Em 1975, a Tyrrell manteve o 007, modificando-o ao longo da época, com o objectivo de o manter competitivo. Contudo, na argentina, o carro tinha problemas de dirigibilidade e não foi além do oitavo lugar na grelha, acabando no quinto lugar. No Brasil, o fim de semana acabou na 32ª volta, quando uma fratura causada pela fadiga do metal o fez parar nas redes de protecção, quando andava no quinto posto.
A seguir veio o fim de semana sul-africano, e os Tyrrell estiveram muito bem, com Jody Scheckter a ganhar em casa e Patrick Depailler a acabar no terceiro lugar, num carro reconstruido. Em Montjuich, foi um dos piltotos envolvido nos vários acidentes que aconteceram no fim de semana catalão, e no Mónaco fez uma impressionante corrida, que terminou no quinto posto, partindo de oitavo, e pelo meio fez algumas manobras no mínimo polémicas, entre elas uma ultrapassagem “musculada” a James Hunt, que o fez para aos rails de protecção, algo que, claro, deixou o inglês furioso.
Entretanto, entre os fins de semana espanhol e monegasco, Depailler recebeu o convite para correr numa corrida de Formula 2 em Magny Cours. De onde terminou no segundo lugar, mesmo atrás de Jean-Pierre Jabouille. Após o fim de semana monegasco, novo convite, desta vez para correr em Pau, onde acabou em terceiro, num pódio totalmente francês, com Jaboille a vencer e Jacques Laffite na segunda posição.
Após isto, voltou à Formula 1 para correr em Zolder, onde foi quarto classificado, com o seu companheiro Scheckter no segundo lugar, e na Suécia, depois de na qualificação ter ficado em segundo na grelha, um problema com os travões o fez perder duas voltas e a acabar no 12º lugar. Em Zandvoort teve outro problema semelhante, um toque entre ele e o March de Vittorio Brambilla, que o fez cair para o nono lugar final.
Após a corrida holandesa, ambos os pilotos foram convocados pela Alpine, cada vez mais em conjunto com a Renault, que experimentava o modelo A442 nos Sport-Protótipos. Ambos foram correr os 1000 km de Zeltweg, na Áustria, onde deram nas vistas, especialmente Depailler, que se deu imensamente bem à chuva e liderava confortavelmente quando o entregou ao sul-africano. Contudo, algumas voltas depois, problemas elétricos o fizeram encostar às boxes. Algumas semanas mais tarde, ambos os pilotos iriam alinhar nas Seis Horas de Watkins Glen, mas os dois pilotos não iriam longe, pois o motor Renault rebentou após… três voltas. Depailler nem sequer sentou no banco.
Depois destas experiências nos Sport-Protótipos, Depailler correu em três provas de Formula 1, França, Grã-Bretanha e Alemanha onde no final somente conseguiu um ponto em Silverstone. No Nurburgring, Depailler teve uma exibição de gala, perseguindo Niki Lauda durante mais de nove voltas ao Nordschelife, até que uma falha na suspensão o fez cair para o 13º posto final. Em Zeltweg, acabaram por ser problemas na coluna de direcção que o fizeram cair para o 11º lugar. Em Monza, terminou no sétimo posto, a pressionar o McLaren de Emerson Fittipaldi até que um despiste o fez acabar fora dos pontos, enquanto que em Watkins Glen, a corrida terminou com uma colisão com o Brabham de Carlos Reutemann. No final da temporada, Depailler não conseguiria mais do que 12 pontos e o nono lugar do campeonato.
A temporada de 1975 não tinha sido boa para a Tyrrell, que tinha apenas conseguido uma vitória em Kyalami, e a equipa tinha de pensar num novo projecto para 1976, no sentido de o colocar de novo no rumo das vitórias. Assim sendo, Derek Gardner, o projectista, decidiu elaborar um plano radical para solucionar o eterno problema da subviragem e respectiva falta de aderência na parte da frente dos carros. A solução da Tyrrell foi o Projecto 34, um radical carro de seis rodas.
