Daqui a meio dia, cinquenta e cinco carros irão alinhar no circuito de La Sarthe para o dia mais longo do automobilismo moderno: as 24 Horas de Le Mans. Confesso que sou mais um daqueles que acha fascinante ver aquelas máquinas correr ali, testar os equipamentos até ao limite das suas forças, ver qual deles é que sairá dali vencedor. Para mim é um regresso à essência do automóvel, aquilo que o fez desenvolver: testar novos componentes, para os aplicar no dia-a-dia. É isso que já não vemos mais na Formula 1, Indy ou até a NASCAR.
Para a esmagadora maioria das pessoas, o que interessa é ver a partida. Até 1970, viamos os pilotos correrem esbaforidos para os seus carros, entrar neles sem apertar o cinto e até sem fechar as portas, pensando eles que o poderiam fazer por alturas da Tetre Rouge ou algo assim. Com o acidente mortal de John Woolfe, em 1969, e o protesto silencioso de Jacky Ickx, um futuro rei de Le Mans, momentos antes, isso acabou.Gosto destas corridas de resistência. Ver as 12 Horas de Sebring ou as 24 Horas de Daytona, por exemplo, são bons exemplos de resistência de máquinas, pilotos e mecânicos. É certo que aqueles que vão lá não ficam nas bancadas só a ver a corrida. É como ires a um festival de musica: não vais lá para ficar o tempo todo no palco para ver todas as bandas. Vais às barracas, à roda gigante, convives com os amigos, apanhas uma babedeira, fazes amor com a namorada na tenda ou noutro lugar mais discreto, enquanto que os bólidos rugem em plena reta das Hunaudriéres.
Em 2009, a Peugeot conseguiu quebrar o domínio que a Audi vinha a ter desde o final da década passada. Este ano, com três carros oficiais e o 908 HDi da Oreca, é eventualmente o claro favorito à vitória, face à Audi e o seu R15 TDi, que ainda sofre dos problemas de desenvolvimento. Provavelmente, a marca de Inglostadt terá de ter um plano para parar menos e poupar no combustível, e confiar na sorte para conseguir bater os carros de Sochaux, que correm em casa.
E para nós, portugueses, é uma edição importante, pois pode ser este ano que poderemos ter um os nossos na galeria dos vencedores. Pedro Lamy é um dos pilotos que está a bordo do carro numero 3, aquele que conseguiu a "pole-position" para a edição deste ano. Ele, em conjunto com os franceses Sebastien Bourdais (um nativo de Le Mans) e Simon Pagenaud, tem a experiência de onze edições, onde em algumas delas teve classificações honrosas. No ano passado, um estúpido acidente nas boxes, no final da primeira hora, estragou as possibilidades, pois perdeu 30 minutos a dar a volta com um pneu furado e danos no eixo traseiro. No final, acabou em sexto, mas a frustração foi grande.
E na classe LMP2, o pessoal da Quifel ASM vai ter de confiar na sorte para apanhar os outros carros da sua classe, os HPD baseados os Acura da ALMS, que monopolizaram os tempos. De facto são os carros a bater, mas uma prova de 24 horas é Endurance e nunca uma corrida de Sprint.
Enfim, dentro de algumas horas começará a prova mais interessante do mundo. O teste de todos os testes, digamos assim. E este ano acontece numa coincidência trágica do automobilismo: o 55º avinversário do acidente que matou o piloto Pierre Levegh e mais oitenta espectadores. Uma tragédia que mudou a maneira de ver o automobilismo...
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