidem "sair do armário". E pessoas com imenso prestígio. Um antigo capitão da selecção galesa de rugby, uma das potência da modalidade e exemplo moral de como se comportar dentro do campo, saiu do armário aos 36 anos. O senhor, cujo nome confesso não me lembrar agora, só ganhou respeito ao dizer aquilo que ficou preso na garganta durante anos. Os anos passam, as mentalidades modificam-se. E quem fala de homens, também fala de mulheres. Billie Jean King, Martina Navratilova e Amelie Mauresmo são três exemplos que combinam sucesso profissional no ténis e um lesbianismo mais do que assumido.
Recentemente, descobri uma coisa ainda mais fantástica, e envolve o primeiro piloto de Formula 1 português. Mário de Araujo Cabral era um aristocrata de sucesso. Marquês de Vizela, a casa da familia é agora onde se situa um dos melhores museus da Europa: Serralves, no centro do Porto. Há muito tempo atrás, tinha dito na sua biografia que no meio da sua vida boémia, lá flertava com mulheres... e homens. Nos anos 60, e num meio ultra-conservador como o português, onde se beijasse em público corria o risco de uma multa, era andar no limite. E provavelmente a razão para o qual se deve ter tornado piloto de automóveis deve ter sido a rebeldia.
Nos anos 70, já no final da sua carreira, mudou-se para Angola, um lugar onde o panorama automobilistico era vibrante. Mas não era só o automobilismo: num país onde a Coca-Cola era proíbida, sitios como Angola e Moçambique eram outro mundo. Tão "outro mundo" que não só se bebia a Coca-Cola como as meninas andavam alegremente de biquini nas praias... digo isto pelas fotos da minha mãe na altura.
Este ano, já no alto dos seus 75 anos, por fim decidiu sair do armário. Sem dramas, e sem censuras. É apenas uma pessoa a dar uma mensagem pessoal. Tal como há homens que gostam de mulheres, e mulheres que gostam de homens, as pessoas do mesmo sexo são exactamente isso: normais.
Provavelmente os "royalties" do livro podem ter servido para financiar a carreira de Beuttler na Formula 1, pois ele e mais um grupo de amigos, todos eles a trabalhar na "City", a área financeira de Londres, fizeram uma "vaquinha" para dar a ele um March 731, pintado de amarelo, e correr no fundo da grelha, embora com alguns resultados interessantes. Numa altura que comprar um chassis não era caro, e correr ao lado de David Purley, James Hunt e Roger Williamson, só para citar alguns compatriotas seus, foi uma forma de concretizar o seu sonho de correr na categoria máxima do automobilismo. A aventura durou três épocas e 29 Grandes Prémios.
Começou a correr tarde, aos 24 anos, depois de começar a experimentar alguns carros como piloto de testes. Andou na Formula Libre, e depois na Formula 3, quando foi a altura de convencer um grupo de financiadores, os mesmos que falei há pouco, para ajudar a chegar à Formula 1, em 1971. Sempre correu com um chassis March, e sem resultados de relevo, retira-se no final de 1973, para se radicar nos Estados Unidos, mais concretamente na California.
Quando se soube da morte dele, em finais de 1988, vitima de complicações relacionados com o virus HIV, muitos dos que privaram com ele ficaram espantados com este desfecho. E principalmente com o facto dele ser homossexual, pois ele era um homem discretíssimo em relação a perferências desse género. Podia ser a sua maneira de ser na vida, especialmente numa altura em que "sair do armário" não era um assunto fácil. Ainda não o é hoje em dia, mas as coisas são diferentes.
Até a maneira como se aborda o assunto SIDA (ou AIDS) é diferente. Para quem cresceu nos anos 80, como eu, era visto como "a peste do século XX". Hoje em dia, com o desenvolvimento dos medicamentos, só é visto como uma peste nos países subdesenvolvidos, que não tem acesso aos medicamentos anti-retrovirais como acontece nos países desenvolvidos, com bons sistemas de saúde.
Mas voltando um pouco atrás, ver um desportista a sair do armário é raro, muito raro mesmo. Num desporto onde a virilidade e a luta é condição "sine qua non" para ser bem sucedido, ainda existe muito preconceito. É certo que existem muitos homossexuais no futebol, rugby, basquetebol, futebol americano... tudo desporto de macho, onde "margaridas" não são permitidas. E o adepto, tipico "treinador de bancada" que só gosta do jogo em si para ver os seus adversários perder, não tolera ver alguém que gosta de pessoas do mesmo sexo, porque acha que ele "merece todos os nomes": bicha, viado, boiola, etc.
Mas o mais engraçado é descobrir que muitos, quando acabam a carreira, decidem "sair do armário". E pessoas com imenso prestígio. Um antigo capitão da selecção galesa de rugby, uma das potência da modalidade e exemplo moral de como se comportar dentro do campo, saiu do armário aos 36 anos. O senhor, cujo nome confesso não me lembrar agora, só ganhou respeito ao dizer aquilo que ficou preso na garganta durante anos. Os anos passam, as mentalidades modificam-se. E quem fala de homens, também fala de mulheres. Billie Jean King, Martina Navratilova e Amelie Mauresmo são três exemplos que combinam sucesso profissional no ténis e um lesbianismo mais do que assumido.
Recentemente, descobri uma coisa ainda mais fantástica, e envolve o primeiro piloto de Formula 1 português. Mário de Araujo Cabral era um aristocrata de sucesso. Marquês de Vizela, a casa da familia é agora onde se situa um dos melhores museus da Europa: Serralves, no centro do Porto. Há muito tempo atrás, tinha dito na sua biografia que no meio da sua vida boémia, lá flertava com mulheres... e homens. Nos anos 60, e num meio ultra-conservador como o português, onde se beijasse em público corria o risco de uma multa, era andar no limite. E provavelmente a razão para o qual se deve ter tornado piloto de automóveis deve ter sido a rebeldia.
Nos anos 70, já no final da sua carreira, mudou-se para Angola, um lugar onde o panorama automobilistico era vibrante. Mas não era só o automobilismo: num país onde a Coca-Cola era proíbida, sitios como Angola e Moçambique eram outro mundo. Tão "outro mundo" que não só se bebia a Coca-Cola como as meninas andavam alegremente de biquini nas praias... digo isto pelas fotos da minha mãe na altura.
Este ano, já no alto dos seus 75 anos, por fim decidiu sair do armário. Sem dramas, e sem censuras. É apenas uma pessoa a dar uma mensagem pessoal. Tal como há homens que gostam de mulheres, e mulheres que gostam de homens, as pessoas do mesmo sexo são exactamente isso: normais.
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