O conceito foi apresentado em Outubro de 1975, e era tão radical que muitos duvidariam que tal ideia iria resultar. Ao longo do Inverno, quer em Silverstone, quer em Paul Ricard, a Tyrrell andou a experimentar o novo carro, graças às capacidades de desenvolvimento adquiridas por Depailler nos seus tempos da Alpine. Scheckter era um cético do carro, mas Depailler era exactamente o contrário. Em relação a ele, afirmou: “Eu estava ligado ao carro, pois para mim era como se fosse uma criança grande, com as suas qualidades e falhas, e era a expressão de uma grande ideia”. Depailler iria ser o único piloto que iria usar o carro durante os 30 Grandes Prémios que o modelo rodou, nas temporadas de 1976 e 77.
Mas nas primeiras três corridas do ano. Scheckter e Depailler iria usar ainda o 007, e o francês começou muito bem a temporada. No Brasil, nessa temporada a primeira prova do ano após o cancelamento do GP da Argentina devido a problemas económicos e políticos, Depailler fez uma excelente corrida em Interlagos, acabando no segundo lugar, a 21 segundos do vencedor, o austríaco Niki Lauda. Em Kyalami, um desentendimento com o March de Vittorio Brambilla o fez acabar no nono posto da classificação.
Em Long Beach, um novo lugar no calendário dos Grandes Prémios, problemas elétricos quase o arruinaram o fim de semana. Quando foi para a pista para marcar um tempo qualificativo, Depailler só tinha tempo para duas voltas. Deu o seu melhor, baseando-se no seu à vontade em pistas citadinas, e conseguiu o suficiente para o segundo lugar da grelha de partida.
Na corrida, com o suiço Clay Regazzoni a largar no comando, Depailler era segundo com James Hunt a assediar o seu posto. Na terceira volta da corrida, um incidente iria marcar o fim de semana, quando Hunt o tentou passar numa das curvas em cotovelo… por fora. Depailler atravessou o carro sem querer, e Hunt foi contra o muro, abandonando a corrida ali mesmo. Hunt estava convencido que Depailler o tinha empurrado deliberadamente, e protestou brandindo o seu punho sempre que o francês passava por ali. No final, Depailler acabou a corrida em terceiro, depois de um despiste o ter feito cair para o sétimo lugar.
Na conferência de imprensa após a corrida, Hunt apareceu de rompão, acusando o francês de o ter empurrado deliberadamente. Depailler lamentou, mas defendeu a sua inocência, e quando os mecânicos foram ver o McLarenm descobriram que este estava intacto. Aliás, bastava Hunt ter voltado a ligar o botão de relargada para ter prosseguido na corrida, coisa que não o fez.
Em Jarama, Depailler finalmente estreou o P34, com muitos ainda a duvidarem das capacidades do bólido. Depailler, que testou o carro ao longo de todo o Inverno, queria provar a todos que estavam enganados, e na qualificação conseguiu o terceiro tempo. Contudo, na volta 26, quando seguia no terceiro posto, uma falha nos travões o fez parar nas redes de protecção, acabando por ali a sua corrida.
Em Zolder, um segundo P34 estava pronto, e Depailler, que se qualificara em quarto lugar, rodava nessa posição quando o seu motor rebentou, na 30ª volta. No Mónaco, o carro se dava bem nas ruas apertadas do Principado e foi quarto na grelha, e na corrida estava em terceiro quando começou a ter problemas num dos braços da suspensão, que o fez ter problemas de direcção. Deixou passar o seu companheiro Scheckter, mas acabou no terceiro posto, o terceiro pódio do ano.
E em Anderstorp, palco do GP da Suécia, a Tyrrell teve o seu fim de semana de sonho, com Scheckter como vencedor e Depailler em segundo. O sul-africano esteve superior ao longo de todo esse fim de semana, e o francês completou a dobradinha. Pela primeira vez na história da Formula 1, um carro de seis rodas saia vencedora de uma corrida. Os bons resultados prosseguiram em Paul Ricard, onde foi segundo, atrás de James Hunt e nesta altura era segundo classificado, com 26 pontos, os mesmos de Hunt. Mas nas quatro provas seguintes, Grã-Bretanha, Alemanha, Áustria e Holanda, não conseguiu marcar qualquer ponto. Só voltou a isso em Monza, onde terminou a corrida na sexta posição.
Em Mosport, palco do GP do Canadá, Depailler voltou á boa forma do seu P34, num duelo com James Hunt pela liderança, onde o Tyrrell era um pouco melhor do que o McLaren em certas partes do circuito. O francês deu o melhor para apanhá-lo, mas na parte final, teve de pensar mais em levar o carro até ao fim, conseguindo o segundo lugar e o sexto pódio do ano. Pelo caminho, conseguiu a volta mais rápida.
