Piloto que anda em casa, tem quase a obrigação de andar nos lugares da frente, lá isso é certo. Mas sabendo eu que Bruno Magalhães tem um Peugeot 207 S2000, um carro que este ano está a ser desafiado pelo Skodia Fabia e pelo Ford Fiesta S2000, vê-lo como vencedor é um feito que deve ser celebrado. Especialmente nas circunstâncias que foi.
Primeiro que tudo: Bruno dominou o rali desde o inicio, contra os Skodas de Juho Hanninen e Jan Kopecky, que nunca estiveram longe de Magalhães. Dominou no primeiro dia, mas no segundo dia, o de hoje, os problemas que lhe afligiram o colocaram em perigo de deitar tudo a perder. Mas a Dama Sorte esteve com ele.
Primeiro, os problemas começaram quando Bruno Magalhães viu o seu Peugeot 207 S2000 apresentar problemas ao nível da caixa de velocidades, perdendo quase 20 segundos para Juho Hanninen, que vinha ao ataque no seu Skoda. Magalhães chegou a perder o primeiro lugar a favor de Hanninen, mas aqui, as coisas viraram-se a favor do português, quando o piloto da Skoda teve um furo que o fez atrasar em mais de um minuto.
Quem aproveitou foi o checo Jan Kopecky, que ficou na frente e conseguiu uma vantagem de 6,4 segundos à entrada do úlimo troço, em que tudo se iria decidir quem seria o vencedor do Rali dos Açores. com os problemas que tivera e com a superioridade dos Skoda, as hipóteses eram diminutas. Mas existiam.
Sem muito a perder, Magalhães partiu ao ataque, pressionando Kopecky para que este cometesse um erro. E não é que aconteceu? O checo saiu de estrada na última especial e Bruno Magalhães tornou-se no primeiro português a ganhar este ano o Mundial IRC de 2010, um feito impar na história desta competição. E ainda por cima, é um dos cinco pilotos que está a fazer toda a temporada, uma de aprendizagem para o piloto de 30 anos recém-completados no passado dia 10. "É incrível, um grande obrigado ao público, esta vitória é para eles. Foi impressionante ver toda a gente de braços no ar a apoiar-me. Um obrigado também à minha equipa. Nós merecíamos esta vitória", afirmou o piloto bastante emocionado.
Em jeito de conclusão, foi uma bofetada de luva branca aos que diziam que Bruno Magalhães não ser um piloto que deveria estar ao nivel de pilotos como Chris Meeke ou Juho Hanninen, por exemplo. Esquecem-se que Magalhães está a fazer o seu primeiro ano internacional, depois de três temporadas a vencer tudo em Portugal, e como seria de esperar, neste primeiro ano, o importante é acabar as corridas em posições pontuáveis, sem forçar muito o ritmo, para conhecer os troços e ganhar experiência internacional.
Os que cospem no ar, nos seus achismos de "campeões da Playstation", que julgam que a unica maneira de andar nos ralis é sempre a fundo, ao melhor estilo de Colin McRae sem miolos, hoje estão calados, e bem calados. Ou ainda estão em choque por aquilo que aconteceu, ou então a morder a lingua até quase ao sangue por verem que afinal, ele pode vencer corridas. Ou ainda, como não tem cérebro, poderão estar a aplaudí-lo, esquecendo os disparates que disseram na véspera...
Enfim, esses broncos não me interessam. Hoje, comemoremos um excelente dia para os pilotos portugueses de ralis, e que de uma certa maneira, somos tão ou mais capazes que os estrangeiros. Ainda bem. E parabéns, Bruno!
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