As convocatórias das selecções, que decorrerão durante a semana que agora vivemos, vão dar sempre azo às habituais discussões entre adeptos. Cada um tem a sua selecção delienada mentalmente na sua cabeça, e se estes torcerem por um determinado clube, anseiam para que essa selecção nacional tenha dos seus jogadores em maioria. Tipico.
Ontem à noite, na Covilhã, e esta tarde no Rio de Janeiro, Brasil e Portugal apresentaram os seus escolhidos para o Mundial de futebol da Africa do Sul. As escolhas são controversas, como é obvio, mas torce-se sempre pelo melhor. Desejam-se que estas equipas vão longe e, no caso do Brasil, seja o suficiente para conquistar o "hexa", essa velha ambição brasileira: sendo a unica selecção a participar em todos os Mundiais, parte sempre para ganhar o título, nunca menos do que isso.
Os casos de Brasil e Portugal são dictómicos: um sofre com a abundância de talentos, e outro com alguma escassez. Tanta que tivemos de naturalizar três brasileiros, que possivelmente teriam lugar na "canarinha". Mas escolheram outra selecção, por viverem e jogarem há anos no nosso país. O Pepe, por exemplo, chegou aqui ainda junior, no Maritimo.
A nossa escassez, por exemplo, é evidente no nosso lateral esquerdo, e nos esquerdinos em geral. Podemos ter os melhores extremos do mundo, mas se não tivermos um lateral-esquerdo, é como se estivermos com dez jogadores. Por exemplo, a escolha de Fábio Coentrão, um jogador de 22 anos, descoberta do ano no Benfica, campeão nacional, e unica chamada feita por Carlos Queiroz (Dunga, em contraste, chamou Ramires e Luisão) é talvez um bom exemplo do que se passa neste rectângulo á beira-mar plantado.
Em contraste, no Brasil, a abundância de bons jogadores é o pão-nosso de cada dia. Costumo dizer que se cada estado fosse independente, até o Acre iria ao Mundial com uma equipa capaz de disputar o título. O Brasil pode se dar ao luxo de criar uma equipa B, equipa C, equipa D... e não perde qualidade. Daí que muitos gostassem de ver os seus jogadores favoritos no escrete canarinho. Lembro do clamor nacional por Romário em 2002, com apelos até do então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. E Luis Filipe Scolari manteve a palavra, não o convocando. Quando a equipa conquistou o "penta", isso foi esquecido.
Todos queriam Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Neymar, Ganso, etc... para os 23 eleitos. Todos acham que, estando eles em topo de forma por três, quatro, cnco jogos, já serve para a selecção e de lá não saem. Qualquer rapaz de 18 anos que jogue muito bem é considerado um "novo Pelé", devido ao exemplo dado, numa mágica selecção de 1958, que foi ás frias terras suecas e de lá trouxe a primeira das três Jules Rimet. Esta tarde, a imprensa local foi implacável sobre Dunga para que justificasse porque escolheu este ou aquele e não outro jogador. Vai ser assim, sempre, no Brasil: é a maldição da abundância...
Claro, também certa imprensa julga que tem poder para escolher os seus 23. Mas é por isso que existe um seleccionador. Para o mal e para o bem, é ele que escolhe aqueles que estão capazes de fazer uma boa campanha. É algo que é planeado a longo prazo, e não porque um dia acroda e decide convocar tal e tal. Os jornais não fazem selecções. Os Estados não fazem selecções. Para isso existe um seleccionador, sustentado por um presidente, por muitos pecados que ele tenha.
Claro, quando falo do Brasil, também falo de Portugal. Houve muito sururu quando Scolari chegou para treinar a selecção. Decidiu cortar com algumas "vacas sagradas" antes do Euro 2004 e todos temiam o pior. Hostilizou o F.C. Porto, que então tinha José Mourinho ao leme, com muitos a exigirem a Gilberto Madaíl, o presidente da Federação, para o despedir e colocar Mourinho no seu lugar, à frente uma seleção esmagadoramente portista. Felizmente, Madaíl e Scolari mantiveram a cabeça fria e Portugal conseguiu a melhor classificação de sempre.
E foi também ele que quebrou o "tabu" de naturalizar estrangeiros na nossa selecção. Um tabu hipócrita, na minha opinião. Antes de Scolari convocar Deco, já tinha havido três brasileiros na Selecção nacional, e era costume chamar jogadores nascidos no estrangeiro, como Petit, que tinha nascido em Estrasburgo. Sem falar na míriade de cabo-verdianos que jogaram pelas nossas cores, desde Oceano até agora, com Nani, Miguel e Manuel Fernandes... Há outros exemplos: José Bosingwa, que não vai por estar lesionado, nasceu em Kinshasa, no Congo, Ariza Makukula, filho de um internacional zairense ou Daniel Fernandes, nascido na canadiana cidade de Vancouver. Se a ideia era de criticar os brasileiros por uma espécie de "pureza" linguistica, deviam também criticar a nossa diáspora...
No final, toda esta reclamação não vai servir de nada. Já estão escolhidos os eleitos e a responsabilidade por uma boa campamnha depende deles. E agora, neste ano de 2010, no primeiro Mundial em Africa, Brasil, primeiro no "ranking", joga no mesmo grupo que Portugal, terceiro no "ranking". Num "grupo da Morte" como este, para o bem e para o mal, eles têm de se qualificar, pois muito está em jogo.