E a razão pelo qual teve de pensar nisso era porque estava intoxicado pelos vapores de combustível largados de uma fenda no seu carro. Estava entorpecido, quase à beira da inconsciência, e mal atravessou a linha de chegada, encostou o seu carro e quase colapsou no meio da pista. No final, foi mais o instinto e a determinação que o mantiveram a andar até à linha de chegada. Mais um exemplo da sua personalidade.
Em Watkins Glen, Depailler teve um incidente nos treinos, quando seguia atrás de Hunt. Um elemento do McLaren soltou-se e atingiu o seu carro no lado esquerdo, danificando-o. Depailler, abalado mas não perdendo o bom humor, foi ter com ele às boxes e afirmou: “Sei que não gostas de mim, mas não é preciso atirares coisas contra o meu carro!” Na corrida, partindo do sétimo posto, desistiu na volta oito com uma rotura no tubo de combustível.
Para finalizar, no GP do Japão, no circuito de Mont Fuji, a corrida foi disputada sob forte chuva e péssimas condições de pista. O inicio teve de ser adiado por uma hora e quando aconteceu, Depailler, que largava de um discreto 13º lugar da grelha, começou a subir paulatinamente na classificação, passando para o terceiro lugar na 22ª volta, altura em que parou de chover. Perdeu o terceiro lugar a favor de Tom Pryce, no seu Shadow, mas depois, recuperou-o quando este desistiu com um motor partido.
Depailler subiu na classificação, à medida que os da frente trocavam de pneus na pista que secava, e Depailler chegou à liderança na 62ª volta. Parecia que ia ganhar, mas oito voltas mais tarde, um furo na roda traseira esquerda o fez ir às boxes, caindo para o quinto lugar. Contudo, Hunt teve também problemas com os pneus e Depailler foi forte o suficiente para passar Clay Regazzoni e o Surtees de Alan Jones para chegar ao segundo posto, o sétimo e último pódio do ano.
No final do campeonato, Depailler conseguiu o quarto lugar, apenas atrás de Hunt, Lauda e do seu companheiro Scheckter. Até poderia ser um bom ano, caso não tivesse tido os problemas que teve na segunda metade. Mas ele e Scheckter conseguiram convencer os críticos que o modelo P34 era um excelente projecto, capaz de vencer corridas.
Entre as corridas na Tyrrell, na temporada de 1976, Depailler corria com o Alpine A442 da Renault no seu programa de Sport-Protótipos durante aquela temporada, ao lado do seu velho amigo Jabouille. Contudo, na primeira corrida da temporada, os 300 km de Nurburgring, em Abril, as coisas acabaram mal para ele, com um despiste à chuva, acabando por envolver o seu companheiro Jabouille. Para piorar as coisas, a direcção da Renault estava em peso no circuito alemão e não gostou muito de ver os seus carros eliminados nos primeiros metros. Resultado: Depailler foi suspenso por três corridas.
O piloto francês só voltou ao carro em Junho, por alturas das Quatro Horas da Coppa Florio. Fez a polé-position, mas abandonou, e em Agosto, correu nas Quatro horas de mosport, onde terminou na quarta posição. Depois fez os 500 km de Dijon, onde fez parelha com Jacques Lafitte e lutou pela vitória contra o Porsche 935 de Jacky Ickx e Jochen Mass, mas não o conseguiram, consolando-se com o segundo posto.
(continua)
Post Scriptum: recebi um comentário muito simpático de alguém que achou que o termo "comemorar", que usei para assinalar o 30º aniversário da morte de Patrick Depailler, seria ofensivo. Como é óbvio, foi uma mera má escolha de palavras da minha parte. Não se celebra a morte de alguém, apenas se comemora a vida e a carreira de um excelente piloto, prestando tributo a um piloto indomável e de espírito livre, algo que parece estar em vias de extinção por estes dias...
Post Scriptum: recebi um comentário muito simpático de alguém que achou que o termo "comemorar", que usei para assinalar o 30º aniversário da morte de Patrick Depailler, seria ofensivo. Como é óbvio, foi uma mera má escolha de palavras da minha parte. Não se celebra a morte de alguém, apenas se comemora a vida e a carreira de um excelente piloto, prestando tributo a um piloto indomável e de espírito livre, algo que parece estar em vias de extinção por estes dias...
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