Passaram-se cinco semanas desde o emocionante final do GP do Mónaco, onde Jack Brabham perdeu uma vitória certa nos últimos metros da corrida ao falhar a travagem na Curva do Gasómetro, entregando-a de bandeja a Jochen Rindt. A seguir à lentidão do circuito urbano do Principado, máquinas e pilotos rumavam para o veloz, mas desafiante circuito de Spa-Francochamps, com os seus 14,120 quilómetros de extensão.
Devido às queixas dos pilotos, cada vez mais vocais e cada vez mais ouvidas, sobre as condições de segurança no circuito belga, a edição de 1969 acabaria por ser cancelada, e os organizadores acordaram em elevar os padrões de segurança, colocando rails de protecção ao longo da enorme pista. E com essas alterações feitas, o GP da Bélgica voltava ao calendário.
Mas quando máquinas e pilotos chegaram a Spa-Francochamps, faltava a McLaren na grelha. E a sua ausência era pela pior das razões: o seu lendário fundador, Bruce McLaren, tinha morrido cinco dias antes num acidente em Goodwood, quando testava um dos seus carros de Can-Am. O capot traseiro tinha se soltado e perdera o controlo do seu carro, batendo num posto de comissários vazio naquela altura. Apesar de ter 32 anos quando morreu, já ia a caminho da sua 11ª época, um feito naqueles tempos. Logo, o impacto da sua morte tinha sido tremendo, e ainda por cima, tinha acontecido a tão poucos dias da corrida belga.
Algumas semanas antes, o seu companheiro de equipa Dennis Hulme tinha sofrido um incêndio no seu carro quando competia nas 500 Milhas de Indianápolis. No acidente, o piloto neozelandês ficara com queimaduras nas suas mãos e estava incapaz de competir no GP belga. Assim, McLaren tinha convidado um amigo pessoal, o americano Peter Revson, para correr no seu lugar em Spa. A sua morte acabou por anular esses planos, e Revson só voltaria à Formula 1 no ano seguinte. Em solidariedade com a equipa, John Surtees também não veio à corrida belga, pois corria um chassis dele.
Com a saída de Johnny Servoz-Gavin da equipa Tyrrell, ele e Jackie Stewart precisavam de arranjar um substituto capaz, e de perferência francês, para satisfazer a Elf, o principal patrocinador da equipa. Mas até lá, eles iam correr só com Stewart, enquanto que a equipa oficial tinha Chris Amon e Jo Siffert. O sueco Ronnie Peterson, noutro March privado, completava a equipa.
A Ferrari decidira inscrever outro Ferrari 312 para secundar Jacky Ickx, que corria “em casa”. O estreante nestas lides era um italiano, Ignazio Giunti de seu nome, apreciado pelo próprio “Commendatore” do qual se falava que tinha muito talento e um grande futuro no automobilismo. Os organizadores deram à Ferrari dois números que anos depois a equipa se viu identificado, e se tornou um símbolo nos anos em que a marca do Cavalino não conquistava títulos: 27 e 28.
A Lotus tinha três carros: dois modelo 72, para Jochen Rindt e o britânico John Miles, mais um modelo 49 para o espanhol Alex Soler-Roig. Graham Hill também corria com um modelo 49, mas inscrito pela Rob Walker Racing. A Brabham tinha um carro oficial para Jack Brabham, e mais dois carros privados, um inscrito pelos ingleses da Tom Wheatcroft Racing, para Derek Bell e a inscrição alemã, para Rolf Stommelen. Jean-Pierre Beltoise e Henri Pescarolo corriam pela Matra, e a BRM tinha dois carros para Pedro Rodriguez e Jackie Oliver. Para finalizar, havia o De Tomaso-Cosworth de Piers Courage, inscrito por Frank Williams.
Nos treinos, o March de Stewart conseguiu ser o mais rápido, dando à construtora a sua primeira pole-position da sua curta história, tendo a seu lado o Lotus do seu amigo Rindt e o segundo Matra de Amon. (aqui em Spa, a grelha era formada segundo o método de 3-2-3-2) Na segunda fila estavam Ickx e Brabham, enquanto que a terceira tinha o BRM de Rodriguez, o Brabham privado de Stommelen e o segundo Ferrari de Giunti. A quarta fila pertencia aos March de Peterson e Siffert. Alex Soler-Roig teve a proeza de ficar com o 18º e último posto, não podendo assim alinhar na corrida do dia seguinte.
A corrida decorreu sob céu limpo e sem nuvens, algo anormal numa zona conhecida pela imprevisibilidade do seu tempo. No arranque, Rindt levou a melhor, mas antes do final da primeira volta, Amon passara para a liderança. Na segunda volta, Stewart atacou primeiro Rindt, e depois Amon, para ficar com o primeiro lugar, posição que passou no início da terceira volta. Mas pouco depois, Amon ripostou e ficou com a liderança. Por esta altura, vindo de trás, vinha o BRM de rodriguez, numa toada de ataque: na terceira volta apossara-se do terceiro lugar de Rindt, e no inicio da quarta volta, atacava o segundo lugar de Stewart, e conseguira-o à entrada da quinta volta. Nessa altura, chegou-se a Amon e atacou a liderança, tendo-a conseguindo quando fez a sua sexta passagem pelo Eau Rouge.
Amon tentou acompanhar o seu ritmo, mas cedo ficou para trás, graças à maior potência do motor BRM. Stewart era terceiro, mas era ameaçado por Brabham, que já tinha passado pelo Lotus de Rindt. Contudo, na volta sete, o australiano despista-se na zona de Malmedy, quando não conseguiu carregar nos pedais a força suficiente. E não era por velhice: era apenas por causa de um pano oleoso esquecido por algum mecânico… livrado do pano, Brabham regressou à pista para apanhar Rindt e Stewart, e conquistou graças aos azares dos outros, pois o austríaco ficou sem motor na volta 10, o mesmo a acontecer ao escocês quatro voltas depois.
Parecia que Brabham ia a caminho de um lugar no pódio, dado que Amon e Rodriguez pareciam estar um pouco fora do alcance dele, mas na volta 19, a embraiagem do seu carro falhou e teve de encostar na berma. No seu lugar apareceu o Matra de Beltoise.
Na frente, Amon e Rodriguez continuavam a batalhar pela liderança, mas o mexicano tinha o seu carro num dia “sim” e estava a caminho da vitória. Atrás deles. Os Matra iam a caminho de mais um bom resultado, pois Pescarolo estava atrás de Beltoise. Sem Ickx, que tinha se atrasado, Giunti estava a fazer uma estreia respeitável, ao correr na zona dos pontos, na quinta posição. Mas pouco depois, na penúltima volta, subiu ao quarto lugar quando o Matra de Pescarolo teve de abrandar devido à falta de combustível.
No final da corrida, Pedro Rodriguez conquistava a sua segunda vitória da carreira e a primeira da BRM desde o GP do Mónaco de 1966, uma corrida ganha por Jackie Stewart. Chris Amon era o segundo, com Beltoise a conquistar o segundo pódio consecutivo para a Matra. Ignazio Giunti (que tinha uma águia azteca estilizada no seu capacete) fora o quarto classificado e dava os primeiros pontos do ano à Ferrari, Rolf Stommelen fora o quinto, e Henri Pescarolo ainda conseguiu chegar ao fim no último lugar pontuável, o sexto. E quando todos arrumaram as coisas para rumar a Zandvoort, mal sabiam que a próxima vez que a Formula 1 estaria de volta a este circuito seria dali a treze anos, num traçado diferente...
Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/1970_Belgian_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr188.html
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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...