Ontem à noite, na Covilhã, e esta tarde no Rio de Janeiro, Brasil e Portugal apresentaram os seus escolhidos para o Mundial de futebol da Africa do Sul. As escolhas são controversas, como é obvio, mas torce-se sempre pelo melhor. Desejam-se que estas equipas vão longe e, no caso do Brasil, seja o suficiente para conquistar o "hexa", essa velha ambição brasileira: sendo a unica selecção a participar em todos os Mundiais, parte sempre para ganhar o título, nunca menos do que isso.
Os casos de Brasil e Portugal são dictómicos: um sofre com a abundância de talentos, e outro com alguma escassez. Tanta que tivemos de naturalizar três brasileiros, que possivelmente teriam lugar na "canarinha". Mas escolheram outra selecção, por viverem e jogarem há anos no nosso país. O Pepe, por exemplo, chegou aqui ainda junior, no Maritimo.
A nossa escassez, por exemplo, é evidente no nosso lateral esquerdo, e nos esquerdinos em geral. Podemos ter os melhores extremos do mundo, mas se não tivermos um lateral-esquerdo, é como se estivermos com dez jogadores. Por exemplo, a escolha de Fábio Coentrão, um jogador de 22 anos, descoberta do ano no Benfica, campeão nacional, e unica chamada feita por Carlos Queiroz (Dunga, em contraste, chamou Ramires e Luisão) é talvez um bom exemplo do que se passa neste rectângulo á beira-mar plantado.
Em contraste, no Brasil, a abundância de bons jogadores é o pão-nosso de cada dia. Costumo dizer que se cada estado fosse independente, até o Acre iria ao Mundial com uma equipa capaz de disputar o título. O Brasil pode se dar ao luxo de criar uma equipa B, equipa C, equipa D... e não perde qualidade. Daí que muitos gostassem de ver os seus jogadores favoritos no escrete canarinho. Lembro do clamor nacional por Romário em 2002, com apelos até do então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. E Luis Filipe Scolari manteve a palavra, não o convocando. Quando a equipa conquistou o "penta", isso foi esquecido.
Todos queriam Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Neymar, Ganso, etc... para os 23 eleitos. Todos acham que, estando eles em topo de forma por três, quatro, cnco jogos, já serve para a selecção e de lá não saem. Qualquer rapaz de 18 anos que jogue muito bem é considerado um "novo Pelé", devido ao exemplo dado, numa mágica selecção de 1958, que foi ás frias terras suecas e de lá trouxe a primeira das três Jules Rimet. Esta tarde, a imprensa local foi implacável sobre Dunga para que justificasse porque escolheu este ou aquele e não outro jogador. Vai ser assim, sempre, no Brasil: é a maldição da abundância...
Claro, também certa imprensa julga que tem poder para escolher os seus 23. Mas é por isso que existe um seleccionador. Para o mal e para o bem, é ele que escolhe aqueles que estão capazes de fazer uma boa campanha. É algo que é planeado a longo prazo, e não porque um dia acroda e decide convocar tal e tal. Os jornais não fazem selecções. Os Estados não fazem selecções. Para isso existe um seleccionador, sustentado por um presidente, por muitos pecados que ele tenha.
Claro, quando falo do Brasil, também falo de Portugal. Houve muito sururu quando Scolari chegou para treinar a selecção. Decidiu cortar com algumas "vacas sagradas" antes do Euro 2004 e todos temiam o pior. Hostilizou o F.C. Porto, que então tinha José Mourinho ao leme, com muitos a exigirem a Gilberto Madaíl, o presidente da Federação, para o despedir e colocar Mourinho no seu lugar, à frente uma seleção esmagadoramente portista. Felizmente, Madaíl e Scolari mantiveram a cabeça fria e Portugal conseguiu a melhor classificação de sempre.
E foi também ele que quebrou o "tabu" de naturalizar estrangeiros na nossa selecção. Um tabu hipócrita, na minha opinião. Antes de Scolari convocar Deco, já tinha havido três brasileiros na Selecção nacional, e era costume chamar jogadores nascidos no estrangeiro, como Petit, que tinha nascido em Estrasburgo. Sem falar na míriade de cabo-verdianos que jogaram pelas nossas cores, desde Oceano até agora, com Nani, Miguel e Manuel Fernandes... Há outros exemplos: José Bosingwa, que não vai por estar lesionado, nasceu em Kinshasa, no Congo, Ariza Makukula, filho de um internacional zairense ou Daniel Fernandes, nascido na canadiana cidade de Vancouver. Se a ideia era de criticar os brasileiros por uma espécie de "pureza" linguistica, deviam também criticar a nossa diáspora...
No final, toda esta reclamação não vai servir de nada. Já estão escolhidos os eleitos e a responsabilidade por uma boa campamnha depende deles. E agora, neste ano de 2010, no primeiro Mundial em Africa, Brasil, primeiro no "ranking", joga no mesmo grupo que Portugal, terceiro no "ranking". Num "grupo da Morte" como este, para o bem e para o mal, eles têm de se qualificar, pois muito está em jogo.
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